38% dos portugueses pode estar a deitar ao lixo comida em bom estado apenas por ignorância. Não saber interpretar corretamente o significado das datas nos rótulos leva frequentemente ao desperdício de alimentos ainda em bom estado.
O desperdício alimentar continua a ser um grande desafio em Portugal.
De acordo com um novo estudo da Too Good To Go, empresa que combate o desperdício alimentar em todo o mundo, 38% dos portugueses podem estar a deitar fora alimentos em bom estado.
A principal causa? A confusão que há à volta da rotulagem das datas de validade.
Em Portugal, estima-se que cada português manda para o lixo mais de 184 kg de comida por ano.
Visto que, segundo a Comissão Europeia, cerca de 10% do desperdício alimentar na União Europeia (UE) está associado à má interpretação das datas de validade, aproximadamente 18 quilos de alimentos por pessoa podem estar a ser desperdiçados anualmente em Portugal por ignorância.
“Consumir até” vs. “Consumir de preferência antes de”
De acordo com o estudo da Too Good To Go, quase 40% dos portugueses admite deitar fora alimentos só por terem ultrapassado a data de durabilidade mínima, o que leva frequentemente ao desperdício de alimentos ainda próprios para consumo.
Esta falta de literacia alimentar traduz-se numa má interpretação das datas indicadas nas embalagens: 30% dos portugueses admite não saber interpretar o que realmente indica a data “Consumir de preferência antes de”, o que pode levar ao descarte desnecessário de alimentos que ainda estão em bom estado.
Além disso, 63% dos portugueses admite que se guia principalmente pela data de consumo preferente indicada no rótulo para determinar se um alimento ainda está em boas condições para consumo. Ou sejam ignora outros sinais importantes como o cheiro, o aspeto ou o sabor.
“Esta dependência excessiva da data impressa leva ao desperdício de comida que poderia, na realidade, continuar a ser consumida com segurança, contribuindo para um problema que é, muitas vezes, evitável”, escreve a Too Good To Go em comunicado enviado ao ZAP.
Para esclarecer a confusão em torno dos diferentes tipos de data e as suas implicações, importa seguir as definições da ASAE – Autoridade de Segurança Alimentar e Económica:
- A Data de Validade (“Consumir até”) indica o prazo limite até ao qual o alimento pode ser consumido em segurança. Trata-se de uma indicação usada sobretudo em produtos muito perecíveis do ponto de vista microbiológico, como carne ou peixe frescos, que, após essa data, podem constituir um risco para a saúde.
- Já a Data de Durabilidade Mínima (“Consumir de preferência antes de”) refere-se ao período durante o qual o alimento mantém as suas propriedades específicas, desde que armazenado corretamente. Após essa data, o produto pode ainda ser consumido, desde que mantenha bom aspeto, cheiro e sabor, sem colocar em causa a saúde do consumidor.
“Observar, Cheirar, Provar”: use os sentidos
“Em Portugal, ainda 47% das pessoas afirmam que não utilizam os sentidos para saber se um produto está ótimo para consumo”, disse, no comunicado, o diretor da Too Good To Go em Portugal, Maria Tolentino.
Além disso, “cerca de 61% das pessoas diz que a informação sobre a rotulagem de datas não é suficiente ou é confusa, e isso talvez os leve a desperdiçar comida que ainda poderia estar boa para consumir”, acrescentou.
Desde 2021, a Too Good To Go tem vindo a sensibilizar para o desperdício alimentar com a campanha “Observar, Cheirar, Provar”, uma iniciativa que pretende ajudar os consumidores a tomarem decisões mais conscientes em casa.
Várias embalagens de alimentos têm agora um pictograma de um olho, um nariz e uma boca, que é colocado na data de durabilidade mínima para relembrar que, mesmo depois de ultrapassada a data, o produto pode continuar em boas condições se mantiver bom aspeto, cheiro e sabor.
Embora 60% dos consumidores diga usar sempre os sentidos, quase metade admite que só o faz ocasionalmente ou nunca.
Todos os anos são desperdiçadas mais de 2.500 milhões de toneladas de alimentos em todo o mundo, o que representa 40% da comida produzida a nível global.
Aplicações móveis como a Too Good To Go oferecem aos utilizadores a oportunidade de salvar comida a preços muito reduzidos.