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Desistiu da faculdade na China, perdeu a bolsa nos EUA. Vende snacks, ganha 80€ /dia e é feliz

// Doctorwangzhi / Wikipedia; Douyin; Weibo

Fei Yu, de 24 anos, vende agora snacks numa banca de rua junto à sua antiga universidade, em Sichuan

A pressão académica levou um jovem chinês, de família pobre, a abandonar uma universidade chinesa de elite. Os cortes de Donald Trump no financiamento das universidades cancelaram a bolsa de doutoramento nos EUA. É feliz a vender puré de batata numa banca de rua junto à sua alma mater.

O jovem Fei Yu, de 24 anos, que desistiu recentemente do seu mestrado na prestigiada Universidade de Fudan, em Xangai, para montar uma banca de comida na rua, captou recentemente a atenção das redes sociais na China.

Segundo o South China Morning Post, antes de tomar a pouco convencional decisão, Fei estava a caminho de se tornar um estudante de elite.

Apesar de ter origens numa família pobre na província de Sichuan, no sudoeste da China, Fei estudou arduamente para entrar na Universidade de Sichuan, uma instituição de elite na China. No verão de 2022, licenciou-se em saúde pública e foi admitido na escola de pós-graduação da Universidade de Fudan.

Fei não teve sequer de se submeter ao teste de admissão, pois as suas notas estavam classificadas em primeiro lugar no seu ano durante os seus cinco anos de licenciatura.

No entanto, no início de 2023, depois de frequentar apenas um semestre na Universidade de Fudan, Fei abandonou os estudos.

O jovem explica que tomou a decisão porque não conseguia continuar os seus estudos devido a uma depressão, insónias e problemas de estômago causados pela pressão e maus-tratos por parte do seu orientador. Fei recusou-se a dar detalhes sobre a sua experiência ou revelar o nome do seu professor.

Depois de um ano inativo, Fei candidatou-se a estudar no estrangeiro, em projetos de doutoramento em medicina preventiva em várias universidades públicas nos Estados Unidos — e, no inicio deste ano, foi admitido com uma bolsa numa universidade norte-americana.

Mas os recentes cortes no financiamento das universidades decretados pela administração de Donald Trump fizeram com que a instituição tivesse sido forçada a retirar o apoio financeiro a Fei.

A perda da bolsa obrigou o jovem a desistir do seu plano de estudos no estrangeiro, que não tem condições de pagar. O pai de Fei é mineiro em Leshan, Sichuan, enquanto a mãe faz trabalhos ocasionais em supermercados.

Fei pensou então que poderia ganhar a vida com uma banca de comida de rua depois de se lembrar que, quando era jovem, ajudava a avó a vender balões — com bastante  sucesso. Além disso, Fei tinha sido “campeão de vendas” de cartões telefónicos enquanto trabalhava em part-time durante os estudos em Sichuan.

A 10 de março, Fei iniciou um negócio de puré de batata, e montou uma banca de venda de snacks perto dos portões da sua alma mater, a Universidade de Sichuan, em Chengdu.

Até agora, o desempenho do negócio tem sido satisfatório, diz Fei. Os clientes fazem frequentemente fila para comprar a comida, e ganha entre 80 e 120 euros por dia.

Muitos dos clientes conheceram a sua história através das redes sociais, conta Fei. “Não me sinto envergonhado de todo. Sou extrovertido. Acho que é uma coisa boa que as pessoas conheçam a minha identidade e estejam curiosas sobre mim. Se acharem que o sabor da comida é bom, certamente voltam para comprar“.

Algumas pessoas criticaram-no por desperdiçar recursos educacionais, mas Fei discorda. “Não acho que seja uma pena ter interrompido os meus estudos de mestrado e não ter aceitado um trabalho relacionado com a minha área. Na minha opinião, não é o resultado que é importante, mas o processo“.

Diariamente, Fei passa cerca de 4 horas a preparar o seu puré de batata e outros ingredientes alimentares, antes de abrir a sua banca, às 17h. Fecha normalmente duas a três horas mais tarde, quando esgota os produtos.

“É exaustivo. Mas não tenho qualquer pressão psicológica dos estudos académicos”, conta Fei. “Ao libertar-me dos estudos ou da investigação científica, sinto que entrei num novo mundo“.

ZAP //

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