/

Nova burla: fazer chamadas falsas, clonar as vozes com IA, burlar os familiares por telefone

Vigaristas chineses estão a fazer chamadas falsas para gravar vozes de pessoas, clonar essas vozes com IA, e burlar os seus familiares, habitualmente idosos, com pedidos de dinheiro por telefone fixo.

Um gang de burlões está a atuar na China com um esquema sofisticado que visa pessoas idosas, que vivem em casas onde ainda haja um telefone fixo a funcionar.

No âmbito da burla, os idosos que atendem a chamada pensam que estão a falar com um ente querido, que “precisa urgentemente de dinheiro” — quando na realidade a voz do interlocutor foi gerada por IA a partir de uma chamada falsa previamente gravada.

O South China Morning Post conta o caso recente de uma mulher idosa, residente na província de Hubei, no centro do país, que foi enganada por uma versão gerada por IA do seu neto.

Recentemente, a mulher, de apelido Liu, recebeu uma chamada  do telefone fixo de casa do seu neto — que estava a soluçar e lhe disse que tinha ferido a cabeça de uma pessoa num supermercado. A pessoa ferida tinha sido hospitalizada e estava a exigir 20.000 yuan (2.540 euros) de compensação.

O “neto” disse então que estava numa esquadra de polícia, precisava do dinheiro para ser libertado, e implorou-lhe que não contasse o que se passava à sua mãe; caso contrário, iria “atirar-se de um prédio“.

Liu começou por confortar o neto, mas quando lhe perguntou em que esquadra de polícia estava, ele desligou subitamente. A idosa tratou então de pedir dinheiro emprestado a familiares e amigos e esperou que o “neto” lhe telefonasse novamente, pois não se atrevia a notificar os seus pais ou a sua escola.

Algumas horas mais tarde, o neto telefonou-lhe novamente e combinou com a idosa que o pai de um colega iria recolher o dinheiro, num local a 20 minutos de casa dela.

Quando Liu se encontrou com o “pai do colega” para lhe entregar o dinheiro, o “neto” telefonou ao indivíduo, que passou o telefone à idosa. “Podes entregar-lhe o dinheiro”, disse a voz do “neto” ao telefone.

Liu pensou que o caso estava resolvido e não falou com nenhum outro membro da família sobre o assunto. No entanto, alguns dias depois, quando o verdadeiro neto a visitou, ela perguntou-lhe sobre o caso — e percebeu que tinha sido burlada.

A família burlada apresentou queixa na polícia local, que descobriu que outra mulher idosa tinha caído na mesma armadilha apenas alguns dias antes.

Após visualizar imagens das câmaras de videovigilância da rua em que a entrega do dinheiro foi efetuada, os agentes perceberam que o mesmo homem tinha recolhido dinheiro das duas vítimas envolvidas no caso.

O homem, de apelido Zhang, disse que pensava que estava apenas a fazer um lucrativo part-time, que lhe pagava 1.000 yuan (140 euros) por dia: recebia instruções de alguém que lhe pedia para ir recolher dinheiro a um dado local e entregá-lo noutro — onde um membro do gang o recebia e desaparecia.

Liu contou à polícia que a voz da chamada telefónica soava exatamente como a do seu neto — que diz ter recebido muitas chamadas falsas em casa dela antes da burla. O jovem perguntava quem estava a ligar, mas ninguém respondia.

Segundo a polícia, este é um novo truque usado pelos burlões, que recorrem a Inteligência Artificial para clonar a voz das vítimas das chamadas falsas e depois ligam aos seus familiares e amigos usando a voz clonada.

Os burlões ligam deliberadamente para telefones fixos, que ainda estão em uso em algumas casas de pessoas idosas, para tornar difícil que as vítimas verifiquem as chamadas.

Depois do “olá pai, olá mãe”, agora chega o “olá avó” — com a voz do netinho. E neste caso, a recomendação da PSP (“não realizar qualquer transferência de dinheiro sem conseguir falar de viva voz e reconhecer a pessoa com quem pensa estar em conversação”) é infelizmente ineficaz.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.