/

O fenómeno Freida Mcfadden: sim, a forma é sempre a mesma – e então?

(dr) Freida Mcfadden

Freida Mcfadden

A misteriosa médica, que já será mais escritora do que médica. 17 livros em 5 anos; e vêm aí mais. Rainha de vendas em Portugal.

Freida McFadden. Há poucos anos, quando a pandemia apareceu por exemplo, ninguém sabia quem era. Desde 2020 já publicou… 17 livros. É um fenómeno mundial, é rainha de vendas em Portugal.

Na verdade, a escritora nem se chama Freida McFadden. Como é que se chama mesmo? Ninguém sabe. O que se sabe sobre a sua vida? Pouco, muito pouco: terá 44 anos, é médica especializada em problemas cerebrais, aparentemente trabalha em Boston. E pronto. É isto.

A SIC Notícias chama-lhe “mistério”. E é um bocado. Apareceu de repente no mundo literário e, rapidamente, tornou-se uma “estrela”. Mas raramente aparece, usa peruca quando aparece, com roupa que não usa nos outros dias…

A comunidade de leitores “McFans” não admite mas, dada a cadência de publicações, há quem pergunte se é o ChatGPT a escrever por ela – algo que seria um bocadinho complicado, porque esse “amigo” só apareceu no final de 2022.

A editora em Portugal é a Alma dos Livros. Ricardo Antunes, dessa editora, resume na SIC: “O sucesso é o boca a boca. É as pessoas gostarem dos livros. Livros que se lêem rápido. Muitas das vezes há uma personagem feminina forte, que normalmente, tem alguma espécie de dificuldade ou problema ou que esteve envolvida em pequenos crimes ou grandes crimes e que tenta recompor a sua vida”.

Na verdade, a forma é a mesma. O estilo não sai daquilo. Facilmente encontrámos no Reddit uma partilha de um leitor que pergunta: “Sinto que os livros dela são todos similares, iguais? Marido bonito, personagem feminina, uma ama ou dona de casa, um clichê de ciúmes. Até há frases que ela usa em dois livros“.

Mas… “Não consigo evitar ler todos os livros dela. Sou viciada, adoro o suspense e as reviravoltas. Mais alguém vê muitas semelhanças e as mesmas coisas nos livros dela?”

Sim, mais alguém vê

Encontrámos Inês Martinho, uma leitora apaixonada por livros de Freida McFadden. Confirma que a forma é a mesma – e então? Se resulta… E as reviravoltas inesperadas dão-lhe um toque especial. A 23 de Abril, Dia Mundial do Livro, partilhamos a análise de Inês.

ZAP – O que achas que originou este fenómeno?
Inês – Não me lembro como começou. Lembro-me que, de um momento para o outro, só se falava da Freida Mcfadden. Acho que comecei a ouvir falar dela no tiktok. Entretanto, já tinham saído uns 3/4 livros em Portugal quando, uma amiga (também louca por livros), me emprestou A Criada. Devorei o livro em poucas horas, e fiquei completamente agarrada à escrita da Freida. Entretanto li todos os restantes em ebook. E são livros que leio, normalmente, numa tarde ou entre o fim de uma noite e uma tarde.

ZAP – Há relatos de que o esquema, a sequência dos livros é sempre a mesma. Confirmas? O que há de diferente entre os livros?
Inês – Bem, sim. Confirmo que, lendo alguns livros dela, consegues perceber que são todos da mesma “forma”. Ou seja, a história é completamente viciante, sabes que o plot te vai deixar boquiaberto mas, se achas que sabes o que vai acontecer, não é nada daquilo que estás a pensar. Já desisti de tentar adivinhar porque até hoje, não acertei nenhum. O que há de diferente entre os livros é mesmo a história em si. Acho que os encaixo na categoria de trilher/suspense/drama. Mas sim, o esquema de desenvolvimento das histórias é, no fundo, sempre o mesmo.

ZAP – E consideras que resulta? E há algum mal nisso?
Inês – Não sinto que haja algo de errado. É um esquema que ela usa e que já percebeu que funciona. Parece-me mesmo que é a forma de ela escrever (com uns extras para cativar e agarrar o leitor) mas, no fundo, funciona e não há nada de errado com isso. Eu já começo um livro a pensar: pronto, lá vamos nós achar uma coisa que, afinal, não vai ser nada disto. E quando ela dá um plot final mesmo na última página? Aconteceu com A Professora e eu fiquei de queixo caído a processar aquilo durante umas horas. Também é a única autora que me consegue tirar de uma ressaca literária, funciona na perfeição. No entanto, na minha opinião, os livros dela têm um defeito: são tão viciantes (quase como uma droga), que depois pode tornar-se difícil ler outras coisas. Custou-me ao início, agora já é tranquilo.

Curiosamente, no dia em que Inês nos respondeu, foi anunciado que vai ser publicado no dia 5 de Junho. “Não páram”, reagiu Inês – que certamente está já à espera dessa novidade…

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.