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Esporos gigantes de fungos endomicorrízicos
Nas formações geológicas da Bacia do Buçaco, os fósseis de uma forma gigante de esporos de fungos micorrízicos são inéditos.
Foram descobertos em Anadia, Aveiro, fósseis de fungos primitivos, com 300 milhões de anos.
Num estudo de investigadores portugueses liderado pelo paleontólogo Pedro Correia, os fósseis, descobertos nas formações geológicas da Bacia do Buçaco, são inéditos: “Correspondem a uma forma gigante de esporos de fungos micorrízicos, até então, completamente desconhecida para a ciência”.
“Pertencentes ao novo género e nova espécie Megaglomerospora lealiae, estes fósseis de fungos representam os maiores esporos documentados para a Divisão Glomeromycota do Reino Fungi”, explica Pedro Correia, em comunicado enviado ao ZAP-
Os fungos glomeromicotanos compreendem um dos grupos mais comuns e difundidos, que agrupa organismos simbióticos formadores de micorrizas arbusculares, responsáveis pela formação de associações simbióticas micorrízicas (denominadas endomicorrizas), com raízes de cerca de 80% das plantas vasculares conhecidas atualmente. Estes fungos endomicorrízicos formam esporos assexuados com um diâmetro de 40 a 800 micrómetros (μm) no solo e no tecido vegetal.
«Apesar da sua pequena dimensão, cerca de 1,6 milímetros de diâmetro, estes fósseis foram um gigante entre os esporos de fungos da classe Glomeromycetes, que existiram há cerca de 300 milhões de anos, no final do período Carbonífero, e nunca antes documentados em fungos glomeromicotanos fossilizados e fungos endomicorrízicos modernos», descreve o autor principal do artigo científico.
«A descoberta de Megaglomerospora lealiae na Bacia do Buçaco constitui um avanço significativo no conhecimento da diversidade e história evolutiva acerca das interações simbióticas mutualísticas entre plantas vasculares e fungos micorrízicos. Além disso, estes novos achados correspondem ao primeiro registo de um fungo endomicorrízico descoberto no Carbonífero da Península Ibérica», continua Pedro Correia, investigador do Centro de Geociências (CGEO) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Oxigénio vs. dióxido de carbono
No final do período Carbonífero, as concentrações atmosféricas de oxigénio atingiram níveis excecionalmente elevados, estimados entre 30% a 35%, muito acima dos cerca de 21% atuais.
Esta elevada disponibilidade de oxigénio permitiu que se desenvolvessem estruturas de grandes dimensões, capazes de explorar vastas áreas radiculares para a troca eficiente de nutrientes entre organismos fúngicos e plantas, uma adaptação crucial num ambiente ecológico altamente competitivo e diversificado na época.
Por outro lado, as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono eram relativamente baixas comparadas com outros períodos geológicos.
A diminuição de CO₂, em combinação com o aumento da biomassa vegetal, exigiu uma maior eficiência na absorção de nutrientes pelas plantas, o que potencialmente impulsionou a simbiose com fungos micorrízicos.
«Estes fungos desempenharam um papel essencial na otimização da captação de fósforo e outros nutrientes essenciais, promovendo o desenvolvimento de redes micorrízicas extensas e, consequentemente, estruturas fúngicas de grandes dimensões, quando comparadas com as atuais», descreve a equipa de investigadores portugueses.
Os paleontólogos acrescentam que “a relevância desta descoberta reside na confirmação de que as associações simbióticas já desempenhavam um papel crucial na estruturação dos ecossistemas terrestres há cerca de 300 milhões de anos. O estudo deste novo fóssil, agora descrito, fornece informações importantes sobre as interações entre fungos e plantas, contribuindo para uma compreensão mais aprofundada dos processos ecológicos que moldaram a flora do Paleozoico”.