Durante três anos, a Google andou “mexer” em milhões de telemóveis Android, transformando-os em detetores de terramotos surpreendentemente eficazes.
Em 2020, a Google lançou um projeto para recolher sinais de telemóveis Android de que um terramoto poderia estar iminente.
O sistema aproveitou os acelerómetros existentes nestes dispositivos para recolher dados sísmicos, combiná-los para detetar padrões consistentes com um terramoto e enviar alertas atempados às pessoas que possam ser afectadas.
Esta quinta-feira, os investigadores que trabalharam no projeto publicaram um artigo na revista Science onde revelam que a sua tecnologia de deteção de sismos funcionou bastante bem.
O objetivo principal era levar a tecnologia a locais que não dispõem de estações sísmicas – e, por isso, não podem emitir alertas locais.
Nem sentimos a transformação
Como detalha a New Atlas, o sistema funcionou através da deteção de aumentos súbitos na aceleração de um telefone que são consistentes com os movimentos do solo em terramotos.
Uma vez acionado, o telemóvel enviava um sinal para um servidor central, que escutava sinais semelhantes de outros telemóveis na mesma área e à mesma hora. Quando os dados observados atingiam um nível de confiança suficientemente elevado, era oficialmente declarado um terramoto.
Ao longo de três anos de funcionamento, o sistema de crowdsourcing implantado em 98 países detetou uma média de 312 sismos por mês, com magnitudes (M) que variaram entre um mínimo de M 1,9 e um perigosamente elevado M 7,8.
DESIGNAÇÃO | MAGNITUDE | EFEITOS | QUANTIDADE |
---|---|---|---|
Micro | < 2,0 | Micro tremor de terra, não se sente. | < 8.000 /dia |
Muito pequeno | 2,0-2,9 | Geralmente não se sente, mas é detectado/registado. | 1.000 /dia |
Pequeno | 3,0-3,9 | Frequentemente sentido, mas raramente causa danos. | 49.000 /ano |
Ligeiro | 4,0-4,9 | Tremor notório de objectos no interior de habitações, ruídos de choque entre objectos. Danos importantes pouco comuns. | 6.200 /ano |
Moderado | 5,0-5,9 | Pode causar danos maiores em edifícios mal concebidos em zonas restritas. Provoca danos ligeiros nos edifícios bem construídos. | 800 /ano |
Forte | 6,0-6,9 | Pode ser destruidor em zonas num raio de até 180 quilómetros em áreas habitadas. | 120 /ano |
Grande | 7,0-7,9 | Pode provocar danos graves em zonas mais vastas. | 18 /ano |
Importante | 8,0-8,9 | Pode causar danos sérios em zonas num raio de centenas de quilómetros. | 1 /ano |
Excepcional | 9,0-9,9 | Devasta zonas num raio de milhares de quilómetros. | < 1 / 20 anos |
Extremo | > 10,0 | Nunca foi registado | — |
Escala de Richter — Fonte: Apolo11.com | Fonte: Apolo11.com | Fonte: Apolo11.com | Fonte: Apolo11.com |
De acordo com as reações dos utilizadores, 85% das pessoas que receberam um alerta sentiram o abalo e 36% dos inquiridos afirmaram ter recebido um alerta antes do abalo.
Como escreve a New Atlas, “nada mau para um sistema que não necessita de muitas infraestruturas locais para ajudar a manter as pessoas seguras”.
A Google implementou este sistema em 2,5 milhões de dispositivos através de software pré-instalado que acompanha todos os telemóveis Android, o que significa que foi ativado por defeito e não necessitou de informações dos proprietários para ser utilizado.
O sistema de crowdsourcing baseado no acelerómetro é uma versão mais moderna do chamado ShakeAlert de 2015, no qual “os receptores GPS de um smartphone podem detetar o movimento permanente do solo (deslocamento) causado pelo movimento da falha num grande terramoto”.
Esta tecnologia também está ligada ao sistema Android Earthquake Alerts, que transmite avisos diretamente para os telemóveis em áreas onde os sismólogos esperam que ocorram abalos, juntamente com instruções sobre como se abrigar.