Os cientistas apertam o cerco aos segredos da construção das Pirâmides. Ainda não há ETs

Eman Ghoneim / UNCW

A professora Eman Ghoneim no Planalto de Gizé, no Egito, lar da Grande Esfinge e das pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos

Descobertas arqueológicas recentes começam a traçar um retrato extraordinário da forma como as icónicas Pirâmides de Egito poderão ter sido construidas.

Durante séculos, a construção das pirâmides do Egito foi um dos maiores enigmas da História. Estas estruturas colossais, erguidas como túmulos reais há mais de 4 mil anos, continuam a fascinar os investigadores.

A maior de todas, a Grande Pirâmide de Gizé, terá originalmente atingido os 147 metros de altura e é composta por cerca de 2,3 milhões de blocos de pedra, cada um com um peso entre 2,5 e 15 toneladas.

Como os construtores da Antiguidade conseguiram transportar e elevar estas pedras com a tecnologia limitada da época tem permanecido um mistério.

“Os cientistas debatem há anos qual o método exato que foi usado para elevar estes blocos pesados a tamanhas alturas”, diz a professora Eman Ghoneim, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, à BBC Science Focus.

Descobertas arqueológicas recentes estão agora a reformular a nossa compreensão sobre como tal poderá ter sido feito.

A teoria predominante defende que foram usadas rampas que se fixavam numa espécie de trenó para puxar os blocos para cima, mas a inclinação destas rampas tem sido alvo de intensa discussão.

Um avanço surgiu em 2018, quando Roland Enmarch, investigador da Universidade de Liverpool, descobriu uma rampa escavada na rocha na pedreira de Hatnub, no Deserto Oriental do Egito. A rampa apresentava uma inclinação superior a 20% — muito mais íngreme do que se julgava possível.

Esta descoberta sugere que rampas semelhantes poderiam ter sido utilizadas nas pirâmides, reduzindo as enormes extensões que as rampas de inclinação suave teriam exigido.

Esta teoria não exclui a utilização de outros instrumentos, como alavancas, guindastes e roldanas.  Houve mesmo quem propusesse que os egípcios utilizaram um sistema de elevação hidráulica, como sugeriu um estudo deste ano liderado por Xavier Landreau e publicado na Plos One.

Landreau sugere que a água poderia ter sido usada para fazer flutuar os blocos através de condutas no interior da pirâmide em degraus de Djoser. Foram identificados nas proximidades do local o que poderá ter sido uma barragem e canais de água, mas muitos especialistas mantêm o ceticismo.

As limitações de tempo também moldaram a construção das pirâmides. Com uma esperança média de vida de apenas 35 anos, os projetos tinham de ser concluídos rapidamente. Estima-se que a construção da Grande Pirâmide tenha demorado cerca de 20 anos.

O arqueólogo Frank Müller-Römer, investigador da Universidade de Munique, propõe que várias rampas tenham sido colocadas simultaneamente em todos os quatro lados da pirâmide, permitindo uma construção mais rápida.

Müller-Römer considera que esta abordagem oferece a explicação mais eficiente, tendo em conta as ferramentas e os conhecimentos de engenharia da época.

Müller-Römer argumenta que as provas contradizem as fases conhecidas de construção da pirâmide de Djoser, enquanto Enmarch duvida que um simples sistema hidráulico conseguisse elevar pedras até aos 60 metros de altura da estrutura.

A tecnologia moderna também está a oferecer novas perspetivas. O projeto ScanPyramids, liderado pela Universidade do Cairo e pelo Heritage Innovation Preservation Institute, em França, recorre a varrimentos de muões não invasivos para detetar estruturas ocultas no interior da Grande Pirâmide.

Em 2017, a equipa descobriu uma gigantesca câmara escondida acima da Grande Galeria, possivelmente parte de um sistema de distribuição de peso. Explorações futuras poderão revelar mais sobre o design interno e o processo de construção da pirâmide.

Entretanto, num estudo conduzido em 2023, a equipa de Eman Ghoneim usou um radar espacial, que revelou a existência de um gigantesco canal fluvial oculto, com cerca de 64 km de extensão, que liga todas 31 pirâmides egípcias, que pode ter funcionado como antigas rotas de transporte para os enormes blocos de pedra.

Com o passar do tempo, esta via navegável assoreou e desapareceu, o que explica porque permaneceu oculta até agora.

Outra descoberta importante acrescentou uma perspetiva humana ao projeto das pirâmides. Entre 2011 e 2013, Pierre Tallet, professor de Egiptologia na Universidade de Paris-Sorbonne, e a sua equipa encontraram fragmentos de papiros de diários de bordo que detalhavam as atividades dos trabalhadores da Grande Pirâmide de Gizé, em Wadi al-Jarf, perto das margens do Mar Vermelho.

Para Enmarch, esta é a descoberta mais importante da sua carreira, porque prova que as pirâmides foram o resultado de uma força laboral vasta e bem organizada — e não de forças misteriosas ou intervenções externas.

À medida que continuam as escavações nos assentamentos de trabalhadores perto de Gizé, os arqueólogos esperam revelar mais sobre a organização social e as estratégias de engenharia que estiveram na origem destes monumentos impressionantes.

Assim, o retrato extraordinário que começa a emergir destas descobertas não é o de uma história de mistério, com extraterrestres ou tecnologias de civilizações avançadas, mas da simples determinação, engenho e escala extraordinária que a realização humana pode atingir.

ZAP //

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