Rui Rocha, o líder que sai depois do melhor resultado do partido – numa cadeira que “queima”

Miguel A. Lopes / Lusa

João Cotrim de Figueiredo e Carlos Guimarães Pinto, antigos presidentes da IL

Vem aí o 6.º presidente da Iniciativa Liberal, um partido que só foi criado há 8 anos. A página no Facebook, os sacrifícios e a AD.

Eleições legislativas, 2019: na sua estreia em legislativas, a Iniciativa Liberal (IL) consegue logo 1 deputado, com 1,29% dos votos.

Eleições legislativas, 2022: nas segundas legislativas da sua história, subida considerável para 8 deputados, resultado de 4,91% dos votos.

Eleições legislativas, 2024: os mesmos 8 deputados, apesar da subida muito ligeira na percentagem (4,94%).

Eleições legislativas, 2025: a IL passa a ter 9 deputados, com 5,36% dos votos e consegue assim o seu melhor resultado de sempre numas legislativas – tinha conseguido melhor nas europeias do ano passado, com 9,08% dos votos.

Consequência do melhor resultado de sempre do partido em legislativas? O presidente demitiu-se.

“A IL não atingiu a preponderância que todos desejavam“, justificou Rui Rocha, ainda na análise às eleições do passado dia 18 de Maio.

O agora ex-presidente cometeu um erro durante a campanha eleitoral: apresentou-se como possível aliado da AD, reagiu Paulo Sande. O especialista em política disse na rádio Observador que ficou surpreendido com esta decisão, admitindo que Rocha falhou na gestão de expectativas.

Havia a expectativa de a IL integrar o Governo; a expectativa de os votos de AD e IL, juntos, serem suficientes para a maioria absoluta.

Rui Malheiro, candidato derrotado à presidência da IL já neste ano, comentou no Diário de Notícias que também foi “apanhado de surpresa” pela saída de Rui Rocha.

8 anos, 6 presidentes

Mas um mandato curto, uma passagem curta pela presidência da IL, não surpreende: o partido só foi fundado em 2017 e, ao longo destes 8 anos, já vai para o seu 6.º presidente. Teve 4 presidentes efectivos e o actual, que é interino.

O seu primeiro presidente foi Miguel Ferreira da Silva. Não durou um ano: em Agosto de 2018 deixou o cargo por causa da página do partido no Facebook. É que a página oficial da IL naquela rede social foi a página que apoiou António Costa na corrida à liderança do PS, em 2014. Era a mesma conta, que depois foi aproveitada por Alexandre Krauss para o arranque do partido; Krauss era apoiante de Costa mas depois afastou-se e fundou a IL. Miguel queria o encerramento da página, a comissão executiva achou que não; o presidente demitiu-se.

O presidente seguinte foi Carlos Guimarães Pinto, ainda hoje deputado, e um dos nomes mais respeitados dentro do partido. Só foi líder durante pouco mais de um ano: em Outubro de 2019, achou que a sua missão estava cumprida. “Não me podem pedir que continue a sacrificar a minha vida por uma causa. Foi um ano intenso em que tive que abdicar de muito para fazer este caminho. Fi-lo numa altura em que ninguém o teria feito”. Saiu no dia em que um deputado da IL falou pela primeira vez na Assembleia da República.

Seguiu-se o líder que se “aguentou” durante mais tempo na cadeira de presidente da IL: João Cotrim de Figueiredo, durante pouco mais de 3 anos. Mas, a certa altura, achou que o partido precisava de uma atitude “mais combativa” e “popular” – e João não era “a pessoa ideal para a corporizar”, disse o próprio.

O seu sucessor foi Rui Rocha, que não chegou a 2 anos e meio. Para já, fica Miguel Rangel como líder interino.

Sucessão?

Miguel Rangel é secretário-geral da IL e assume a gestão do partido porque nenhum dos quatro vice-presidentes quis ser presidente da comissão executiva. Ricardo Pais de Oliveira, Mariana Leitão, Angélique da Teresa e Rui Ribeiro – todos rejeitaram.

Não se sabe quem vai ser o próximo presidente do partido. Rui Malheiro já admitiu que pode ser candidato, Mariana Leitão (líder parlamentar) será a favorita, mas também há a possibilidade Mário Amorim Lopes.

Bernardo Blanco já assegurou que não vai ser candidato a presidente da IL. Ao mesmo tempo que também admitia uma “excessiva colagem à AD”, na última campanha eleitoral.

A Iniciativa Liberal é um partido com uma “dificuldade de definição da ideologia liberal, que é uma ideologia complexa. A IL já foi acusada de ser de esquerda”, lembra Paulo Sande.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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