Uma invenção revolucionária que poderia deixar o mundo mais seguro. Assim foi definido o starlite, material resistente ao fogo e a altas temperaturas, cuja fórmula permanece desconhecida – e poderá estar perdida.
O material foi criado pelo inventor amador britânico Maurice Ward, um ex-cabelereiro apaixonado por ciência, que deu os primeiros passos para a concepção da invenção em meados dos anos 1980.
Tudo começou após uma tentativa mal sucedida de Ward de produzir capôs de plástico para a Citröen. As peças foram trituradas e deitadas ao lixo, e ficaram esquecidas até 22 de agosto de 1985. Nesse dia, um avião com destino à ilha grega de Corfu incendiou-se após a descolagem, em Manchester, Inglaterra, matando 55 pessoas.
O acidente chamou a atenção de Ward, que se propôs a criar um material capaz de resistir a altas temperaturas. Ward começou a fazer experiências misturando e fundindo o material que tinha deitado ao lixo.
Ward testou diferentes fórmulas e foi descartando as que não davam certo, até que obteve um material que, ao ser aquecido, resistiu a uma temperatura de 2.500 °C. Ainda mais impressionante, manteve-se frio ao toque.
Em 1990, a invenção chegou à televisão. No programa da BBC Tomorrow’s World, o apresentador Peter McCann colocou um ovo coberto com starlite sob a chama de um maçarico. O material não emitiu nenhum fumo tóxico, e o ovo não ficou cozido: ao ser aberto, estava cru. O starlite tinha isolado completamente o ovo do calor do fogo.
Outros testes mais sofisticados e rigorosos confirmaram o potencial da invenção, cujo nome, starlite, foi dado pela neta do inventor, Kimberly. Por algum motivo, os testes continuaram a envolver ovos.
O Departamento de Armas Atómicas do Reino Unido revestiu um ovo e submeteu-o a uma exposição de radiação nuclear, com uma temperatura equivalente a 10.000 °C, e os resultados foram impressionantes. Enquanto muitos materiais evaporavam ao passar dos 2.000 °C, o starlite mantinha-se intacto.
Em 1991, uma amostra do material foi submetida a um ataque atómico, numa área de testes nucleares, no Novo México, nos Estados Unidos. Outro teste, realizado no Reino Unido, mostra que o starlite resistiu a uma força equivalente a 75 bombas de Hiroshima.
Os resultados despertaram o interesse da agência espacial norte-americana NASA, e de empresas como a British Aerospace e a Boeing. Mas nenhuma negociação com Ward para comercializar a fórmula rendeu frutos.
Relatos da época indicam que Ward impunha condições excessivas para negociar o starlite. O inventor queria, por exemplo, manter 51% da propriedade. Além disso, exigia que quem quisesse ser seu sócio assinasse um acordo comprometendo-se a não plagiar a fórmula, ou tentar descobri-la a partir do exame do material e seus componentes.
Maurice Ward morreu em 2011 sem ter comercializado ou patenteado a sua descoberta, e a sua fórmula “mágica” ficou perdida para sempre – ou talvez não. Na altura, Ward dizia que além dele, outro membro da sua família conhecia a fórmula do startlite.
Não são poucas as empresas que procuram o misterioso membro da família de Ward que conhece a fórmula. Mas até hoje, a identidade dessa pessoa é desconhecida – e tudo indica que a fórmula do plástico mais resistente do mundo está perdida para sempre.
Já alguém se lembrou de perguntar a Kimberley Ward?
ZAP // BBC