A Capa de Honras é um símbolo da herança cultural mirandesa. É uma peça de vestuário que exalta o orgulho e a preservação das tradições daquela região — à semelhança da língua mirandesa e dos Pauliteiros de Miranda.
Miranda do Douro é, indiscutivelmente, das regiões culturalmente mais ricas de Portugal.
Tem o mirandés (desde 1999, a segunda língua oficial do país); tem os Pauliteiros de Miranda (uma tradição com cada vez mais presença no resto do território); e ainda a única e inimitável Capa de Honras.
Dos três elementos supramencionados, a Capa de Honras é, provavelmente, o menos conhecido – mas é, igualmente, um símbolo maior da herança histórica cultural mirandesa.
Feita em burel (lã grossa) e adornada com bordados especiais, esta capa comprida era, originalmente, usada pelos pastores para suportar o frio do Inverno rigoroso do Planalto Mirandês.
Depois, passou a ser usada em ocasiões importantes ou cerimoniais – mas, apenas, por homens. Hoje, já é usada por homens e mulheres.
E até pelo Papa…
Em fevereiro de 2019, o município de Miranda do Douro foi ao Vaticano e ofereceu uma Capa de Honras ao Papa Francisco.
“O Papa vestiu a capa e disse-me que os portugueses são muito fortes por carregarmos uma capa com tanto peso”, disse o, na altura, autarca de Miranda do Douro, Artur Nunes, em declarações à Renascença.
Município de Miranda do Douro
Papa Francisco veste uma capa de honras oferecida pela Câmara de Miranda do Douro, em 2019
Atualmente, a Capa de Honras é usada como símbolo de exaltação da identidade mirandesa. Foi precisamente essa riqueza cultural que Miranda do Douro celebrou este fim-de-semana, no I Encontro de Capas Ibéricas.
“Ao celebrarmos a Exaltação da Capa de Honras Mirandesa, honramos um dos mais importantes símbolos da identidade do povo mirandês, evocando valores ancestrais como a honra e o respeito”, escreveu o município.
“O I Encontro de Capas Ibéricas foi organizado pelo Município de Miranda do Douro, em parceria com a Asociación de la Capa Alistana e a Asociación Amigos de La Capa de Béjar, e procura assim reforçar a cooperação transfronteiriça e valorizar uma herança cultural, que une os territórios de Portugal e Espanha, perpetuando uma tradição de grande significado histórico e social”, acrescenta.
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Também neste domingo foi inaugurado um mural na Casa da Cultura Mirandesa, retratando o Papa Francisco a envergar a tradicional Capa de Honras mirandesa.
“Esta obra foi uma surpresa para os participantes do I Encontro de Capas Ibéricas, inserido na Cerimónia de Exaltação da Capa de Honras Mirandesa”, escreveu o município nas redes sociais.
Como dá conta uma reportagem do Jornal de Notícias, restam quatro costureiras a produzir este “ex-líbris do artesanato mirandês” – três delas a tempo inteiro.
A procura destas capas tem vindo a crescer, mas a produção nem sempre tem capacidade para acompanhar. Até porque o proceso demora. A confeção de uma Capa de Honras implica um trabalho minucioso. Como referido anteriormente, é confecionada com lã de ovelha, depois de fiada, urdida, tecida e pisoada. Além disso, não sai barata.
Atualmente, o preço das capas pode chegar aos 1200 euros.
“Cada vez mais gente quer comprar, mesmo os mais novos, que têm orgulho nesta peça de artesanato, única desta zona da fronteira”, disse Maria Suzana de Castro, uma das artesãs que ainda restam, ao JN.
