A Peste Negra pode não ter sido tão mortal como se acreditava

Equipa de investigadores procedeu a análises do pólen para tentar perceber de que forma as atividades agrícolas foram afetadas pela doença.

Afinal, a Peste Negra pode não ter sido tão mortal na Europa como se pensava anteriormente. Num novo estudo científico, liderado por investigadores do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana, estes analisaram amostras de pólen para determinar se, de facto, a doença vitimou metade da população europeia entre 1346 e 1352, um número há muito aceite pela comunidade académica.

A equipa avaliou amostras de pólen recolhidas em 261 locais em 19 países europeus, tendo em vista a examinação das alterações topográficas entre 1250 e 1450. Os autores explicaram que os grãos de pólen ‘duráveis’ podem durar séculos e diferem, em forma, entre plantas. Dizem, se metade da população europeia tivesse morrido durante a Peste Negra seria de esperar que se observassem mudanças nos grãos de pólen agrícolas para os das árvores e arbustos, à medida que os agricultores faleciam.

“Metade da força de trabalho desapareceria instantaneamente”, aponta o investigador e autor Adam Izdebski. “Não se podiam manter o mesmo nível de utilização da terra. Em muitos campos não se conseguiria continuar”.

No caso do sul da Suécia, do centro de Itália e da Grécia, são territórios nos quais se encontram esta tendência, ao passo que a Catalunha e a República Checa não evidencial qualquer alteração na composição da sua presença agrícola. No extremo aposto, áreas como a Polónia, os países do báltico e Espanha central registaram até um aumento na expansão agrícola.

Outra hipótese que os cientistas também colocam é a da Peste Negra variar regionalmente. O estudo sugere que, apesar de a forma que mais prevalente de contágio da doença ter sido através de picadas de pulga de ratos infetados, a superlotação dos espaços e as condições de insalubridade nas cidades medievais também contribuíram para a propagação acelerada da doença.

Estas novas descobertas são diretamente opostas às ideias anteriormente propagadas sobre o impacto da Peste Negra. Ole Benedictow, um dos principais historiadores sobre o tema, estimou que 65% da população europeia foi dizimada. Por essa ideia ser tão dominante, alguns investigadores recusam os resultados do novo estudo. John Aberth, afirmou ao The New York Times que, mesmo na Idade Média, a Europa era já um território altamente interconectado no que respeita a trocas comerciais, viagens e migrações. “É por isso que estou tão cético que toda estas regiões possam ter escapado.

Ainda assim, há também investigadores que confirmam que estes conclusões estão em linha com os seus próprios resultados.

Apesar de os investigadores não estarem atualmente em condições de a apresentar uma aproximação da percentagem da Europa que foi realmente afectada pela peste, ressalvam que mantêm os seus resultados. “Deve impedir-nos de fazer generalizações rápidas“, apontam, “sobre a propagação e o impacto da pandemia mais infame da história”.

ZAP //

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