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É um “superpoder” que não exige qualquer esforço. Eis como o nosso cérebro lê palavras sem vogais.
Se conseguiu ler este artigo até agora, quase garantidamente consegue ler esta frase: prq cnsgms lr plvrs sm vgs?
Se passou no teste e leu a pergunta “porque conseguimos ler palavras sem vogais?”, vai também ficar a saber: a neurociência ajuda a explicar este fenómeno.
O cérebro humano não lê palavras letra por letra. Na verdade, reconhece padrões e confia no contexto, com previsões do que provavelmente vem a seguir, explicam especialistas ao Live Science. Essa capacidade permite-nos perceber palavras que estão mal escritas, com erros ortográficos, incompletas ou… sem quaisquer vogais.
Não recebemos passivamente as frases, prevemo-las ativamente”, explica o neurocientista David Eagleman, da Universidade de Stanford. “Os nossos cérebros não são telas em branco à espera de informações; são construtores de modelos, gerando constantemente expectativas internas sobre o que existe lá fora.”
De onde vem este superpoder?
A capacidade de ler palavras incompletas provém de uma rede sofisticada no cérebro, incluindo uma área chamada Área de Forma Visual de Palavras (VWFA).
Localizada no giro fusiforme esquerdo, parte dos lobos temporal e occipital do cérebro, a VWFA é especializada em reconhecer padrões de letras e formas de palavras familiares. Antes que a VWFA entre em ação, os olhos detetam as formas básicas das letras, e esses dados visuais são processados em etapas, a começar pelo córtex visual.
Acredita-se que o cérebro processe combinações de letras comuns em muitas línguas como “er”— que ajudam-nos a reconhecer e a reconstruir rapidamente palavras completas, mesmo quando faltam partes.
Com o tempo, os leitores constroem uma biblioteca mental de combinações de letras e padrões linguísticos, facilitando a identificação de palavras prováveis a partir de fragmentos.
A VWFA desenvolve-se à medida que as habilidades de leitura surgem. Uma vez ativada, ajusta-se à língua do leitor para melhorar a sua capacidade de interpretar textos incompletos ou abreviados.
No fundo, não nos limitamos a ler e descodificar o texto, mas sim reconstruímo-lo de com a ajuda de experiências anteriores de leitura.
