Um antigo dirigente do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) admitiu esta quinta-feira em tribunal que os serviços secretos passam informações classificadas a empresas portuguesas com negócios no estrangeiro, sempre que a sua atividade seja considerada estratégica para os interesses do país.
As declarações foram feitas esta quinta-feira por Heitor Romana, antigo chefe de estação do SIED em Moscovo, que é testemunha no julgamento de Jorge Silva Carvalho, o ex-super espião acusado de controlar registros telefónicos do jornalista Nuno Simas e que responde pelos crimes de violação do segredo de Estado, abuso de poder e corrupção.
De acordo com o Público, que cita o depoimento do antigo dirigente, a atividade das empresas pode nem sequer ser considerada estratégica e a entidade ser convidada, ainda assim, a colaborar com as secretas, colocando elementos em países estrangeiros onde é preciso recolher informações.
Heitor Romana, professor universitário de geoestratégia e membro do conselho consultivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse aos juízes que há autonomia da parte dos diretores de serviço para determinarem que empresas é que podem ser usadas para essas finalidades.
“É a lógica do win-win: se percebem que têm vantagens nisso as empresas acolhem o agente secreto”, descreve Heitor Romana, atual professor catedrático e antigo conselheiro da embaixada portuguesa na Rússia – designação que, de acordo com o Público, ocultava a sua verdadeira missão de oficial de ligação entre os espiões de Lisboa e os de Moscovo.
“As firmas podem, por seu turno, ser úteis a atividades que os serviços de inteligência queiram desenvolver”, descreve o ex-dirigente, que trabalhou diretamente com dois dos arguidos do chamado processo das secretas, Jorge Silva Carvalho e João Luís.
O antigo diplomata exemplificou, sem usar casos concretos, uma eventual necessidade de os serviços recolherem informações num país com focos de terrorismo: “Pode pôr-se alguém a trabalhar numa empresa de andaimes” portuguesa, sugeriu.
“Vejo com muita perplexidade que se entreguem relatórios internos dos serviços a uma entidade privada, mas vejo como razoável que esses dados possam ser transmitidos por outros meios – através de papéis não timbrados, por telefone ou oralmente“, assumiu. Este trade-off é uma prática comum”.
Heitor Romana salientou que o que estava a explicar estava em dezenas de livros sobre as secretas e acessíveis ao público em geral, descrevendo que as fontes dos espiões podem receber algo em troca das informações.
Estas ofertas poderiam ir desde dinheiro a favores de, por exemplo, colocar um filho numa determina faculdade, ou até computadores ou máquinas fotográficas. A coação das fontes com recurso a chantagem também pode ser uma pratica dos espiões, em casos em que as fontes não queiram colaborar de forma voluntária.
Em 2010, por ordem de Silva Carvalho – que dirigia na altura o Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) -, Heitor Romana ajudou as secretas a recolher informações sobre dois empresários russos alegadamente próximos de Vladimir Putin.
O grupo Ongoing avaliava na altura a possibilidade de entrar com os russos no negócio de exploração de um porto grego, e de acordo com o Ministério Público Silva Carvalho colocou ao serviço dos interesses da empresa os recursos dos serviços secretos, com o objetivo de ser contratado pela Ongoing com um salário muito superior ao que auferia no SIED – o que acabou por acontecer.
Quanto ao relatório que ajudou a fazer sobre os russos, e que disse ignorar a que se destinava, Heitor Romana mostrou dúvidas sobre a sua utilidade: “Tecnicamente não estava bem feito. Faltava-lhe pimenta”, cita o Público. “Não continha uma informação fundamental: o perfil empresarial dos indivíduos”.
ZAP
Caso Secretas
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xibaria
Estas declarações foram feitas em tribunal, numa sessão aberta ao público. Só assim se sabe tanto deste trabalho de espionagem!
É o que se passa em qualquer país… Potenciar recursos! Trabalham pagos pelo contribuinte e certo tipo de informação deve ser partilhada no interesse da “diplomacia” económica (empresários ligados à exportação) apenas se exige que o seja de forma regulada e não ao serviço de “luvas”.
É por isso que os negócios de empresas portuguesas vendidas, vão tão bem…. eles antes de comprarem já sabem tudo…
Você aparentemente nem leu ou se sim não faça que entende! Melhor, leia e releia… Talvez, por fim, conclua que independentemente do toucado, do comprimento das unhas ou do nariz, por mais esvoaçante que seja o manto negro, nenhuma vassoura montada voa!