Primeiro combate real de sempre entre armas chinesas e ocidentais. Os caças da China arrasaram

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ZAP // Wikipedia; IAF; Lisa / Pexels

AWAC e caça J-10C chinês da Força Aérea do Paquistão (esq), caças Dassault Rafale da Força Aérea da Índia (dir) / montagem

O segredo do sucesso dos caças chineses do Paquistão contra os Rafale indianos de fabrico francês é simples: a supremacia de sistemas interligados e bem coordenados sobre armas mais sofisticadas.

Na semana passada, no auge da escalada de tensão entre a Índia e o Paquistão, caças das forças aéreas dos dois países envolveram-se num breve confronto nos céus da Caxemira — que opôs, pela primeira vez, armamento da China e do Ocidente num conflito real.

O resultado da escaramuça parece ter sido arrasador: segundo a Reuters, um caça J-10C paquistanês de fabrico chinês abateu pelo menos dois caças Rafale de origem francesa ao serviço da Força Aérea da Índia.

Segundo um relatório da China Space News divulgado esta segunda-feira, o segredo do sucesso do J-10C deve-se a um novo sistema de combate avançado, designado ABC: “marcado por A, lançado por B, guiado por C”.

Ao contrário do combate aéreo tradicional, onde um caça trata sozinho da deteção dos alvos e orientação dos seus mísseis, a abordagem do sistema de combate paquistanês usou dados partilhados em tempo real entre três plataformas diferentes, explica o relatório, citado pelo South China Morning Post.

Em primeiro lugar, sistemas terrestres marcaram os alvos; seguidamente, caças de combate lançaram mísseis à distância; finalmente, uma aeronave AWAC (sistema aéreo de alerta precoce e controlo) guiou com precisão os mísseis paquistaneses até ao seu alvo.

A eficácia deste sistema parece ter dado uma vitória arrasadora à Força Aérea do Paquistão — que reivindica ter abatido cinco aeronaves inimigas durante a dogfight da semana passada: três Rafale da francesa Dassault Aviation, além de um MiG-29 e um Su-30, ambos de origem russa.

Como funciona o ABC chinês

O sistema “marcado por A, lançado por B, guiado por C” divide o combate aéreo em três fases, com elos interligados. Na primeira fase (A), radares terrestres detetam e fixam alvos inimigos.

Na segunda fase (B), caças de combate ligados a estes radares por um sistema local de comunicação disparam os seus mísseis, a partir de distâncias seguras, sem necessidade de se aproximarem sequer do seu alvo; os mísseis vão seguir o seu caminho.

Finalmente, na terceira fase (C), a uma altitude mais elevada, uma aeronave AWAC equipada com radares guia os mísseis até que estes atinjam o seu alvo — enquanto o caça bate em retirada, longe do alcance dos aviões inimigos.

O fator chave do sistema é a interligação de dados entre as três plataformas, que partilham informação em tempo real — o que permite que os caças efetuem os chamados “ataques BVR” (para além do alcance visual).

O sistema ABC requer condições ótimas. Além do apoio aéreo de um AWAC aos caças envolvidos no combate, é necessário controlar território próximo do local do confronto, que permita o apoio dos radares no solo.

Neste caso, ambas as esquadrilhas dispunham destas condições (embora um relatório militar alertasse já em 2022 para a escassez de AWACs da Força Aérea da Índia), mas o sistema usado pelos militares paquistaneses mostrou-se mais eficaz e apanhou de surpresa os caças indianos — devido a um pequeno detalhe.

“Mesmo um atraso de um segundo na transmissão de dados pode ser fatal em combates modernos”, explica um analista chinês citado pelo SCMP. “E o sistema de dados da esquadrilha da Índia tem uma integração menos precisa, porque os seus radares terrestres, AWACS e caças são de diversos fabricantes e nacionalidades, o que retarda a deteção e perturba a resposta”.

Com mais de 400 aviões de combate (entre os quais dezenas de caças F-16 norte-americanos, MIG-21 e MIG-19 russos e vários Mirage III), a Força Aérea paquistanesa levou para este confronto um par de J-10Cs chineses e o seu AWAC de companhia. Aparentemente, uma boa combinação.

Lições para o ocidente

Os conflitos modernos já não se decidem pelo poder de fogo, mas pela capacidade de integrar sistemas dispersos — radares, caças, drones — numa rede única. O combate evoluiu para um confronto sistémico, inteligente e assimétrico, nota o El Confidencial.

Até agora, pensava-se que apenas a NATO e os Estados Unidos tinham este tipo de sistemas inteligentes interligados, nas quais os dados são partilhados em tempo real por todos os elementos em combate. A China mostrou que tem a mesma capacidade — que os especialistas ocidentais afirmavam que ainda não dominava.

Para os Estados Unidos e a NATO, o desafio é agora duplo: não só manter a sua vantagem tecnológica, mas também contrariar uma possível proliferação de sistemas ABC apoiados pela China em todo o mundo, capazes de converter equipamentos menos sofisticados — mas bem coordenados — numa ameaça letal para as suas forças e as dos seus aliados.

O desafio é ainda maior para a Europa: numa altura em que os EUA parecem voltar costas aos seus (antigos) aliados e o futuro da NATO é incerto, o aumento previsto nos orçamentos de defesa não é porventura sequer para manter vantagem tecnológica — mas para recuperar o atraso que os Rafale deixaram à mostra.

A lição da Caxemira é clara: na guerra do futuro, a soma efetiva das partes será mais letal do que sistemas superiores mal coordenados — e quem não os tiver, não terá capacidade nem de dissuadir o inimigo de iniciar uma agressão, nem de se defender dela.

Armando Batista, ZAP //

2 Comments

  1. Ótima noticia!!! Lição para a Europa a custo zero!

    Aprendam… ou então fiquem só a ver e depois peçam ajuda ao mano Americano.

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