Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto impedidos de entrar em Moçambique

2

Tons de Comédia / Instagram

Murilo Couto, Hugo Sousa e Gilmário Vemba – que compõem ogrupo Tons de Comédia

Os humoristas Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto anunciaram, pelo Instagram, a partir do aeroporto de Maputo, o cancelamento de um espetáculo na capital moçambicana, por terem sido impedidos de entrar no país.

Um angolano, um português e um brasileiro tentaram entrar em Moçambique… foram impedidos.

Parece o início de uma anedota, mas aconteceu mesmo, este domingo – curiosamente, aos humoristas Gilmário Vemba, Hugo Sousa e Murilo Couto.

“Infelizmente não vamos conseguir fazer o espetáculo”, anunciou Gilmário Vemba, numa transmissão em direto na rede social Instagram, a partir do aeroporto, explicando que os três aguardam desde as 14h00 locais (13h00 em Lisboa) pela entrada no país, a qual foi “impedida” pelas autoridades, desconhecendo os motivos e confirmando o cancelamento do espetáculo e reembolso dos bilhetes.

A Lusa contactou o Serviço Nacional de Migração (SENAMI) de Moçambique, mas não obteve qualquer explicação para a alegada retenção dos humoristas no aeroporto internacional de Maputo.

Fonte ligada à produção do evento explicou à Lusa que o espetáculo, que contava com casa cheia, era do grupo “Tons de Comédia”, do qual fazem parte o humorista português Hugo Sousa, Gilmário Vemba, radicado em Portugal, e o brasileiro Murilo Couto.

“Encontram-se retidos no aeroporto de Maputo desde as 14h40 locais [13h40 de Lisboa], após aterrarem num voo proveniente de Luanda, onde estiveram em espetáculo na noite anterior”, disse a mesma fonte, acrescentando que os três estão acompanhados do agente Pedro Gonçalves, da produtora Showtime.

O espetáculo de domingo estava marcado para as 17h00 locais (16h00 em Lisboa) no Centro Cultural China Moçambique, em Maputo.

Motivações políticas?

Numa reação no Facebook, Dinis Tivane, assessor do político e ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 9 de outubro em Moçambique, afirmou que Gilmário Vemba foi “impedido de entrar em Moçambique, por expor as suas opiniões”.

A 8 de julho, Venâncio Mondlane e Gilmário Vemba partilharam publicamente um encontro, em Lisboa, exaltando “Anamalala” – que em língua macua, falada no norte de Moçambique, significa “vai acabar” ou “acabou” – e é acrónimo do partido que Mondlane está a tentar legalizar: Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamalala).

Essa expressão foi muito usada pelo político durante a campanha para as eleições gerais de 9 de outubro de 2024 e popularizou-se nos protestos por si convocados nos meses seguintes, ao não reconhecer os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.

A solo, Gilmário Vemba já tinha atuado em Moçambique no passado, sem registo de incidentes.

SENAMI explica recusa

Esta segunda-feira, o diretor-geral do SENAMI moçambicano justificou a recusa aos três humoristas por terem tentado entrado no país com visto de turismo, quando pretendiam realizar um espetáculo.

Vieram ao país, mas não obedeceram aos critérios pelos quais eles vinham. Porque eles vinham para dar um espetáculo, um ‘show’. É uma atividade cultural”, disse o diretor-geral, Zainedine Danane, questionado pela Lusa.

O responsável acrescentou que o grupo chegou ao aeroporto internacional de Maputo no domingo, com a intenção de entrar no país com visto de turismo, que é emitido na fronteira após avaliação dos agentes de migração, conforme prevê desde 2023 a legislação moçambicana.

Contudo, exclui desse tipo de autorização de entrada as atividades remuneradas, conforme diz ter sido detetado na verificação do SENAMI.

Danane acrescentou que o promotor do evento em causa deveria “ter solicitado” uma credencial para o espetáculo às autoridades competentes moçambicanas, que posteriormente seria utilizada para o pedido de emissão de visto cultural para entrada no país.

“Então, não tendo solicitado esta credencial, é como se esta atividade não existisse. E como é que vais proferir um espetáculo se quem devia, se calhar, autorizar, não tem conhecimento? Estou-me a referir a questões legais”, sublinhou, citando as alterações à lei de migração para a emissão de vistos para atividades culturais feitas em 2022.

Essa credenciação, disse, caberia ao Ministério da Cultura de Moçambique.

O grupo, segundo Danane, deixou o país esta manhã, num voo da TAP.

Murilo Couto iria ficar retido na mesma

No caso do brasileiro Murilo Couto, o responsável da migração moçambicana revelou que em 15 de junho submeteu na plataforma eletrónica um pedido de visto de negócios para entrada em Moçambique, sendo que três dias depois foram solicitados documentos em falta, que ficou sem resposta, sublinhando que mesmo esse visto, a ser atribuído, não lhe permitiria a entrar para fazer o espetáculo.

O cidadão não reuniu os requisitos, nem respondeu ao indeferimento e está aqui em Moçambique (…). Isto tem regras. Não há nenhum país que tu entras sem obedecer aos critérios de entrada”, apontou, garantindo que não houve qualquer “medida administrativa” neste caso, apenas o cumprimento da lei.

“Nem para visto de negócios, nem para visto de atividade cultural, nem para visto de turismo, tinham requisitos. Então, como é que iam entrar no país (…). Tudo é na base da lei. Não há nada que nós estejamos a inventar. A roda já foi inventada. Podem consultar a lei“, disse Zainedine Danane.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Entraram mais facilmente em Portugal, que é uma verdadeira república das bananas ! … ou será que Moçambique já está a retaliar às futuras novas regras portuguesas?

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.