A primeira cirurgia ao ouvido pode ter acontecido há 5.300 anos

Scientific Reports

Um crânio com 5.300 anos mostra sinais da primeira cirurgia ao ouvido. O procedimento primitivo teria sido muito semelhante às intervenções cirúrgicas ainda hoje realizadas.

Os seres humanos podem ter começado a realizar cirurgias aos ouvidos há mais de 5.000 anos, segundo investigadores espanhóis.

Segundo o The Jerusalem Post, foram encontradas sete marcas de corte perto do canal auditivo esquerdo de um crânio com 5.300 anos de idade.

Estas marcas são, diz o jornal, uma indicação de que um indivíduo com algum “conhecimento anatómico” realizou um procedimento cirúrgico primitivo, para aliviar possíveis dores de ouvido.

O crânio, segundo a análise, pertencia a uma mulher idosa, e foi encontrado entre outros restos mortais humanos de cerca de 100 pessoas em 2018, num grande túmulo mono-câmara conhecido como o Dólmen de El Pendón em Reinoso, Burgos, Espanha, datado do período Neolítico tardio.

Uma dólmen é um tipo de túmulo geralmente constituído por duas ou mais pedras monumentais, conhecidas como megalitas, que suportam uma grande pedra plana horizontal, criando uma espécie de lápide de mesa.

“Podemos dizer que certos indivíduos teriam atingido um grau de conhecimento e experiência anatómica como ‘curandeiros’ ou médicos em gestação, se quiserem, para terem sucesso neste tipo de cura primitiva“, diz Manuel Rojo-Guerra, do Departamento de Pré-História e Arqueologia da Universidade de Valladolid.

Juntamente com as investigadoras Sonia Díaz-Navarro e Cristina Tejedor-Rodríguez, fazem escavações no local desde 2016.

Os investigadores dizem que as provas de duas perfurações em ambos os ossos aéreos da mastoide, que protegem a delicada estrutura do ouvido, indicam que foi realizado um procedimento cirúrgico na mulher, possivelmente para aliviar a dor do ouvido interno que ela possa ter sofrido.

Não se sabe se os procedimentos foram realizados ao mesmo tempo, ou em ocasiões separadas, sublinham, mas o crescimento ósseo em torno da área indica que a mulher sobreviveu a ambos os procedimentos.

“Dada a cronologia deste dólmen, este achado seria a mais precoce intervenção cirúrgica do ouvido na história da humanidade“, dizem as investigadoras no seu estudo, publicado a 15 de fevereiro na Scientific Reports.

Observaram que a parede óssea que separava o canal auditivo do osso mastóide foi preservada em ambas as cavidades.

De acordo com os investigadores, o cirurgião pré-histórico primeiro teve de identificar a localização do problema — e provavelmente teria sido capaz de ver a infeção com os seus próprios olhos.

Depois, realizou o procedimento que através de uma “perfuração progressiva circular e abrasiva causando dores insuportáveis em condições normais“.

A mulher, de acordo com os investigadores, teve de ser segurada por outros membros da comunidade ou foi-lhe dado algum tipo de medicação primitiva para aliviar a dor ou mesmo perder a consciência.

Rojo-Guerra realçou que a descoberta de uma lâmina de pedra no túmulo, com vestígios de ter cortado osso e ter sido reaquecida várias vezes entre 300-350 graus, os leva a propor que tivesse sido utilizada como instrumento cirúrgico de cauterização para o procedimento.

Os médicos do Hospital Universitário da Universidade de Valladolid confirmaram que o procedimento teria sido muito semelhante às intervenções cirúrgicas que ainda hoje são realizadas para eliminar infeções do ouvido médio, disse ele.

Alice Carqueja, ZAP //

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