Kraft e Heinz vão separar-se. O casamento foi um dos raros erros de Warren Buffet

A Kraft Heinz está prestes a dividir-se, uma década depois de Warren Buffett ter ajudado a orquestrar a sua criação, no que muitos observadores consideram agora ser uma rara nódoa no longo historial de negócios bem-sucedidos do lendário “Oráculo de Omaha”.

Após 10 anos de casamento das duas gigantes do setor alimentar, que foi apadrinhado por Warren Buffet, a Kraft e a Heinz vão agora separar-se.

A Heinz foi inicialmente adquirida em 2013, por 23 mil milhões de dólares, por um consórcio da Berkshire Hathaway de Buffett com a empresa brasileira de capital de risco 3G Capital, recorda o Business Insider.

Em 2015, numa transação que envolveu cerca de 40 mil milhões de dólares, a Heinz foi fundida com a Kraft, uma operação que Warren Buffett saudou na altura como “o meu tipo de negócio“, elogiando a força de marcas icónicas como o ketchup da Heinz ou as salsichas Oscar Mayer da Kraft.

Contudo, ao longo dos anos, a gigante alimentar combinada debateu-se com mudanças nos gostos dos consumidores, cortes de custos agressivos e ventos contrários crescentes na indústria.

A parceria com a 3G marcou um afastamento da abordagem típica de Buffett. Enquanto a Berkshire geralmente favorece um estilo não-intervencionista, que privilegia a estabilidade a longo prazo, a 3G é conhecida por cortar custos e reformular a gestão para aumentar rapidamente as avaliações.

Após a fusão, a Kraft Heinz sofreu despedimentos em massa, desvalorizações no valor de milhares de milhões, vendas de ativos e uma auditoria contabilística. Analistas, incluindo a Harvard Business Review, argumentaram que as medidas de austeridade rigorosas “prejudicaram significativamente” a inovação.

O próprio Buffett reconheceu os passos em falso. Na reunião de acionistas da Berkshire de 2019, admitiu ter pago demasiado pela Kraft, e esta semana disse à CNBC que estava “desiludido” com o desenrolar dos acontecimentos.

Embora tenha reconhecido que, olhando para trás,  a fusão foi imprudente, o bilionário expressou dúvidas de que a separação da empresa resolvesse os seus problemas mais profundos.

Na terça-feira, a Kraft Heinz anunciou planos para se dividir em dois negócios separados. Um focar-se-á em molhos, pastas para barrar e temperos sob marcas como Heinz, Kraft Mac & Cheese e Philadelphia. O outro centrar-se-á em produtos básicos norte-americanos como Oscar Mayer, Kraft Singles e Lunchables.

A empresa antecipa cerca de 300 milhões de dólares em “des-sinergias” da separação, mas pretende compensar alguns dos custos.

A reação do mercado tem sido, na melhor das hipóteses, moderada. As ações da Kraft Heinz já perderam mais de 70% do seu valor desde o pico em 2017, eliminando dezenas de milhares de milhões em capitalização bolsista.

A empresa, outrora avaliada em mais de 110 mil milhões de dólares, situa-se agora abaixo dos 33 mil milhões. A notícia da divisão desencadeou outra venda massiva, embora a sua cotação tenha recuperado ligeiramente após uma queda inicial de 7%.

Para a Berkshire, que detém 27,5% da Kraft Heinz, o investimento teve um desempenho inferior ao mercado global por uma margem considerável.

Buffett não excluiu vir a vender a participação, dizendo que atuaria no melhor interesse da Berkshire. A 3G Capital, entretanto, já saiu, tendo vendido em 2023 as ações que ainda detinha.

Dono de uma carreira longa e recheada de sucessos, Warren Buffet não acerta sempre, e tem por norma admitir os seus fracassos. Em 2021, o bilionário assumiu ter cometido um erro quando adquiriu, em 2016, a Precision Castparts, por 32,1 mil milhões de euros. Confessou também, recorda o Insider, ter sido um erro a malfadada compra da Dexter Shoe em 1993.

Mas, na história carreira do lendário bilionário norte-americano, considerado o “guru” dos mercados de investimento e que se tornou um influencer muito ants dos Tiktoks, estes erros serão apenas uma nota de rodapé.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.