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A moeda digital da China pode ser o futuro do dinheiro, mas levanta preocupações

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A moeda digital da China pode ser o modelo do futuro do dinheiro, mas levante preocupações relativamente à estabilidade da economia mundial.

A China está a registar um progresso promissor com os testes do yuan digital. O país anunciou o sucesso de um teste-piloto na cidade de Suzhou, perto de Xangai, no leste da China, onde 181.000 consumidores receberam ¥55 (sete euros) de dinheiro grátis em carteiras digitais para gastar nas lojas participantes do festival de compras Double Fifth entre 1 e 5 de maio.

Isto fez parte de um teste maior do Banco Popular da China visando 500.000 consumidores em 11 regiões chinesas desde abril. Para os elegíveis, existe uma aplicação que lhes dá uma carteira. Usando-a para fazer compras em milhares de lojas participantes, eles recebem descontos.

O yuan digital é uma versão da moeda chinesa normal, mas em blockchain, que é a tecnologia que sustenta moedas digitais como bitcoin e ethereum. No entanto, este blockchain é controlada, o que significa que o banco decide quem pode usá-lo.

A China também está a testar a fronteira digital do yuan entre Hong Kong e a vizinha Shenzhen, e está a desenvolver uma plataforma para tornar a moeda internacionalmente viável que envolve a Tailândia, os Emirados Árabes Unidos e o Banco de Pagamentos Internacionais.

Ainda nenhuma data foi anunciada, mas um lançamento nacional parece previsível nos próximos 12 meses, provavelmente em estágios escalonados.

Em contrapartida, os bancos centrais ocidentais como o Federal Reserve, o Banco de Inglaterra e, em menor medida, o Banco Central Europeu têm-se movido mais lentamente nas chamadas moedas digitais de banco central (CBDCs). Eles preocupam-se com coisas como obter a privacidade certa quando todas as transações estarão publicamente visíveis no blockchain e com o efeito sobre os bancos comerciais.

No entanto, um yuan digital levanta questões profundas sobre a estabilidade financeira global. A questão para as outras grandes economias do mundo é como responder.

Vantagens das moedas digitais

O yuan digital já é legal. Os pagamentos que o utilizam são fundamentalmente diferentes daqueles em plataformas de pagamentos como Alipay ou WeChat (ou até mesmo PayPal no ocidente).

Estes serviços podem liquidar transações muito rapidamente para os clientes, mas nos bastidores há registos de um grande número de transações entre os bancos dos compradores e vendedores e, muitas vezes, também bancos intermediários que liquidam horas ou mesmo dias depois.

O yuan digital contorna a necessidade destes bancos. Não há taxa de serviço, ao contrário destas alternativas de pagamento e, em teoria, a velocidade dos pagamentos pode ser ainda mais rápida.

Ao contrário de criptomoedas como a bitcoin, a moeda também é apoiada por um Governo. Isto significa que a emissão de yuan digital é o mesmo que a emissão de dinheiro em circulação, tornando-a igualmente segura. Dá ao Governo mais controlo sobre o fornecimento de dinheiro, já que, ao contrário do dinheiro vivo, os funcionários podem ver todas as transações a ocorrrer a qualquer momento.

Três perigos

Muitos bancos centrais têm procurado desenvolver moedas digitais. Alguns, como Japão e Coreia do Sul, não ficam muito atrás dos chineses. A UE está a sinalizar que um euro digital pode demorar quatro ou cinco anos.

Para os retardatários, existem vários perigos. O primeiro é sobre pagamentos internacionais. Atualmente, a maioria das transações entre moedas diferentes usa o dólar americano como intermediário.

Isto significa uma demanda considerável pelo dólar americano, o que traz vantagens como permitir ao Governo dos Estados Unidos oferecer empréstimos mais baratos. Em 2019, por exemplo, só a China exportou bens no valor de 110 milhões de euros.

As transações que usam o yuan digital não precisam do dólar. Cerca de 120 países têm a China como o seu maior parceiro comercial, e muitos questionam o acordo em dólares, pois isso adiciona o risco financeiro desnecessário de movimentos adversos da taxa de câmbio.

A China afirma que não está a tentar substituir o dólar pelo yuan digital e que o “objetivo é permitir que o mercado escolha” como fazer as transações internacionais.

Um segundo perigo é que, se os bancos centrais não atenderem à demanda por dinheiro digital, as forças de mercado o farão. O papel-moeda está a tornar-se rapidamente redundante. Os cartões de crédito contactless tornaram-se omnipresentes durante a pandemia. O dinheiro digital é ainda melhor porque custa menos para usar.

E o terceiro perigo é que os países que não adotarem as moedas digitais podem descobrir que os seus bancos centrais perdem o controlo sobre a política monetária para criptomoedas.

Por outras palavras, se estas moedas não soberanas se tornarem amplamente utilizadas para fins de pagamento, os bancos centrais terão mais dificuldade em administrar as suas economias fixando taxas de juros ou alterando a oferta da moeda. Claro, é possível banir as criptomoedas, mas isso impede o progresso e todas as vantagens que elas trazem.

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