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Esqueça os medicamentos ou a borracha: o petróleo refinado é a maior exportação de Portugal para os EUA — e está livre de tarifas.
Funciona quase como uma troca aprimorada: Portugal importa crude dos EUA, porque compensa. exporta o petróleo refinado, sob a forma de gasolina e outros combustíveis.
“Os refinadores, incluindo o português — a Galp —, compram o crude que lhe é mais vantajoso, quer do ponto de vista da qualidade, porque tem influência nos custos da refinação, quer também do preço que é oferecido nos mercados internacionais. Este é um mercado a montante da refinação e que significa o aprovisionamento em matéria-prima”, explica o engenheiro António Comprido à CNN.
“Depois, um mercado independente e que não tem nada a ver, é o dos produtos refinados — as gasolinas, os gases de óleos, o jet fuel, o GPL, enfim, todos os produtos que saem da refinação do crude. Este é outro mercado, onde obviamente o refinador vende onde consegue preços que lhe sejam também mais favoráveis, funciona pura e simplesmente numa economia de mercado”, diz ainda o secretário-geral da Empresas Portuguesas de Combustíveis e Lubrificantes (EPCOL).
É facto que os medicamentos e produtos como a borracha são dos que mais pesam nas exportações portuguesas para os EUA. Aliás, se considerarmos os produtos farmacêuticos empacotados e não empacotados, estes têm a maior fatia das exportações de Portugal para o seu 4º maior mercado.
Mas na verdade, em separado, é o petróleo refinado que é o campeão de exportações portuguesas para os EUA. E — jackpot — este produto não está abrangido pelas tarifas.
Segundo dados do OEC, Portugal enviou só em janeiro 62 milhões de euros deste produto para os EUA. Em 2024, o volume de vendas superou os 1,07 mil milhões de euros.
Mas porque é que os EUA não produzem (nem taxam) este produto?
A resposta é simples: não conseguem. “A refinação tem alguns constrangimentos técnicos”, aponta António Comprido. Isto porque produzir petróleo refinado a partir do crude vai sempre gerar um certa quantidade de gasolina, outra de gasóleo, outra de jet fuel, etc.
Ou seja, os EUA têm uma grande dificuldade em produzir gasolina, porque produzi-la geraria um excedente dos restantes derivados do crude, e o problema de falta de escoamento podia até influenciar o preço do petróleo.
É por isso que Donald Trump não via taxar o petróleo refinado, garante o engenheiro, que explica que “os EUA não vão conseguir ultrapassar o défice de gasolina e a necessidade de importação de um momento para o outro“.
E conclui: “Os Estados Unidos vão continuar a precisar de importar gasolina, pelo menos durante muitos anos, e não há impacto de as tarifas não incidirem sobre os produtos energéticos, o que inclui a gasolina.”
Guerra das Tarifas
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Portugal tem um ovo de ouro na guerra das tarifas: gasolina