Descobertos indícios de “cemitério de supernovas” no fundo do mar e na superfície da Lua

ESO/M. Kornmesser

Impressão artística da formação de poeira em torno de uma explosão de supernova.

Os vestígios podem estar ligados uma rara kilonova que terá ocorrido há cerca de 10 milhões de anos. Os cientistas querem aproveitar a missão Artemis para também analisar amostras da Lua.

Uma nova pesquisa apresentada pelo astrónomo Brian Fields na Cimeira Global de Física da Sociedade Americana de Física de 2025 aponta para a descoberta de vestígios de plutónio radioativo nas profundezas do mar, que podem estar ligados a uma rara explosão cósmica conhecida como kilonova.

Esta descoberta extraordinária sugere que os restos de alguns dos eventos mais violentos do Universo chegaram aos oceanos da Terra e podem também estar preservados na Lua.

O estudo baseia-se em décadas de investigação sobre detritos cósmicos. Desde os anos 90, Fields tem teorizado que os restos de supernovas se acumulam na Terra, uma hipótese confirmada em 2004 quando os cientistas detetaram isótopos de ferro radioativos em amostras de oceanos. Estes vestígios foram identificados como restos de supernovas que ocorreram há 3 milhões e 8 milhões de anos.

No entanto, em 2021, os investigadores encontraram um elemento ainda mais raro misturado com essas amostras: um isótopo radioativo de plutónio. Ao contrário do ferro, que é produzido pelas supernovas, pensa-se que este plutónio tem origem nas kilonovas – eventos cataclísmicos que ocorrem quando duas estrelas de neutrões colidem. Estas explosões são responsáveis pela formação de alguns dos elementos mais raros da Terra, como o ouro e a platina, explica o Live Science.

Fields e a sua equipa acreditam agora que ocorreu um evento de kilonova há pelo menos 10 milhões de anos, anterior às duas supernovas identificadas. Os materiais provenientes destas explosões misturaram-se, formando um “cocktail radioativo” que acabou por se instalar nos depósitos marinhos profundos da Terra.

Para reforçar as suas descobertas, os investigadores estão a voltar-se para outro arquivo cósmico: a Lua. Ao contrário da Terra, onde os processos geológicos e atmosféricos redistribuem os materiais, a superfície da Lua funciona como um registo imaculado de detritos extraterrestres.

Atualmente, as amostras de solo lunar continuam a ser escassas, mas Fields está otimista quanto ao facto de as futuras missões virem a fornecer um vasto material para estudo. “Neste momento, o nosso solo lunar é tão precioso porque é tudo o que temos”, disse. “A esperança é que, eventualmente, as viagens de rotina à Lua facilitem a recolha de amostras.”

À medida que as missões Artemis avançam, os cientistas estão a preparar propostas de investigação para garantir que a análise dos detritos cósmicos seja incluída nos próximos estudos. “As amostras estão a regressar de qualquer forma”, observou Fields. “Só queremos aproveitar a oportunidade.”

ZAP //

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