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O cor-de-rosa é a cor das meninas, ou pelo menos é o que a maioria das pessoas atualmente considera como normalidade. Porém, nem sempre foi assim.
Pode parecer difícil de acreditar, mas o cor-de-rosa já foi a cor preferida para meninos.
Em 1890, um artigo da revista Ladies’ Home Journal aconselhava: “O branco puro é usado para todos os bebés. O azul é para meninas, e o cor-de-rosa para meninos, quando se deseja usar cor.”
Um outro artigo, de 1918, na publicação comercial Earnshaw’s Infants’ Department tinha uma visão semelhante: “a regra geralmente aceite é cor-de-rosa para os meninos e azul para as meninas“.
“A razão é que o cor-de-rosa, sendo uma cor mais forte e decidida, é mais adequada aos meninos, enquanto o azul, mais delicado e suave, fica melhor nas meninas”, detalhava a revista.
Em 1927, a revista Time fez um inquérito a grandes armazéns nos Estados Unidos, no qual perguntava qual a cor que os clientes consideravam mais apropriada para meninas e meninos.
A maioria preferia cor-de-rosa para meninos e azul para meninas — mas havia no entanto divergências de opinião de estado para estado, recorda a Forbes.
A escritora norte-americana Jo Paoletti, professora na Universidade de Maryland, explica no seu livro Pink and Blue: Telling the Boys from the Girls in America que, no século XIX, os pais preferiam vestir os filhos de branco para não enfatizar o género.
A roupa com distinção de género era considerada inapropriada para crianças pequenas, cuja inocência assexuada era muitas vezes vista como uma das suas maiores qualidades.
A meio do século XX, as filhas passaram a vestir-se como as mães, e os filhos como os pais. No entanto, nos anos 70, as crianças começaram a usar roupas mais unissexo.
Nessa altura, as mulheres começaram a entrar no mercado de trabalho em maior número, a assumir papéis menos tradicionais e a escolher roupas menos femininas para si e para as filhas.
“Nos anos 70, o cor-de-rosa, vigorosamente rejeitado por pais feministas nas roupas das filhas, estava fortemente ligado à feminilidade tradicional que foi”, escreve Paoletti.
Em meados dos anos 1980, a divisão por género entre o cor-de-rosa e o azul começou a tornar-se mais acentuada — em parte, devido à popularização dos testes pré-natal.
Graças a estes testes, os pais conseguiam, antes do nascimento, se o bebé seria menino ou menina— o que lhes dava mais tempo para decorar o quarto com um esquema de cores que refletisse o género do recém-nascido.
Ao longo dos últimos anos, os estereótipos de género foram sendo agravados pelo crescente fenómeno do cor-de-rosa para meninas.
Entretanto, o mundo mudou — e estes estereótipos passaram a ser contestados. Protestos públicos recentes levaram os hipermercados norte-americanos a deixar de diferenciar brinquedos por género e a remover os corredores cor-de-rosa destinados às meninas.
A Target, por exemplo, deixou de rotular os brinquedos para menino ou menina, e removeu o papel de parede cor-de-rosa que antes forrava os corredores “femininos” — dando atenção aos consumidores que não queriam que as suas filhas fossem direcionadas para bonecas e utensílios de cozinha, enquanto os filhos brincavam com blocos e kits de química.
A distinção entre cor-de-rosa e azul também pode fazer parecer que meninos e meninas são mais diferentes do que realmente são, diz a Forbes. No fim de contas, a escolha do cor-de-rosa para meninas e azul para meninos é o que os cientistas sociais chamam de construção social: não há nada de biológico que leve as meninas a preferir o cor-de-rosa, é algo que a sociedade inventou.
Mas se a moda fosse como já foi, podíamos agora associar a Barbie ao azul, a morar numa casa azul, com carro azul — e até vestir roupa azul.