Israel acusa o Irão de violar o cessar-fogo, Irão nega. Trump não está feliz — especialmente com Israel

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Poucas horas depois do cessar-fogo, Israel já acusou o Irão de lançar mísseis e promete uma resposta agressiva. Teerão nega ter violado o cessar-fogo.

Parece que o anúncio de cessar-fogo entre Israel e o Irão feito apenas há algumas horas já está desatualizado. Menos de três horas depois de ter entrado em vigor o cessar-fogo anunciado por Donald Trump, Israel já acusou o Irão de violar o acordo, com as forças israelitas a afirmar que detetaram mísseis lançados pelo Irão.

As forças israelitas estão a trabalhar para intercetar as ameaças, avançou o exército, que apelou aos cidadãos que procurem abrigos seguros. Israel Katz, ministro da Defesa israelita, anunciou ainda que ordenou que o exército “responda agresivamente à violação do cessar-fogo por parte do Irão com ataques de alta intensidade contra alvos do regime no coração de Teerão”.

Katz avança que esta resposta é motivada pela “violação descarada do Irão do cessar-fogo declarado pelo Presidente dos Estados Unidos através do lançamento de mísseis contra Israel”, cita a Reuters.

Por sua vez, o Irão está a negar ter atacado Israel após o cessar-fogo. De acordo com a imprensa iraniana, que cita a televisão estatal Press TV, os responsáveis iranianos estão a rejeitar ter lançado mísseis contra Israel depois do prazo anunciado por Donald Trump, que entrou em vigor às 07h30 (05h30 em Lisboa). O Irão inclusive alega ter sido atacado por Israel em três fases, a começar às 9h desta terça-feira ( 6h30 em Lisboa).

O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irão também já advertiu, esta terça-feira, que responderá com firmeza a novos ataques de Israel, afirmando que as forças armadas estão preparadas para reagir “com os dedos no gatilho”.

Trump zangado com Israel

Uma hora depois de ter expirado o prazo para o Irão suspender os ataques, Trump publicou uma mensagem nas redes sociais:

“O CESSAR-FOGO ESTÁ AGORA EM EFEITO. POR FAVOR, NÃO O VIOLEM! DONALD J. TRUMP, PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS!”, escreveu.

Já esta terça-feira, Donald Trump afirmou que tanto Israel como o Irão violaram o cessar-fogo e que não está contente com nenhum dos países, mas está especialmente zangado com Israel.

Em resposta aos jornalistas antes de embarcar para a cimeira da NATO nos Países Baixos, Trump acusou Israel de “descarregar” logo depois de aceitar o acordo de cessar-fogo. Já sobre o Irão, o chefe de Estado norte-americano reiterou que as suas infraestruturas nucleares foram destruídas e que o país nunca voltará a ter um programa nuclear.

Tenho de fazer Israel acalmar-se. Mal fizemos o acordo, Israel saiu e largou uma carga de bombas de um tipo que nunca tinha visto antes, a maior carda que já vimos. Basicamente temos dois países que estão a lutar tanto e há tanto tempo que não sabem que car**** estão a fazer”, disse ainda o Presidente dos Estados Unidos.

Na rede social Truth Social, Trump voltou a tentar puxar as rédeas a Israel e a impedir o país de retaliar contra a alegada violação do Irão: “ISRAEL. NÃO LARGUEM ESSAS BOMBAS. SE O FIZEREM, É UMA GRANDE VIOLAÇÃO. TRAGAM OS VOSSOS PILOTOS PARA CASA, JÁ!”.

“ISRAEL não vai atacar o Irão. Todos os aviões vão voltar para trás e dirigir-se a casa e vão fazer um ‘aceno amigável de aviões’ ao Irão. Ninguém se vai magoar, o cessar-fogo está em vigor!”, escreveu ainda.

A imprensa israelita avança ainda que Trump telefonou a Netanyahu após saber dos planos israelitas para continuar a atacar o Irão.

Qatar reúne com embaixador do Irão

O anúncio do acordo de cessar-fogo ocorreu depois de Teerão ter retaliado contra o ataque norte-americano às suas instalações nucleares, tendo lançado, na segunda-feira à noite, um ataque com mísseis contra uma base militar norte-americana no Qatar.

A resposta de Teerão levou a que o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar convocasse o embaixador do Irão para uma reunião. Os responsáveis qataris acusam o Irão de violar o seu espaço aéreo e a lei internacional com o ataque à base norte-americana e apelam a uma resolução diplomática, lembrando as relações historicamente próximas entre os dois países.

Já o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão agradeceu esta terça-feira ao Qatar pelo seu “papel construtivo” na prevenção de uma escalada regional.

Em Israel, pelo menos 24 pessoas morreram e mais de mil ficaram feridas no conflito com o Irão. Já os ataques israelitas contra o Irão mataram pelo menos 974 pessoas e feriram outras 3458, de acordo com o grupo Human Rights Activists, com sede em Washington.

Cessar-fogo condenado ao fracasso?

As trocas de acusações entre Israel e o Irão poucas horas depois de ter sido anunciado um acordo confirmam as dúvidas lançadas de imediato por vários analistas sobre a durabilidade do cessar-fogo anunciado por Trump.

O primeiro sinal de alarme foi o desmentido inicial do Irão sobre a existência de um cessar-fogo, com o ministro dos Negócios Estrangeiros a negar ter chegado a um acordo com Israel.

“Até ao momento, NÃO há ‘acordo’ sobre qualquer cessar-fogo ou cessação das operações militares. No entanto, desde que o regime israelita pare a agressão ilegal contra o povo iraniano até às 04:00 da manhã, hora de Teerão [01h30 em Lisboa], não temos intenção de continuar a nossa resposta depois disso”, anunciou Abbas Araghchi, na rede social X.

Pouco tempo depois, o Irão confirmou que tinha chegado a um acordo para o fim dos ataques mas essa “paz” acabou por durar menos de três horas, mediante as mais recentes acusações de Israel e deixou a nu as fragilidades do acordo.

Continua sem se saber os termos acordados pelos dois lados, se o Irão e os Estados Unidos vão voltar a negociar um novo acordo nuclear e também está ainda por esclarecer o verdadeiro impacto do ataque norte-americano às reservas de urânio enriquecido do Irão, com muitos especialistas a duvidar que tenham sido “obliteradas”, como alegou Trump.

Entretanto, o chefe nuclear iraniano Mohammad Eslami deu a entender que o Irão ainda está a avaliar os danos, mas que pretende retomar o seu programa nuclear. O responsável anunciou que o plano é “prevenir interrupções no processo de produção e serviços”.

Esta decisão que promete manter as tensões em alta. Apesar de as agências internacionais e das próprias secretas norte-americanas terem ainda recentemente afirmado não ter indícios de que o Irão esteja a usar as reservas de urânio para fabricar bombas, tanto Trump como Netanyahu têm repetidamente acusado Teerão de estar a planear construir um arsenal nuclear.

O primeiro-ministro israelita inclusive já acusa os iranianos de serem uma ameaça nuclear iminente há mais de 30 anos, tendo dito várias vezes nos anos 90 que o Irão teria um arsenal num prazo máximo de 5 anos, algo que nunca se verificou.

Tendo em conta os ataques de que foi alvo por parte dos dois aliados, é por isso provável que o Irão decida mesmo avançar com a criação de bombas atómicas como uma forma de dissuadir novas hostilidades, o que promete manter as tensões em alta.

Nos últimos dias, Netanyahu e Trump também falaram sobre um cenário de mudança de regime no Irão, o que tem suscitado questões sobre se será esse o verdadeiro objetivo da recente ofensiva. Caso essa possibilidade se confirme, não haverá razão para manter o cessar-fogo até que o Governo iraniano seja derrubado.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Mas alguém pode confiar em Israel? Assinam o acordo e vão logo mandar mais bombas antes que este entre em efeito. E agora vão arranjar uma desculpa QQ para continuar a bombardear. Eles não querem acordo nenhum nem interessa para nada o programa nuclear. Esses fanáticos sionistas só querem conquistar aquilo tudo ali à volta e não param enquanto não lhes puserem travão a sério. O Bibi quer guerra para continuar agarrado ao poder, sem guerra e com “democracia” já tinha ido de vela.

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  2. O pateta Trump deve estar zangado é com ele próprio. Em vez de reagir à ação do Irão sobre duas das suas bases no médio oriente, meteu a viola no saco e fez uma determinação em nome de Israel e do Irão.

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