Chris LaRosa / UConn

As estudantes Carrie Nguyen e Gabriella Bosh, da UConn, testam o simulador RV idealizado por Leslie Holton
A engenheira Leslie Holton liderou um grupo de estudantes universitários que criou ferramenta que simula a deteção de tumores mamários — que lhe tinham roubado a mãe e a avó.
Há vinte anos, Leslie Holton era uma aluna de pós-graduação, a estudar Realidade Virtual em Medicina, quando a sua mãe morreu de cancro da mama metastático.
“A minha mãe e avó morreram ambas de cancro da mama”, conta Holton, que tinha 26 anos na altura, ao The Washington Post.
Perdê-las fez com que Leslie tivesse ficado empenhada em encontrar uma forma de que outras mulheres pudessem detetar o cancro da mama antes que fosse demasiado tarde.
A engenheira teve então uma ideia: “perguntei-me, será que podemos criar um simulador que possa ajudar as mulheres a aprender como fazer um autoexame da mama, e ajudá-las a compreender o que estão a procurar?”
Atualmente Diretora de Inovação na Medtronic, Leslie Holton teve pela primeira vez a ideia há duas décadas, então ainda estudante de pós-graduação. No entanto, na altura não tinha nem a tecnologia nem o financiamento para avançar com o projeto — e teve que o arquivar.
Leslie Hiemenz Holton / Linkedin

Leslie Holton é atualmente Diretora de Inovação da Medtronic Surgical AST
Há cerca de 18 meses, durante a Medtronic Research Day, uma workshop de colaboração entre instituições académicas e industriais, a engenheira apresentou a sua ideia a Krystyna Gielo-Perczak, professora de Engenharia Biomédica da Universidade do Connecticut.
“Falei-lhe sobre o meu conceito, e que com as interfaces de jogos atuais e outras tecnologias, parecia que era o momento certo para desenvolver isto mais”, recorda Holton, num comunicado da UConn. “O simulador poderia ser implementado em consultórios médicos ou levado diretamente às comunidades.”
Numa altura em que as taxas de cancro da mama estão a aumentar entre as mulheres jovens, Gielo-Perczak expressou interesse imediato em avançar com o projeto.
Com a ajuda de cinco finalistas de engenharia, incluindo Grace Bonacci e Carrie Nguyen — ambas agora funcionárias a tempo inteiro da Medtronic, Holton e a sua equipa desenvolveram uma ferramenta de treino sofisticada que aborda uma lacuna crítica na educação em saúde das mulheres.
O simulador combina realidade virtual com tecnologia de feedback háptico. Os utilizadores usam um capacete de RV e uma luva mecânica equipada com balões infláveis que criam sensações de pressão nas pontas dos dedos.
O sistema usa ressonâncias magnéticas processadas de bases de dados online para criar modelos realistas de mama dentro do ambiente virtual.
“Vemos um modelo de mama, e à medida que movemos a sua mão na vida real, há software que deteta a mão para que possamos vê-la a mover-se dentro do ambiente de realidade virtual”, explica Nguyen. A luva mecânica fornece feedback tátil — que simula a diferença entre tecido saudável e potencialmente tumoral.
Chris LaRosa / UConn

A professora Krystyna Gielo-Perczak com a equipa que desenvolveu o projeto: Grace Bonacci, Gabriella Bosh, Erin Blaszak, Carrie Nguyen e Abhishree Kaushik.
A ferramenta aborda barreiras significativas ao auto-exame da mama. Estudos recentes indicam que a maioria das mulheres não tem conhecimento de técnicas adequadas de auto-exame — e tendem a não ter presente a necessidade de os realizar com regularidade.
Embora não seja concebida como ferramenta de diagnóstico, o simulador ajuda os utilizadores a desenvolver confiança e familiaridade com as características normais — por comparação com as anormais — do tecido mamário.
“A criação de uma experiência acessível, divertida e semelhante a um jogo pemite reduzir a ansiedade em torno do processo de aprendizagem”, explica Holton.
A inovadora ferramenta, que conquistou o primeiro prémio num concurso de Design Sénior da UConn, em competição contra 20 outros projetos, despertou o interesse das estudantes que nele participaram em tecnologia de saúde das mulheres.
“Este projeto tornou-me ainda mais apaixonada por isso, e ainda mais consciente”, observa Bonacci. “Mas há muito mais a ser feito”, acrescenta. Nguyen.
Holton considera que a sua ferramenta é um passo fundamental, mas o seu objetivo final é que alguma organização sem fins lucrativos a adote e distribua por clínicas e hospitais.
“Uma ideia que tive há 20 anos é agora uma realidade”, observa a engenheira — que está segura de que a mãe e avó partilhariam o seu orgulho numa inovação que pode no futuro vir a salvar inúmeras vidas.