A capa de gelo da Antártida derreteria se se queimassem todas as reservas disponíveis de combustíveis fósseis da Terra, o que se traduziria por uma subida do nível dos oceanos entre 50 a 60 metros.
A conclusão foi avançada por um estudo publicado na revista Science Advances.
O estudo, desenvolvido por uma equipa de investigadores do PIK – Instituto de Postdam para a Investigação do Impacto Climático, na Alemanha, e da Universidade de Stanford, nos EUA, assinala que a contribuição da Antártida para o aumento do nível do mar poderia limitar-se a alguns metros, que pode ser gerível, se o aquecimento global não superar os dois graus centígrados.
Superar esse limiar do aquecimento global até 2100 em relação ao período anterior à Revolução Industrial significaria a desestabilização do continente gelado, o que levaria as águas e mudaria o perfil das regiões costeiras de todo o mundo.
Este fenómeno “não aconteceria da noite para o dia, mas é alucinante que as nossas ações de hoje estejam a mudar o planeta Terra como o conhecemos e continuem a fazer-se sentir durante dezenas de milhares de anos”, advertiu a cientista Ricarda Winkelmann, investigadora do PIK.
“Se queremos evitar que a Antártida perca todo o gelo, é necessário que mantenhamos o carvão, o petróleo e o gás debaixo de terra“, acrescentou a investigadora, que indicou que “o risco no longo prazo aumenta com cada décima de aumento do aquecimento global adicional”.
Através do uso de cada vez mais energia fóssil “aumentamos o risco de causar mudanças que não seremos capazes de parar ou reverter no futuro”, acentuou Alders Levermann, coautor do estudo.
Com efeito, assinalou, a camada de gelo da Antártida ocidental “poderia ter entrado já numa fase de perda de gelo imparável“.
Para realizar o estudo, os cientistas calcularam as emissões de gases com efeito de estufa resultantes da queima de carvão e petróleo.
Desta forma, a queima de todos os recursos disponíveis de combustíveis fósseis geraria emissões de cerca de 10 mil milhões de toneladas de carbono, o que se traduziria na perda do gelo da Antártida nos próximos 10 mil anos.
As simulações dos cientistas indicam que tal degelo o nível de água do mar aumentaria até três metros cada século durante o primeiro milénio.
Mesmo que o aquecimento global se limitasse a dois graus centígrados, limite a partir do qual se dá por indiscutível que as alterações climáticas são incontroláveis, existiria o risco de desestabilizar a camada de gelo da Antártida ocidental.
Hoje em dia, a Antártida contribui com menos de 10% para o aumento do nível da água do mar, valores menores quando comparados com a expansão térmica do aquecimento dos oceanos e a fusão dos glaciares das montanhas.
/Lusa