Mãe só há uma: os chimpanzés concordam connosco

Bebés chimpanzés selvagens formam laços com as mães de forma semelhante a nós, revela novo estudo.

Os laços afetivos entre mães e bebés chimpanzés selvagens são semelhantes aos que se observam em humanos, de acordo com um estudo publicado a 12 de maio na Nature Human Behaviour.

A investigação indica que os chimpanzés bebés desenvolvem diferentes estilos de apego às suas mães, como acontece com as crianças humanas. Mas ao contrário do que vemos em humanos ou em chimpanzés órfãos criados em cativeiro, os bebés criados na natureza não apresentam sinais de apego desorganizado.

O apego desorganizado em humanos está geralmente associado a experiências de medo, trauma ou agressão por parte do cuidador. As crianças que o desenvolvem tendem a apresentar comportamentos contraditórios – procuram conforto, mas também temem o cuidador – e enfrentam maiores riscos de problemas emocionais e sociais.

Em chimpanzés criados em cativeiro, sobretudo os órfãos, também se observam estes comportamentos instáveis. Já no ambiente selvagem, a realidade é outra.

Procurar conforto na mãe

Durante quatro anos, uma equipa internacional de biólogos acompanhou grupos de chimpanzés no Parque Nacional de Taï, na Costa do Marfim. O grupo tem características particulares: baixos níveis de agressividade e infanticídio, forte coesão social e comportamentos de adoção de crias órfãs por machos adultos – algo pouco comum noutras comunidades de chimpanzés.

Os investigadores notaram que os bebés chimpanzés desenvolvem principalmente dois tipos de apego: seguro ou inseguro-evitante.

Os que mantêm um apego seguro recorrem às mães em momentos de stress e demonstram maior confiança na exploração do ambiente; os que têm apego inseguro-evitante mostram-se mais independentes e evitam procurar conforto. Em nenhum dos casos se registaram sinais de apego desorganizado.

“As comunidades de chimpanzés de Taï diferem das outras populações por apresentarem níveis mais baixos de agressividade e infanticídio”, explica Eléonore Rolland, primatóloga e coautora do estudo, citada pela EurekAlert. “Como resultado, as mães tendem a permanecer no grupo ao lado dos machos. Além disso, quando os indivíduos jovens perdem as suas mães, são frequentemente adotados por machos adultos, um comportamento invulgar, não observado em muitas outras comunidades de chimpanzés”.

“Um comportamento que mais se assemelha aos estilos de vinculação humana foi a tendência de procurar conforto na mãe em resposta a situações ameaçadoras, mesmo em indivíduos já desmamados”, afirma Rolland: “Isto sugere que as mães desempenham um papel crucial na proteção das suas crias e que as crias continuam a depender delas para a sua segurança durante vários anos, tal como nos humanos”.

Os resultados “podem refletir uma herança evolutiva comum” e  “mostram que os humanos e os chimpanzés não são assim tão diferentes, afinal. Mas também nos fazem pensar: será que algumas instituições humanas modernas ou práticas de cuidado se distanciaram do que é melhor para o desenvolvimento infantil?”, questiona a investigadora do conceituado Instituto Max Planck.

ZAP //

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