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Conclave marcado para dia 7 de maio. Angelo Becciu, condenado por fraude, decidiu finalmente “obedecer à vontade do Papa Francisco”.
Os cardeais reunidos no Vaticano fixaram o dia 7 de maio como data para o início do conclave, que irá eleger o sucessor do Papa Francisco, informou a agência italiana Ansa, citando fontes da Congregação Geral.
De acordo com as regras do Vaticano, os cardeais participarão numa missa solene na Basílica de São Pedro, no Vaticano, na manhã do dia 7, antes de os eleitores com menos de 80 anos se reunirem na Capela Sistina à tarde para a votação à porta fechada, que poderá durar vários dias.
Becciu “obedece à vontade do Papa Francisco”
Entretanto, o cardeal italiano Angelo Becciu, condenado por fraude financeira no Vaticano, comunicou esta terça-feira que não vai participar no conclave para “obedecer à vontade do Papa Francisco”.
Becciu tem estado a participar nas Congregações Gerais, reuniões de cardeais que são feitas quase diariamente num período de Sede Vacante para fazer a gestão quotidiana do Vaticano, mas, segundo duas fontes contactadas pela Lusa, ter-lhe-ão sido mostradas cartas assinadas por Francisco a indicar que não o queria no Conclave.
“Tendo em mente o bem da Igreja, que servi e continuarei a servir com fidelidade e amor, bem como contribuir para a comunhão e a serenidade do conclave, decidi obedecer, como sempre fiz, à vontade do Papa Francisco de não entrar no conclave, mantendo-me convencido da minha inocência”, referiu, em comunicado, o cardeal, de 76 anos.
O “não-eleitor”, próximo do Papa, queria participar
Becciu, nascido na Sardenha, era muito próximo do Papa e foi nomeado cardeal por Francisco, tendo assumido responsabilidades elevadas na Cúria romana, particularmente na Congregação para a Causa dos Santos e na Secretaria de Estado.
Por desvios financeiros, entre as quais a aquisição de um imóvel de luxo em Londres com dinheiro de uma coleta anual para obras de caridade, o antigo conselheiro de Francisco foi condenado no final de 2023, em primeira instância, a cinco anos e meio de prisão, pela justiça da Santa Sé.
O cardeal recorreu da sentença e está a aguardar em liberdade o recurso. Em 2020, foi afastado de quaisquer funções, mas conservou o título de cardeal.
Após a morte de Francisco, na semana passada, o cardeal disse à imprensa italiana que poderia participar no Conclave.
Becciu está abaixo do limite de idade de 80 anos e tecnicamente elegível para votar, mas as estatísticas oficiais do Vaticano listam-no como um “não-eleitor”.
O documento do Vaticano que regula um conclave, conhecido pelo seu nome latino Universi Dominici Gregis, estabelece os critérios para os eleitores, deixando claro que os cardeais com menos de 80 anos têm o direito de eleger o Papa, exceto aqueles que foram “canonicamente depostos ou que, com o consentimento do Romano Pontífice, renunciaram ao cardinalato”.
Após a morte de um papa, “o Colégio dos Cardeais não pode readmiti-lo ou reabilitá-lo”, refere o documento.
Em 2020, os serviços de imprensa do Vaticano referiram que Francisco havia aceitado a renúncia de Becciu como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos “e seus direitos ligados ao cardinalato”.
Depois de forçar a demissão de Becciu, Francisco visitou-o em algumas ocasiões e permitiu-lhe participar na vida do Vaticano, mas também alterou a lei do Vaticano para permitir que o tribunal criminal da cidade-Estado o processasse.
Sumo secretismo para escolher sumo pontífice
A eleição no Conclave (do latim ‘cum clavis’ ou fechado à chave) está definida até aos mais ínfimos pormenores na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, revista por João Paulo II em 1996, e é secreta.
O sistema de fechar os cardeais iniciou-se no Concílio Lyon II (1274), convocado pelo Papa Gregório X, e hoje os também designados “príncipes da Igreja” estão proibidos de trocar cartas, mensagens ou telefonar a alguém do exterior, assim como de ler jornais, ouvir rádio ou ver televisão enquanto durar a reunião, para evitar pressões.
A obrigação de manter segredo estende-se a todos os funcionários do Vaticano que servem os cardeais neste período ou que têm acesso aos locais em que se encontram e quem violar as regras será castigado, podendo mesmo ser expulso da Igreja Católica.
“Todos fora”: a missa para a eleição
A assembleia dos cardeais eleitores é precedida da missa “Pro eligendo Pontifice” (para a eleição do Pontífice), na qual os cardeais pedem apoio espiritual na escolha do novo Papa. Na tarde desse dia, os prelados dirigem-se em procissão solene para a Capela Sistina, onde decorre a reunião, invocando com o cântico “Veni Creator Spiritus” (Vem Espírito Criador) a assistência do Espírito Santo.
No local do escrutínio, um por um e numa sequência predeterminada, juram com a mão direita sobre a Bíblia manter segredo sobre as discussões relativas à eleição, antes de se sentarem nos lugares que ocuparão durante o Conclave.
Os cardeais terão ainda de ouvir um discurso sobre a escolha que vão fazer e esperar que o eclesiástico que o fez e o Mestre das Celebrações Pontifícias abandonem a sala à ordem deste “Extra omnes” (Todos fora, os que não participam no escrutínio).
As portas da sala são fechadas, ficando sob a proteção da Guarda Suíça, o exército do Vaticano, e os cardeais podem então a sós dar início à eleição.
Defininfo o perfil do novo “pastor de almas”
Antes da realização do Conclave, todos os elementos do Colégio Cardinalício, atualmente 252, terão discutido o estado da Igreja e definido o perfil do novo Papa, que deverá ser um bom “pastor de almas”, teólogo e diplomata, além de falar várias línguas, em primeiro lugar o italiano, a língua oficial do Vaticano.
Os cardeais não podem declarar-se candidatos, só podendo ser considerados como tal pelos seus pares durante a eleição, e também não lhes é permitido chegarem a acordos ou fazerem promessas, absterem-se ou votarem em si mesmos.
Para que seja eleito o novo Papa é precisa uma maioria de dois terços, estando prevista a realização de duas votações de manhã e duas à tarde, após cada duas delas os boletins de voto são destruídos num fogão instalado na Capela Sistina e a cor do fumo da queima indica o resultado, preto se o escrutínio continuar, branco se tiver sido escolhido o novo líder dos católicos.
Caso ninguém tenha sido eleito nos primeiros três dias do Conclave está previsto um dia de reflexão, que terá de ser seguido de sete outras votações inconclusivas antes de passar a ser necessária apenas uma maioria absoluta.
ZAP // Lusa