Chega pede comissão de inquérito ao “negócio mafioso dos fogos altamente suspeitos”

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MIGUEL PEREIRA DA SILVA/LUSA

André Ventura, presidente do Chega, durante a entrega de águas e outros bens alimentares no Quartel dos Bombeiros Voluntários do Fundão.

Chega recomenda legislação que proíba a negociação da madeira resultante dos fogos, agravamento das penas para os condenados por incêndio florestal e apela a que se “considere que um incendiário é um terrorista”.

O Chega anunciou que daria entrada ainda no domingo com o pedido para a realização de uma comissão de inquérito aos fogos em Portugal e do seu negócio, disse o seu líder, André Ventura, em Leiria.

“E é isso que nós vamos fazer. Nós vamos fazer mesmo uma investigação a sério aos fogos, vamos propor ao parlamento que o faça e que recomende legislação que não deixe nada igual nesta matéria”, adiantou Ventura.

Numa passagem rápida por Leiria, antes de seguir para Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, onde deflagraram este sábado dois incêndios, Ventura considerou que “é tempo de dar este passo” e avançar para a “investigação dos fogos em Portugal, do negócio em torno dos fogos e da falta de prevenção”.

É possível “chegar à conclusão se temos ou não uma teia de negócio por detrás disto e, isso, uma comissão de inquérito pode fazer, chamando antigos e atuais governantes, pessoas ligadas ao negócio dos fogos e da madeira e também à organização do território”, disse o presidente do Chega.

“Fogos altamente suspeitos”

André Ventura adiantou que os fogos que deflagraram nos últimos dias “são altamente suspeitos aos olhos de todos”.

“Alguns deles começam a pouca distância, em horas onde nem sequer há muito calor, em zonas altamente densas de vegetação e florestação. Isto significa que há aqui mão criminosa e provavelmente um negócio por detrás disto. Hoje estou firmemente convencido de que temos um negócio mafioso por trás dos incêndios”, reforçou o líder do Chega.

Considerando que a “Polícia Judiciária tem feito um trabalho que deve ser assinalado” e “a Justiça tem investigado o cartel dos fogos”, André Ventura defendeu que o parlamento também faça o seu trabalho.

A recomendação de uma legislação que proíba a negociação da madeira resultante dos fogos é uma das sugestões deixadas, assim como o agravamento das penas para os condenados por incêndio florestal e que altere a legislação para que “considere que um incendiário é um terrorista“.

“Ontem [sábado] ouvi pessoas em Pedrógão, mas também noutras zonas, a dizer que nada foi feito para prevenir os incêndios. Um político tem de chegar ao momento de dizer: ‘vamos lá ver o que é que falhou e por que é que isto continua a acontecer?’ Há muito tempo que digo que estes tipos [incendiários] têm de estar presos. E enquanto não os prenderem, não há prevenção que aguente”, sublinhou.

Admitindo que a “questão penal não é a única que vai resolver esta questão”, André Ventura insistiu que o parlamento tem de investigar “quem é que está a lucrar com isto”.

“E digo mais, quem estiver ligado a estes negócios obscuros dos incêndios não pode ter negócios com o Estado”, acrescentou, defendendo ainda que o Estado se deve substituir aos proprietários privados na limpeza dos terrenos, pois nem todos têm capacidade financeira para tal.

“Isto é uma tarefa soberana e de segurança de todos”, considerou, justificando que “quando o incêndio começar, não é o indivíduo da propriedade que vai lá sozinho impedir o incêndio” e “são milhões para conter o incêndio, são milhões de prejuízos e vidas humanas, vidas de animais e propriedades destruídas”.

“Montenegro, saia do gabinete”

O presidente do Chega aconselhou também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, a sair do gabinete e a ir ao terreno, acusando-o de fazer uma “má gestão” dos incêndios.

“O primeiro-ministro tem feito uma péssima gestão desta situação”, disse André Ventura, em Leiria, considerando que Luís Montenegro deveria ter estado presente em todos os distritos onde se verificaram os maiores incêndios.

Confrontado com o conselho de os políticos não irem aos teatros de operações, André Ventura disse que, quando conversou com autarcas, não atrapalhou “diretamente o teatro de operações”.

“As pessoas têm de sentir que há liderança. As pessoas têm de sentir que há alguém que se preocupa com elas e que quer saber o que é que está a falhar. Um líder tem de estar no terreno para perceber as coisas. Ninguém é líder fechado no seu gabinete”, sublinhou o presidente do Chega.

Dirigindo-se a Luís Montenegro, o líder do Chega aconselhou: “saia do gabinete em Lisboa e venha aos distritos que estão afetados pelos fogos falar com as pessoas”.

“Há o risco? Há. Há pessoas que nos respondem mal? Há. Há pessoas que reagem mal? Há. Mas ser político é isso. Venha saber o que é que está a correr mal para poder agir e dar um sinal ao país de coragem, de confiança e de firmeza”, reforçou.

Sobre as medidas anunciadas pelo Governo para fazer face aos prejuízos causados pelos incêndios, André Ventura classificou-as de “um pouco insignificantes”.

“O primeiro-ministro optou por fazer uma série de remendos de uma crise que geriu mal. Decidiu fazer como fez com a pós-pandemia, como fez com os hospitais em crise, como fez com as forças policiais: fazer comunicações burocráticas e cinzentas ao país, que não tinham conteúdo nenhum”, criticou.

Para André Ventura, as medidas anunciadas não vão resolver a vida das pessoas e são “remendos colocados em cima de feridas, não para as tratar, mas para fingir que se fez alguma coisa”.

“Se o primeiro-ministro quiser poder ainda fazer alguma coisa depois do desastre que foi gerir esta crise, eu diria que apoiar a comissão do inquérito [aos fogos pedida hoje pelo Chega] era um bom presságio”, desafiou.

ZAP // Lusa

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