A Terra tem uma Lua graças a… Júpiter

NASA’s Goddard Space Flight Center / Scientific Visualization Studio / Dan Gallagher

Durante a “grande instabilidade planetária”, o maior planeta do nosso Sistema Solar pode ter tido uma mão na monumental colisão que se acredita ter criado a nossa lua, verificou um estudo recente.

A monumental colisão que se acredita ter criado a Lua — um acontecimento cósmico que terá ocorrido entre 60 e 100 milhões de anos após o início do Sistema Solar — pode estar de mãos dadas com a “grande instabilidade planetária”, um grande evento que deixou Júpiter, bem como outros gigantes gasosos, a vaguear caoticamente pelo Sistema Solar.

Júpiter, o maior planeta do nosso Sistema Solar, poderá ter desempenhado um papel fundamental na formação da nossa lua, conclui um estudo publicado a 16 de abril na revista Science.

Historicamente, a grande instabilidade viu os gigantes gasosos, especialmente Júpiter, migrarem das suas posições originais, o que levou a perturbações orbitais significativas em todo o Sistema Solar. Esta migração está intimamente ligada a uma série de eventos cósmicos, incluindo aquele que provavelmente causou a formação da lua da Terra.

A nova hipótese sugere que os movimentos de Júpiter desestabilizaram a órbita de Theia, um protoplaneta do tamanho de Marte. Os investigadores acreditam que esta desestabilização precipitou a colisão de Theia com a Terra, lançando os detritos que eventualmente se aglutinaram para formar o nosso satélite natural.

A teoria é apoiada por estudos que ilustram as composições e origens de asteroides e cometas, que sugerem que o sistema solar primitivo foi um cenário de considerável tumulto, influenciado em grande parte pelas trajetórias migratórias dos planetas gigantes.

O enigma de como estes corpos celestes acabaram nas suas órbitas atuais centra-se na hipótese de a sua formação inicial ter ocorrido mais perto do Sol do que onde agora se encontram.

O “Modelo de Nice”, cujo nome deriva da cidade francesa onde foi desenvolvido, constitui a base da compreensão atual desta instabilidade orbital.

Este modelo associava originalmente a instabilidade a um período posterior da história do sistema solar, coincidindo com o Bombardeamento Pesado Tardio. No entanto, mudanças recentes no consenso científico colocam agora esta instabilidade muito mais cedo, possivelmente nos primeiros 100 milhões de anos de vida do sistema solar.

Este momento é crucial, uma vez que se alinha com o período de formação dos asteroides troianos de Júpiter, indicadores-chave dos padrões migratórios iniciais do planeta gigante.

O estudo centrou-se em meteoritos específicos conhecidos como condritos EL enstatite, cruciais para datar os acontecimentos da grande instabilidade porque a sua composição é muito semelhante à da Terra, sugerindo que tiveram origem na mesma região do sistema solar.

Surpreendentemente, estes meteoritos estão ligados à família de asteroides Athor, que se situam longe na cintura de asteroides, o que indica que foram deslocados pela mesma instabilidade que moveu Júpiter.

Utilizando simulações dinâmicas, os investigadores conseguiram mapear a forma como a migração de Júpiter pode ter atirado o progenitor da família Athor para a cintura de asteroides, 60 milhões de anos após a formação do sistema solar, momento consistente com a colisão entre a Terra e Theia, sugerindo uma ligação entre a viagem caótica de Júpiter e o nascimento da nossa lua.

“Sabemos que houve uma colisão gigante da proto-Terra com Theia, que tinha uma composição muito semelhante”, disse Chrysa Avdellidou, da Universidade de Leicester, ao Space. “A partir de estudos de amostras [da Lua] há estimativas de idade, enquanto outros colegas mostraram que esta colisão pode ter sido o resultado da instabilidade do planeta gigante.”

“Avdellidou conclui especificamente que o próprio Modelo de Nice — as órbitas dos planetas gigantes a ficarem loucas durante um curto período de 10 ou 20 milhões de anos — é a melhor e talvez a única altura para enviar asteroides para a região desta família específica de asteróides Athor”, disse Kevin Walsh do South-west Research Institute em Boulder, Colorado.

“O nosso estudo situou estes acontecimentos num período de tempo muito preciso”, disse Avdellidou. Embora possa não ser possível provar de forma conclusiva que Júpiter teve uma papel na formação da Lua, as provas são certamente sugestivas.

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