No Japão, a extrema-direita tem feito da imigração um dos principais temas da campanha para as eleições. Vários residentes lusófonos alertaram que o país precisa de estrangeiros para enfrentar o envelhecimento populacional.
Decorrem, este domingo, as eleições para a câmara alta do parlamento japonês.
Também no Japão, tal como acontece em Portugal e na generalidade dos países ocidentais, a imigração tem dado muito que falar.
No final de 2024, o Japão tinha 3,76 milhões de residentes estrangeiros, um máximo histórico, mas que apenas representa 3% da população. De acordo com a legislação em vigor, nenhum deles tem direito de voto nas eleições de domingo.
Mas isso não impediu a extrema-direita de apostar numa retórica abertamente xenófoba, ligando a criminalidade à imigração. De acordo com dados oficiais, em 2024, estrangeiros, incluindo residentes e pessoas em situação irregular, cometeram 2,2% dos crimes registado no Japão.
Fundado em 2020, o partido de extrema-direita Sanseito tem usado redes e plataformas sociais para disseminar teorias da conspiração e desinformação xenófoba.
O partido prometeu, durante toda a campanha, regras mais apertadas para a atribuição de residência e excluir os estrangeiros dos benefícios sociais.
“Os estrangeiros são usados como alvos para expressar descontentamento”, disse, em declarações à Lusa, o professor de ciências políticas na Universidade de Tóquio, Yu Uchiyama, que estabeleceu um paralelo com a ascensão da extrema-direita na Europa e nos Estados Unidos.
“O Japão fica sem gente para trabalhar”
Rogério, que trabalha num restaurante brasileiro em Osaka (centro-sul), relata que o Japão precisa de imigrantes.
Além da questão de travar o envelhecimento, o brasileiro, de 43 anos, aponta que é preciso haver quem faça o trabalho que os japoneses não querem fazer.
“Se os estrangeiros forem embora daqui, o Japão fica sem gente para trabalhar. A mão-de-obra, até aqui, para nós também faltam pessoas”, disse, à Lusa Rogério, casado com uma japonesa e com filhos no Japão.
Nas últimas duas décadas, o número de trabalhadores no ativo diminuiu em cerca de três milhões. Segundo uma estimativa do Recruit Works Institute, até 2040, o Japão deverá enfrentar um défice de mão-de-obra de 11 milhões de pessoas.
“Sem estrangeiros, o Japão pára. O japonês não quer trabalhar em qualquer serviço“, explicou à Lusa outro brasileiro, Gilberto, que vive em Toyama, no centro do país.
Daniel, um angolano que vive há 14 no Japão, admitiu, por sua vez, o peso do choque cultural: “O povo japonês é muito severo e vais ter que deixar algumas coisas que estás habituado a fazer, porque aqui tens que seguir mesmo a linha dos japoneses”.
Primeiro-ministro aproxima-se da extrema-direita
As sondagens sugerem que o Sanseito, atualmente com dois lugares na Câmara dos Conselheiros, poderá conquistar mais de dez dos 125 lugares em disputa nas eleições de domingo para a câmara alta do parlamento, composta por 248 membros.
Com a coligação do primeiro-ministro Shigeru Ishiba em risco de perder a maioria na Câmara dos Conselheiros, nesta campanha para as eleições de domingo, o partido no poder adotou parcialmente o discurso anti-imigração.
Na terça-feira, Ishiba inaugurou um gabinete especial para tratar de questões relacionadas com residentes estrangeiros, dizendo que irá ouvir as preocupações dos japoneses, incluindo alegados abusos do sistema de segurança social.
ZAP // Lusa