Miguel Pereira da Silva / LUSA

Incêndio em Trancoso
Já começam a faltar respostas em Trancoso e em Vila Real. Surgiram novos incêndios ao longo da última madrugada; aldeia evacuada.
Os incêndios continuam a assustar milhares de portugueses. Ao longo da madrugada desta quarta-feira, deflagraram novos fogos: Sátão, Macedo de Cavaleiros e Arganil – onde uma aldeia já foi evacuada.
O trânsito encontra-se cortado na EN 323, nos dois sentidos, entre as localidades de Távora e Granjinha, no distrito de Viseu. Um incêndio rural em Tabuaço, que tem sido considerado pela Proteção Civil como uma ocorrência significativa, começou no domingo à noite na freguesia de Távora e Pinheiro.
O presidente da Câmara Municipal de Trancoso afirmou ontem, terça-feira, que se viveram “momentos de pânico” na localidade de Terrenho, onde o oficial de segurança conseguiu retirar os mais idosos para o edifício da junta de freguesia.
“Cerca das 15:00 o vento mudou em direção à aldeia de Terrenho. Foi um vento muito forte que se fez sentir. Alertámos o oficial de segurança da localidade, cerca de meia hora antes, e ele conseguiu juntar as pessoas [mais idosas e com dificuldades de mobilidade] no edifício da junta [freguesia]”, afirmou Amílcar Salvador à agência Lusa.
O autarca, que se encontrava na localidade de Terrenho, no concelho de Trancoso, adiantou que até ao momento não tem conhecimento da existência de quaisquer vítimas ou de casas de primeira habitação ardidas.
“O incêndio entrou dentro da povoação. Foram autênticos momentos de pânico e de muito medo os que se viveram. Os bombeiros têm sido incansáveis. Estão exaustos e a população tem ajudado muito”, salientou.
O presidente da Câmara de Trancoso, no distrito da Guarda, disse também que os prejuízos são enormes, sobretudo, ao nível de povoamentos de castanheiros, olivais, vinhas, pomares e terras de pasto.
“Neste momento e grosso modo já devem ter ardido cerca de 12 mil hectares. O incêndio já atingiu 11 das 21 freguesias do concelho”, realçou.
Amílcar Salvador fez um apelo à administração central para que ajude as populações afetadas.
“Qualquer coisa tem de ser feita. Além da Câmara Municipal, forçosamente a Administração Central tem de ajudar estas populações”, sustentou.
Segundo a Autoridade Nacional de Emergência Proteção Civil (ANEPC), às 18:30, no terreno estavam 598 operacionais, 202 viaturas e 11 meios aéreos a operar no combate às chamas.
O combate ao fogo, que deflagrou na tarde de sábado, estava a evoluir favoravelmente cerca das 12:00 desta terça-feira. Contudo, segundo o autarca de Trancoso, cerca das 15:00, surgiram ventos fortes com mudança de direção, o que veio a complicar o combate às chamas.
A Câmara de Trancoso decidiu manter ativo o Plano Municipal de Emergência e Proteção Civil face “à situação de emergência causada pelo incêndio que afeta o concelho”, e na sequência da reunião da Comissão Municipal de Proteção Civil.
A autarquia já suspendeu a rega de espaços públicos e apelou à população para reduzir o consumo de água “ao estritamente necessário” e, com isso, contribuir para “salvaguardar este recurso essencial ao combate ao fogo”.
“O que posso fazer?”
O presidente da Câmara de Vila Real apelou nesta terça-feira a um reforço de meios para combater o incêndio que lavra naquele concelho há 11 dias, afirmando que os operacionais estão cansados.
“Os homens estão mesmo muito cansados, tendo em conta a dimensão deste incêndio (…). Aqueles que podem pôr cobro a esta situação, por favor, que nos ajudem. Eu não sei o que posso fazer neste momento, mais que não seja fazer este apelo: que realmente coloquem pessoas no terreno, que refresquem estes operacionais”, disse o autarca.
Alexandre Favaios falava aos jornalistas na aldeia de Paredes, que é neste momento uma das aldeias que está a causar maior preocupação aos bombeiros, devido à proximidade do fogo.
O presidente da Câmara referiu ainda que este incêndio já atingiu 25 aldeias e percorreu 12 quilómetros, entre Mascoselo e Paredes, dos quais quatro quilómetros foram só no dia de hoje, e sublinhou que esta tarde registaram-se duas novas ignições na zona de La Salette, em Vila Cova.
Alexandre Favaios voltou a pedir que sejam mobilizados todos os meios, sustentando que os meios no terreno são insuficientes para pôr cobro e este incêndio.
“Estamos em situação de alerta. A responsabilidade é clara. Há um decreto que diz que a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil tem autonomia para mobilizar todos os meios ao seu alcance para os colocar no terreno. É isso que nós pedimos. Tão só e simplesmente isso”, referiu.
O autarca disse que, até ao momento, ainda não falou com o primeiro-ministro ou a ministra da Administração Interna, esclarecendo que os contactos têm sido feitos pelo secretário de Estado, “informando da mobilização adicional de alguns meios” que apenas têm contribuído para mitigar algumas situações.
Insistiu ainda para que “aqueles que têm poder, têm capacidade para terminar com este flagelo, com esta ansiedade, com esta angústia, o façam”.
Hoje, quarta-feira, é já o 12.º dia deste incêndio que começou às 23:45 do dia 2 de agosto, já esteve em conclusão e, desde sábado, sofreu duas reativações, uma no sábado e outra na segunda-feira à tarde.
A madrugada passada foi novamente de muito trabalho para os bombeiros, mas a meteorologia começa a ajudar – embora o incêndio ainda não esteja em fase de resolução.
ZAP // Lusa