Restaurante “coma o que quiser, pague o que puder” é Michelin — e não perde dinheiro

masalaymaiz / Facebook

Restaurante Masala y Maiz, Novo México

Iniciativa está a espalhar-se pelo México. Alguns clientes oferecem obras de arte ao staff, outros chegam a contribuir três vezes acima do preço habitual. “Isto vai acabar com esta divisão de classe e económica“.

Depois de o restaurante Masala y Maiz, com estrela Michelin, convidar os seus clientes a comerem o que desejarem e a pagarem por isso exatamente o que puderem ou quiserem, a moda está a espalhar-se pela Cidade do México.

Os chefs Norma Listman e Saqib Keval, fundadores do restaurante, tornaram-se conhecidos não só pela sua fusão criativa de sabores mexicanos, africanos e indianos, mas especialmente pela experiência social que desafia a economia tradicional da alta cozinha.

Várias vezes por ano, oferecem um menu completo, sem preçário no cardápio. Em vez da conta, os clientes recebem um envelope onde podem deixar a contribuição que bem entenderem.

A única exigência é indicar a percentagem do valor dado que se destina aos funcionários.

Norma Listman e Saqib Keval

Camarones pa’pelar (camarão cozinhado com baunilha, lima e ghee) e Kuku Poussin (frango frito servido com queijo, alface e molho de tamarindo), as especialidades, são servidos nesses dias tão especiais exatamente como em qualquer outro dia.

E a resposta à iniciativa surpreendeu os chefs pela positiva, contam à BBC. Alguns clientes oferecem obras de arte ao staff, outros chegam a contribuir três vezes acima do preço habitual.

Para Listman e Keval, o projeto vai muito além da gastronomia. Numa cidade marcada pela gentrificação “a alto speed”, desigualdade e sobreturismo, o casal quis criar uma forma de todos, independentemente do rendimento ou classe social, terem acesso a refeições de qualidade.

“Há muitas discrepâncias de classe, muitas discrepâncias económicas na cidade”, diz Listman. “Há pessoas que ganham todo o dinheiro e pessoas que fazem todo o trabalho. Isto vai acabar com esta divisão de classe e económica, e tornar os restaurantes acessíveis a todos – pelo menos por um dia.”

O conceito está a crescer por toda a cidade desde que o Masala y Maiz recebeu a sua primeira estrela Michelin. Este ano, pela primeira vez, 20 restaurantes da capital uniram-se esta quarta-feira para um “Dia Coma o que quiser, pague o que puder”.

O fenómeno já começou a ultrapassar fronteiras. Keval afirma que restaurantes do Chile, Colômbia, Peru e outras regiões do México manifestaram vontade de adotar o modelo.

A ideia não é totalmente inédita — o Annalakshmi Restaurant em Singapura e o Rethink Café em Brooklyn, Nova Iorque, já seguem abordagens semelhantes — mas a versão mexicana distingue-se pela sua escala e pelo potencial de expansão internacional.

ZAP //

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