Crise no Reino Unido. Vice primeira-ministra demite-se por pagar menos imposto na compra de casa

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@AngelaRayner / Twitter

Deputada Angela Rayner

Deputada Angela Rayner do Partido Trabalhista britânico.

A saída de Rayner surge num momento particularmente difícil para Keir Starmer, com as sondagens a mostrar um crescente descontentamento com o seu Governo e um crescimento da extrema-direita.

A vice-primeira-ministra britânica, Angela Rayner, demitiu-se esta sexta-feira, depois de ter admitido ter pago menos imposto na compra de uma casa.

“Aceito que não segui os mais altos princípios na minha recente aquisição imobiliária. Lamento profundamente a minha decisão de não solicitar aconselhamento fiscal adicional, tendo em conta a minha posição como ministra da Habitação e a complexidade da minha situação familiar. Assumo total responsabilidade por este erro”, afirmou.

Em resposta, o primeiro-ministro, Keir Starmer, lamentou perder “uma colega de confiança e uma verdadeira amiga durante muitos anos”.

“Embora acredite que tenha tomado a decisão certa, sei que é uma decisão muito dolorosa para si. Deu tudo de si para tornar o governo trabalhista um sucesso e foi uma parte central do nosso plano para tornar o Reino Unido mais justo”, vincou.

A decisão resultou da pressão política mediática sobre a “número dois” do Governo e do Partido Trabalhista nas últimas semanas e também de um relatório do responsável independente pela conduta dos ministros, Laurie Magnus.

Embora tenha elogiado a “cooperação total e aberta e integridade”, confirmou que Rayner não pagou a taxa fiscal correta, algo que é “muito lamentável”, tendo em conta as responsabilidades políticas, escreveu Magnus.

Na quarta-feira, Rayner admitiu ter pago menos 40 mil libras (cerca de 46 mil euros) de imposto de selo na compra de um apartamento no valor de 800 mil libras (922 mil euros) na localidade de Hove, no sul de Inglaterra.

A poupança resultou por ter declarado o apartamento como residência principal, evitando o imposto agravado sobre habitações secundárias.

Rayner tem como morada principal a localidade de Ashton-under-Lyne, na região de Manchester, a qual representa como deputada desde 2015.

A “número dois” do Governo lamentou “profundamente o erro”, que atribuiu a orientações incorretas dos profissionais que instruiu para fazer a operação.

Além de vice-primeira-ministra, Angela Rayner era ministra da Habitação, Comunidades e Autoridades Locais.

A saída de Rayner levou a que Starmer fizesse uma mini-remodelação no executivo. David Lammy, anterior ministro dos Negócios Estrangeiros, foi nomeado para o cargo de vice-primeiro-ministro. Para a pasta dos Negócios Estrangeiros passou Yvette Cooper, que estava na Administração Interna. E para a Administração Interna foi nomeada Shabana Mahmood, que ocupava o lugar de secretária de Estado da Justiça.

Starmer cada vez mais frágil

A saída de Rayner surge num momento em que a liderança de Starmer já está fragilizada, mediante a grande perda de popularidade apontada pelas sondagens.

Os inquéritos denotam ainda um crescimento do partido de extrema-direita Reform UK — anteriormente designado Partido do Brexit e liderado por Nigel Farage — que tem crescido à boleia do apoio a políticas mais restritas na imigração.

Já mais à esquerda, Starmer arrisca também perder eleitores para o novo partido do seu antecessor na liderança dos Trabalhistas, Jeremy Corbyn, que por enquanto ainda não tem um nome definido. Com as suas políticas mais progressistas, Corbyn é especialmente popular entre o eleitorado mais jovem, que é precisamente a faixa demográfica onde o descontentamento com o governo de Starmer é mais notório.

Recorde-se que Corbyn saiu dos Trabalhistas após um longo conflito interno em torno de acusações de anti-semitismo, dadas as críticas feitas contra Israel por alguns dos deputados que lhe eram mais próximos. No entanto, a escalada de violência vivida em Gaza nos últimos dois anos tem dado uma nova perspetiva sobre a saída de Corbyn e deixa mais claro o contraste entre o seu apoio à causa palestiniana e a aliança de Starmer com Israel — o Governo de Starmer inclusive está a classificar como terroristas quem se manifesta em apoio ao grupo Ação Palestina, uma medida que está a ser altamente contestada por violar a liberdade de expressão.

O timing da saída de Rayner é também particularmente sensível, pois antecipa-se que a Ministra das Finanças Rachel Reeves esteja prestes a anunciar um aumento dos impostos, o que promete aumentar ainda mais a contestação ao executivo.

No entanto, o anterior secretário de Estado do Tesouro britânico Darren Jones, agora nomeado Ministro de Estado, rejeitou que o executivo esteja em crise e garantiu, em declarações à televisão Sky News, que o Partido Trabalhista não se vai dividir nem convocar eleições antecipadas.

A antecipação das eleições legislativas foi sugerida na sexta-feira por Nigel Farage, durante a conferência anual do seu partido, onde disse aos seus apoiantes que deveriam preparar-se para as eleições por volta de 2027, em vez da data prevista para 2029.

“Nigel Farage está errado. O Partido Trabalhista não se vai dividir e não haverá eleições antecipadas”, assegurou Darren Jones.

O membro do Partido Trabalhista afirmou que o primeiro-ministro há muito que desejava fazer mudanças no seu Governo, explicando que a saída de Rayner “simplesmente acelerou” as reformas ministeriais.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

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