A teoria de que as pessoas ficam com a personalidade dos seus cães não é brincadeira

Jlantzy (Jamie Lantzy) / Wikimedia

Os cães tendem a ficar ciumentos quando os seus donos brincam com outros cães

Há a teoria de que muitas pessoas partilham semelhanças com os seus cães. Mas a ideia de que as pessoas e os cães se assemelham não é só uma piada.

Num artigo no The Conversation, a investigadora Renata Roma, da Universidade de Saskatchewan (Canadá) explica que a teoria de que muitas pessoas partilham semelhanças com os seus cães tem um fundo de verdade.

A investigadora, que estuda os aspetos da ligação humano–anima, baseia-se, ao longo do artigo, numa revisão publicada em fevereiro na ScienceDirect, que sintetiza conclusões de 15 estudos empíricos, que, por seu turno, investigaram semelhanças entre pares cão-humano, tanto em aparência como em personalidade.

No que diz respeito à personalidade, os resultados sugerem que os cães e os seus tutores podem ter traços paralelos, como níveis de extroversão, ansiedade e sociabilidade.

Até no físico se assemelham

Mais além, algumas pessoas parecem escolher cães que se assemelham fisicamente a elas, particularmente quando escolhem um cão de raça pura.

Curiosamente, parece haver ligação entre o comprimento do cabelo das mulheres e a preferência por cães com orelhas de comprimento semelhante, sendo que mulheres com cabelo curto tendem a preferir raças com orelhas curtas.

Outro estudo, de 2015, sugere que a semelhança entre tutores e os seus cães pode observar-se particularmente na zona dos olhos.

Outros estudos indicam uma correlação positiva entre o índice de massa corporal (IMC) dos donos e o grau de excesso de peso dos seus cães, possivelmente relacionado com um estilo de vida partilhado.

Noutro estudo, com 20 anos, um grupo de investigadores pediu a participantes que nunca tinham conhecido os pares cão-tutor que associassem fotografias de cães e dos seus tutores com base em semelhanças percebidas. Curiosamente, os participantes conseguiram fazer a correspondência correta da maioria dos pares cão-tutor.

Humano-humano e cão-humano

“Mas porque é que este fenómeno acontece?”, questiona Renata Roma.

Uma hipótese está relacionada com a nossa história evolutiva, uma vez que também tendemos a procurar pessoas com mentalidades semelhantes.

Em contextos evolutivos, estar em grupos coesos e previsíveis aumentava a cooperação e a sobrevivência. Estes padrões continuam a influenciar as nossas relações com os outros, favorecendo ligações com pessoas que parecem alinhar-se com os nossos valores, comportamentos ou até traços físicos. Aparentemente, mecanismos semelhantes influenciam a forma como nos relacionamos com cães.

Semelhanças também são observadas entre pessoas que vivem com cães de raça pura. Isto pode acontecer porque as pessoas tendem a escolher raças associadas a certos comportamentos, havendo mais previsibilidade e estabilidade comportamental em cães de raça pura devido às características padronizadas da raça.

Outras explicações para as semelhanças de personalidade podem estar ligadas a trocas emocionais entre pessoas e os seus cães, regulação mútua, reforço comportamental e aprendizagem por observação e imitação.

Por exemplo, as pessoas podem reforçar certos comportamentos nos seus cães como base nas suas próprias preferências ou rotinas, e por vezes isso pode nem ser intencional. Ao mesmo tempo, as trocas emocionais entre humanos e cães também podem moldar os estados emocionais de ambos ao longo do tempo.

Por outro lado, embora as semelhanças percebidas possam fortalecer a relação, essas perceções também podem moldar as expectativas das pessoas, levando-as a projetar características humanas nos seus cães, em vez de os verem como eles realmente são.

Além da semelhança: o que nos une

Mesmo quando as personalidades das pessoas e dos seus cães não são semelhantes, podem ainda assim ser perfeitamente compatíveis. Imagine um cão brincalhão e enérgico, a viver com alguém mais reservado ou introvertido.

A energia do cão pode incentivar a pessoa a ser mais ativa, o que pode conduzir a hábitos mais saudáveis como caminhar ou passar tempo ao ar livre.

Partilhar momentos de alegria, frustração ou até tristeza com um cão amado pode também proporcionar uma sensação de companhia e apoio emocional.

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