A Explosão Cambriana, há cerca de 541 milhões de anos, foi o momento em que a vida e os organismos realmente se instalaram no planeta Terra.
Agora, novas pesquisas revelaram como essa explosão de vida deixou vestígios nas profundezas do manto da Terra, segundo a Science Alert.
Para os cientistas, mostra a ligação entre a superfície da Terra e o seu interior, uma vez que os sedimentos que transportam material orgânico são empurrados para debaixo do solo, ao longo de grandes escalas de tempo geológicas (subducção).
O novo estudo, publicado a 4 de março na Science Advances, analisou rochas vulcânicas raras, cheias de diamantes, chamadas kimberlitos.
Quando são empurradas para a superfície, dizem-nos o que está a acontecer no fundo do manto, e os investigadores mediram a composição de carbono em 144 amostras recolhidas, em 60 locais de todo o mundo.
Uma opinião predominante entre os geólogos é que o carbono aprisionado no interior dos diamantes não varia consideravelmente, em grandes escalas de tempo, de centenas de milhões de anos.
No entanto, os investigadores encontraram uma mudança na proporção de isótopos específicos de carbono há cerca de 250 milhões de anos, por volta da altura em que os sedimentos da Explosão Cambriana teriam sido enviados para dentro do manto.
É uma mudança provavelmente causada pelas várias mudanças no ciclo do carbono, durante uma época em que a biosfera estava a aumentar em massa e diversidade.
“Estas observações demonstram que os processos biogeoquímicos à superfície da Terra têm uma enorme influência no manto profundo, revelando uma ligação entre os ciclos de carbono profundos e os superficiais”, escrevem os investigadores.
Esta ligação entre o ciclo do carbono próximo da superfície e o do subsolo mais profundo não tem sido fácil de medir — e mudou significativamente ao longo dos milhares de milhões de anos da Terra, em vez de se manter estável.
Parece, no entanto, que criaturas mortas presas em sedimentos encontraram o seu caminho para o manto, através da tectónica de placas.
Os seus restos de carbono permanecem misturados com outros materiais, antes de eventualmente atingirem a superfície, através de eventos como erupções vulcânicas.
A ligação foi confirmada por outras observações de estrôncio e háfnio nas amostras. Estas correspondem ao padrão de carbono, diminuindo o número de possibilidades de como as composições rochosas foram alteradas.
“Isto significa que a assinatura do carbono não pode ser explicada por outros processos, tais como a desgaseificação, porque de outra forma os isótopos de estrôncio e háfnio não estariam correlacionados com os de carbono”, explica a geoquímica Andrea Giuliani, da ETH Zurique na Suíça.
Tecnicamente, aquilo com que estamos a lidar aqui é o fluxo de subducção sedimentar, e estes detalhes do ciclo do carbono são importantes, para estarmos conscientes do que está a acontecer no nosso planeta — especialmente porque os efeitos da crise climática continuam a ser sentidos.
Novos estudos continuam a revelar mais sobre como o carbono é retirado e libertado de volta para a atmosfera, especialmente através da reciclagem contínua das placas tectónicas que compõem a superfície do planeta.
Os cientistas sabem que apenas pequenas quantidades de sedimentos são empurradas para as profundezas do manto, através de zonas de subducção, o que significa que vestígios da Explosão Cambriana devem ter seguido uma rota direta para as profundezas do manto.
“Isto confirma que o material rochoso subduzido no manto terrestre não está distribuído de forma homogénea, mas move-se ao longo de trajetórias específicas”, sublinha Giuliani.
“A Terra é realmente um sistema bastante complexo. E agora queremos compreender este sistema com mais detalhe”, concluem os investigadores.