Uma dupla de investigadores realizou uma análise filogenética a contos de fadas comuns e descobriu que muitos deles parecem ser muito mais antigos do que se acreditava até agora.
Num artigo publicado na Royal Society Open Science, a cientista social Sara Graça da Silva, folclorista que actua na Universidade Nova de Lisboa, e Jamshid Tehrani, antropólogo da Universidade de Durham, no Reino Unido, descrevem o estudo linguístico que realizaram.
Os investigadores acreditam que pelo menos um dos contos de fadas estudado teve mesmo as suas origens na Idade do Bronze.
Os contos de fadas são populares em todo o mundo, e alguns chegaram a atravessar várias sociedades. A Bela e o Monstro, por exemplo, foi contado de uma forma ou outra em todo o mundo.
Linguistas e antropólogos modernos dataram a origem da maioria dos contos de fadas como sendo pouco antes do momento em que foram escritos – ou seja, teriam várias centenas de anos de idade.
Porém, o que a nova pesquisa sugere é que eles são na realidade muito mais velhos do que isso, e alguns terão milhares de anos de idade.
Para chegar a estas conclusões, os investigadores aplicaram uma técnica normalmente usada na biologia, e construíram árvores filogenéticas para rastrear atributos linguísticos dos contos até à sua origem.
A equipa de investigadores começou por analisar 275 contos de fadas, todos baseados em histórias de magia, e chegaram a apenas 76 histórias básicas.
As árvores foram, então, construídas com base em línguas indo-europeias, algumas das quais já extintas.
Ao fazê-lo, os investigadores encontraram provas de que alguns contos de fadas, como João e o Pé de Feijão, tinham raízes em outras histórias, e poderiam ser rastreados até à época em que as línguas indo-europeias ocidentais e orientais se separaram, há cerca de 5 mil anos atrás.
Isso significa, naturalmente, que tais contos são anteriores à Bíblia, por exemplo, ou mesmo aos mitos gregos.
Os investigadores colocaram factores de confiança em resultados diferentes, dependendo de quão sólidas as árvores puderam der construídas – algumas eram, obviamente, menos claras do que outras.
Mas um conto de fadas em particular, segundo os cientistas, era muito claro. Chamado O Ferreiro e o Diabo, este conto remonta a cerca de 6 mil anos atrás, à Idade do Bronze.
Curiosamente, Wilhelm Grimm, um dos famosos irmãos Grimm, que publicou muitos contos de fadas em 1812, dizia acreditar que os contos tinham muitos milhares de anos.
Esta afirmação foi, pouco tempo depois, desacreditada pelos estudiosos da época.
300 anos depois, Sara Graça da Silva e Jamshid Tehrani provaram que Grimm tinha razão.
ZAP / HypeScience