A guerra em Gaza significa que a União Europeia de Radiodifusão está a arriscar a sua reputação liberal, mas banir Israel seria minar o propósito fundamental da organização.
Enquanto se preparam para assistir à final deste sábado, muitos fãs da Eurovisão sentir-se-ão divididos. Alguns não vão mesmo ver de todo, e a razão é a participação de Israel.
Não se supõe que a Eurovisão seja sobre “amor, amor, paz, paz”, como os apresentadores suecos do concurso de 2016 retrataram de forma tão memorável?
Se assim for, diz o escritor britânico Chris West num artigo de opinião no The Guardian, poderão alguns perguntar o que está Israel a fazer na Eurovisão?
Algumas pessoas argumentam que as pessoas que dirigem a Eurovisão, membros da União Europeia de Radiodifusão (UER), são simplesmente cobardes. Outros apontam para o patrocínio do evento pela Moroccanoil, que, apesar do nome, é israelita.
Mas uma grande organização internacional como a União Europeia de Radiodifusão dificilmente depende de uma empresa de produtos de beleza.
O vlogger da Eurovisão Matthew Wrather apresentou um argumento mais subtil: trata-se do propósito fundamental da UER. Quando a união foi fundada, em 1950, tinha tanto uma função “técnica”, como uma que agora consideraríamos política.
Tecnicamente, o projeto visava partilhar ideias e permitir transmissões internacionais. O concurso de canções era apenas uma delas; a primeira até foi um festival em Montreux.
Politicamente, a UER apoiava a “radiodifusão de serviço público” estatal com um viés fundamentalmente crítico e liberal: as emissoras que eram simplesmente porta-vozes dos seus governos eram excluídas.
Tendo lutado contra o nazismo e vivendo agora à sombra da Rússia soviética, os europeus ocidentais viam o debate aberto como estando no cerne da radiodifusão séria.
Desde então, no entanto, este modelo tem sido alvo de críticas. Em grande parte da Europa, a direita ataca consistentemente as emissoras de serviço público como porta-vozes liberais.
Em contrapartida, muitos à esquerda, veem as radiodifusoras de serviço público como bastiões de valores conservadores, defendendo o status quo na melhor das hipóteses — ou como propaganda estatal, na pior. Com a sua missão assim contestada, a UER está entre a espada e a parede, como não estava em 1950.
Em nenhum lugar isto é mais verdadeiro do que em Israel.
Em 2017, Benjamin Netanyahu aboliu a antiga IBA, a Autoridade de Radiodifusão de Israel. Nesse ano, a Eurovisão foi precisamente a sua última transmissão.
As razões citadas foram financeiras, mas os comentadores argumentam que foi uma jogada política: a IBA era vista como demasiado de esquerda. Foi substituída pela Kan, a emissora atual.
A Kan é mais dócil do que a IBA – mas ainda não suficientemente dócil para o governo, que quer entregá-la ao setor privado.
O ministro das comunicações, Shlomo Karhi, tinha anteriormente apresentado uma proposta para este efeito em 2023, acusando a rede de cobertura tendenciosa e alegando que falava de “forma vergonhosa” com membros do governo. O organismo “estaria a quebrar as regras da UER” e não seria permitido na Eurovisão.
A UER sente-se obrigada a proteger a Kan, mesmo que isso signifique arriscar a marca Eurovisão. Foi para isso que foi criada: para defender a radiodifusão de serviço público “livre e independente“.
Gerir o concurso de canções da Eurovisão é apenas tangencial a essa missão.
Não há uma saída fácil. Após a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin, a UER não fez nenhum movimento para banir a Rússia da Eurovisão até que as nações participantes passaram de emitir declarações e sugerir diálogo para dizer que sairiam da organização – momento em que a UER rapidamente agiu.
O mesmo não aconteceu com o envolvimento de Israel na competição, salienta Chris West, autor do livro “Eurovision: A History of Modern Europe Through the World’s Greatest Song Contest“.
A UER é, de certa forma, vítima do seu próprio sucesso na gestão da Eurovisão. O concurso cresceu das suas raízes originais, essencialmente descontraídas, para algo que envia poderosas mensagens políticas por todo o mundo.
Os seus dirigentes tiveram uma tarefa fácil durante muito tempo, já que estas mensagens eram pouco controversas nos círculos liberais.
Quando a cantora israelita transgénero Dana International venceu em 1998, a UER pôde genuinamente dar-se uma palmadinha nas costas por estar na vanguarda da mudança social.
O mesmo com a magnífica vitória de Conchita Wurst em 2014. A Eurovisão era sobre coisas boas e maravilhosas. “Amor, amor, paz, paz“.
Agora, a organização encontra-se num dilema. O atual governo israelita não é um praticante da paz e a sua participação no concurso tem sido usada por alguns para demonstrar apoio à nação.
A longo prazo, a UER deve ou abdicar do controlo do concurso de canções — ou mudar a sua missão, para que a proteção da marca Eurovisão esteja inequivocamente no seu coração. Deve estabelecer regras mais claras para a elegibilidade, para que o concurso seja realmente sobre “amor, amor, paz, paz”.
Mas este ano, a final do Concurso da Eurovisão não será um programa fácil de assistir para um fã moderado, conclui Chris West.
Farto-me de dizer que quem começou esta merda foi o Hamas… a culpa não é de Israel. Mas não me espanto, porque a esquerdalhada defende os atacantes, em vez de defender os atacados, o que demonstra a sua miséria ideológica quase “eterna”.