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Sociedade centrada na mulher já foi um sucesso na Turquia

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Dan Lewandowski

Recriação de Çatalhöyük, por Dan Lewandowski

A análise genética de esqueletos enterrados numa cidade neolítica na Turquia revela que aquela sociedade agrícola, com 9000 anos, era fortemente centrada na mulher – que fazia um trabalho notável.

O ADN antigo de enterramentos da Idade da Pedra na Turquia pôs finalmente termo a um debate de décadas sobre se a protocidade de Çatalhöyük era uma sociedade matriarcal.

Um novo estudo, publicado esta quinta-feira na Science, confirmou finalmente o que os especialistas há muito suspeitavam: As mulheres e as raparigas eram figuras-chave nesta sociedade agrícola, há com 9000 anos.

“Com Çatalhöyük, temos agora o mais antigo padrão de organização social geneticamente inferido em sociedades produtoras de alimentos, que acaba por ser centrado nas mulheres”, anunciou autor correspondente do estudo Mehmet Somel, da Universidade Técnica do Médio Oriente, na Turquia, em declarações à Live Science.

Localizado no centro-sul da Turquia, Çatalhöyük foi construído por volta de 7100 a.C. e foi ocupado durante quase 1000 anos.

O vasto povoado é conhecido pelas suas casas em que se entrava pelos telhados, pelos enterramentos sob o chão das casas e pelo elaborado simbolismo que incluía murais vívidos e um conjunto diversificado de figuras femininas.

Quando o arqueólogo James Mellaart escavou pela primeira vez Çatalhöyük, no início dos anos 60, interpretou as numerosas estatuetas femininas como prova de uma sociedade matriarcal que praticava o culto da “deusa-mãe”, talvez como forma de assegurar uma boa colheita após uma importante transição económica da agricultura de subsistência para a agricultura baseada em cereais.

Agora, para investigar mais aprofundadamente a organização social em Çatalhöyük, a equipa de investigadores analisou o ADN de 131 esqueletos datados entre 7100 e 5800 a.C. que estavam enterrados debaixo do chão das casas.

Matriarcado ou apenas linhagens femininas?

Neste estudo, foi encontrada tendência interessante nas ligações intergeracionais entre os enterramentos domésticos, observaram os investigadores: Baseavam-se sobretudo em linhagens maternas.

“Não estávamos particularmente à procura destas ligações maternas dentro dos edifícios, mas isto mostra claramente que as práticas centradas no homem que as pessoas têm frequentemente documentado na Europa do Neolítico e da Idade do Bronze não eram universais”, disse Somel.

Foi ainda identificada uma tendência feminina nos objetos das sepulturas.

“O padrão de mais presentes funerários para bebés do sexo feminino também não era algo que esperávamos”, disse o autor correspondente.

Como enaltece a Live Science, Çatalhöyük é a sociedade mais antiga onde as provas de ADN revelaram uma organização social centrada na mulher.

Çatalhöyük contrasta agora fortemente com os padrões patrilineares observados na Europa neolítica, o que levanta a questão intrigante de quando, como e porquê ocorreu uma mudança tão profunda na organização social.

Miguel Esteves, ZAP //

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  1. E foram conquistados e desapareceram. Para quem não conhece aquela zona geográfica foi o palco das maiores chacinas da história da humanidade.

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