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Residentes de Santiago de Compostela enfrentam “missão impossível”: alugar casa

Turismo em excesso está a expulsar os locais. “Não temos turismofobia, mas…”.

A sobressaturação turística está a transformar por completo Santiago de Compostela, um dos destinos religiosos mais icónicos do mundo, e a afastar os seus habitantes.

Em 2023, mais de meio milhão de peregrinos registaram-se para percorrer uma das rotas oficiais até à Catedral — cinco vezes mais do que a população residente e um número que representa um aumento de 725 vezes face há quatro décadas, segundo a AP. Ao número juntam-se os turistas que chegam por via convencional, sem fazer o percurso a pé.

Agora, a associação de moradores da zona — que, garantem, “não têm ‘turismofobia'” — está a unir-se contra o turismo “descontrolado”, adianta Roberto Almuíña, presidente da associação de moradores, citado pelo Fast Company.

A associação começou a distribuiu um guia multilingue com regras de boa conduta: pede silêncio nas ruas, respeito pelas regras de trânsito e o uso de proteções nos bastões de caminhada, para evitar danificar o empedrado. Mas não resultou, até então, dizem.

Neste pranto, o problema maior é a pressão imobiliária. Segundo um estudo encomendado pelo município à Fundación Universidade da Coruña, as rendas aumentaram 44% entre 2018 e 2023 devido à proliferação de alojamentos turísticos de curta duração.

Em resposta, a autarquia pediu em maio ao governo regional que classifique a cidade como zona de pressão habitacional elevada, à semelhança de Barcelona ou San Sebastián. Já em novembro passado, foi proibida a abertura de novos alojamentos turísticos no centro histórico, medida justificada pela necessidade de travar a perda de habitação para residentes e a escalada dos preços. Mas mesmo assim, continuam a surgir alojamentos ilegais, denunciados por grupos locais como a associação Xuntanza, que acusa muitos proprietários de contornar as regras.

A Câmara Municipal garante estar a aplicar sanções sempre que deteta infrações, mas os efeitos demoram a sentir-se. Entre 2000 e 2020, a população residente no centro histórico caiu para metade e hoje não ultrapassa os 3 000 habitantes, rodeados por edifícios vazios e degradados. Restam apenas alguns supermercados, cafés, gelatarias e lojas de souvenirs.

“Só quem herdou uma casa dos avós ou dos pais consegue ficar”, lamenta uma jovem local.

Apesar do impacto económico do turismo, a rejeição do atual modelo está a crescer: segundo um estudo do grupo de investigação Rede Galabra da Universidade de Santiago, metade dos residentes já se opõe à dependência da cidade do setor turístico, quando há dez anos essa percentagem não ultrapassava um quarto. Até alguns peregrinos notam a mudança de ambiente.

“O Caminho está cada vez mais famoso e cheio de gente. Às vezes parece que se perdeu um pouco da espiritualidade”, lamenta uma peregrina espanhola.

ZAP //

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