A evolução do mercado de trabalho deixa os portugueses mais pobres e excluídos

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A Cáritas Portuguesa denunciou os níveis elevados de pobreza e exclusão extremas que subsistem em Portugal, apontando como causa direta a evolução do mercado de trabalho.

A pobreza e a exclusão extremas subsistem em Portugal e são responsabilidade da evolução do mercado de trabalho.

A conclusão é de um estudo da Cáritas Portuguesa, que refere que mais de meio milhão de portugueses estão em privação material severa.

“Pobreza e Exclusão social em Portugal: uma visão da Cáritas” vai ser apresentado na próxima terça-feira, dia 27, e marca a primeira edição de um trabalho realizado no âmbito do Observatório Cáritas. “Tem por base a análise dos indicadores oficiais do INE e a leitura do Observatório da Cáritas sobre esta realidade”, é explicado.

A avaliação da Cáritas incide sobre “os mais vulneráveis da sociedade” e o relatório, que terá uma periodicidade anual, centra-se “nas situações de pobreza mais severa”.

Segundo a Cáritas, “Portugal é um país onde subsistem níveis elevados de pobreza e exclusão extremas”, tendo por base os dados do INE segundo os quais em 2023 “mais de 500 mil indivíduos viviam numa situação de privação material e social severa”.

De acordo com a organização pertencente à Igreja Católica, “em 2023, ainda havia 241 mil pessoas sem possibilidade de ter uma alimentação adequada, 712 mil sem capacidade de comprar roupa nova, um milhão sem capacidade de gastar uma pequena quantia consigo mesmo, mais de 2 milhões sem capacidade de manter a casa devidamente aquecida”.

Sublinha que o país “ainda está muito longe de erradicar a pobreza e exclusão extremas e de convergir para os países com melhor desempenho a nível europeu” e afirma que entre 2019 e 2023 não houve progressos significativos no combate à pobreza mais extrema em Portugal.

“Em várias dimensões a situação até se deteriorou. O aumento do número de pessoas em situação de sem-abrigo ou sem capacidade de manter a casa aquecida são disso exemplos claros”, lê-se no relatório.

O que traz as disparidades?

Para a Cáritas, essa situação contrasta com “a melhoria substancial observada entre 2015 e 2019 na generalidade dos indicadores de pobreza severa” e dá como exemplo o facto de nesses anos 550 mil pessoas terem deixado de viver numa situação de privação material e social severa, enquanto entre 2019 e 2023 esse número foi de 64 mil pessoas.

“Esta disparidade não deve ser atribuída diretamente à pandemia de 2020-21. A causa mais direta que explica o comportamento distinto na evolução da pobreza severa nestes dois períodos é a evolução do mercado de trabalho”, considera a Cáritas.

De acordo com a confederação, o número de pessoas em situação de subutilização do trabalho – desempregados ou desencorajados – “é um bom indicador para este efeito”.

Nesse sentido, refere que entre 2015 e 2019 diminuiu em 470 mil o número de pessoas em subutilização do trabalho, “o que compara com uma diminuição de apenas 44 mil entre 2019 e 2023”.

Há cada vez mais sem-abrigo

Por outro lado, a Cáritas sublinha que as estatísticas oficiais “subestimam a magnitude da pobreza e exclusão em Portugal” porque como têm por base inquéritos feitos junto de agregados familiares, “não captam as situações daqueles que não vivem em residências habituais”, como as pessoas em situação de sem-abrigo, os reclusos ou as pessoas que vivem em alojamentos temporários.

Especificamente em relação às pessoas em situação de sem-abrigo, a Cáritas diz que o número tem “aumentado acentuadamente no passado recente” tendo por base não só o aumento no número de pedidos de apoio a este organismo, como pela “mera observação das ruas das grandes cidades”.

A Cáritas defende, por isso, que são necessárias políticas mais exigentes e mais direcionadas aos segmentos mais vulneráveis da população e que estas políticas “terão de partir da realidade vivida pelos pobres”.

“Este combate será bem-sucedido se for encarado como um verdadeiro desígnio nacional, tal como preconizado na Estratégia Nacional de Combate à Pobreza 2021-2030”, conclui.

// Lusa

3 Comments

  1. Ó Rui,
    A “minha” esquerda tem apoiado os que pedem, até mesmo antes de pedirem.
    já a tua direita, chama-lhes piegas e acusa-os de viverem acima das suas pissubiludades.

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