Parlamento espanhol aprovou descida da quantidade máxima de álcool permitida no sangue dos condutores, de 0,5 para 0,2 gramas por litro de sangue. SPA alerta para o elevado consumo de álcool no país e diz: “devia ser zero”.
O parlamento espanhol aprovou na terça-feira, numa primeira votação (ainda não definitiva), a proposta para reduzir a quantidade máxima de álcool permitida atualmente no sangue dos condutores de 0,5 gramas de álcool por litro de sangue para 0,2 gramas.
Segundo a proposta, esta taxa passará a ser aplicada a todos os condutores em Espanha, independentemente da profissão ou da antiguidade da carta de condução.
No preâmbulo da proposta do PSOE, lê-se que o álcool ou as drogas “são das principais causas de acidentes rodoviários em todo o mundo” e que em países como a Suécia e a Noruega, “líderes mundiais em segurança rodoviária”, a taxa é já de 0,2 gramas por litro de sangue, que também é recomendada por organizações internacionais, que entendem que “este limite equivale a tolerância zero”.
0,2 g/l “é completamente diferente” de 0,5 g/l
A Sociedade Portuguesa de Alcoologia saudou esta quarta-feira o início do processo legislativo, defendendo que Portugal devia seguir este exemplo para combater a sinistralidade rodoviária.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da Sociedade Portuguesa de Alcoologia (SPA), Joana Teixeira, considerou a iniciativa “de louvar” e uma “medida muito importante” no combate à sinistralidade rodoviária associada ao consumo de álcool. A especialista defendeu que Portugal deveria adotar uma política semelhante, alertando que “é completamente diferente” ter uma taxa de 0,2 ou de 0,5 gramas de álcool no sangue (g/l) no que se refere aos efeitos que produz sobre a perceção do condutor.
“As taxas de 0,2 gramas estão normalmente associadas a uma leve sensação de euforia, uma discreta redução das inibições e uma leve diminuição da coordenação motora.
Já “quando falamos de taxas de 0,5, temos uma euforia mais pronunciada”, elucidou a especialista, considerando que “há uma falta de consciência nesta problemática”. Com uma taxa de alcoolemia de 0,5 g/l, o automobilista começa a apresentar outros sintomas como “fala mais lenta, mais descoordenada, alteração, sobretudo, no julgamento e nas habilidades motoras e também uma sensação de relaxamento e perda de autocontrolo”.
“Portanto, não só temos maior risco de descoordenação em termos motores, mas também um aumento de risco para comportamentos impulsivos, o que na condução seguramente é grave”, alertou Joana Teixeira.
Limite “devia ser zero”. Portugal tem a ingestão diária de álcool mais frequente da Europa
Segundo a psiquiatra, a taxa de sinistralidade rodoviária associada a uma taxa de alcoolemia de 0,5 g/l é cerca do dobro da observada em condutores com 0,2 g/l. Defendeu serem necessárias campanhas de sensibilização para alertar a população para os riscos de conduzir sob o efeito de álcool, considerando que há falta de conhecimento sobre o efeito que o álcool produz em termos de perceção e de alteração de comportamento e do risco associado à condução.
Em Portugal, o limite legal de álcool no sangue é de 0,5 gramas para a generalidade dos condutores e de 0,2 g/l para condutores profissionais e com carta de condução provisória, mas para Joana Teixeira devia “ser zero”.
“Não deve ser moderado, não deve ser pouco, deve ser zero”, frisou.
A presidente da SPA também alertou para o elevado consumo de álcool em Portugal, citando os dados do Eurostat de 2024, segundo os quais “a ingestão diária de álcool em Portugal é a mais frequente da Europa”, com cerca de 21% da população a consumir bebidas alcoólicas diariamente, seguida de Espanha (13%).
Citou também os dados do 5.º Inquérito Nacional ao consumo de substâncias psicoativas na população portuguesa, do Instituto dos Comportamentos Aditivos e Dependências (IÇAS), que apontam um aumento de 50% da taxa de dependência de álcool numa década, entre 2012 e 2022.
“Passámos de uma taxa de dependência de álcool em Portugal de 3% em 2012, para 4,2% em 2022. Portanto, isto é gravíssimo e é um problema que tem que ser realmente encarado e resolvido”, defendeu Joana Teixeira.
A eventual redução da taxa máxima de álcool na condução vai estar em discussão no âmbito da consulta pública da Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária, indicou hoje a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR).
ZAP // Lusa