Miguel A. Lopes / Lusa

Foi diretor do Expresso e fundador do jornal Sol. No seu livro “proibido”, gerou polémica ao expor segredos de diversos políticos portugueses, o que lhe valeu a “inimizade” de José Sócrates. Morreu aos 77 anos, vítima de cancro.
Morreu esta quinta feira, 6 de março, o jornalista e arquiteto António José Saraiva, vítima de um cancro. Tinha 77 anos. Começou a escrever aos 17 anos, e colaborou com diversos jornais, desde A Bola, A República, o Diário de Lisboa ou o Portugal Hoje até ao Expresso, onde começou por ser colunista a convite de Marcelo Rebelo de Sousa.
Acabou por se tornar, em 1983, diretor do Expresso, no mandato mais longo até hoje: esteve 22 anos à frente do semanário. Quando saiu, fundou o jornal Sol, em 2006.
No dia 28 de fevereiro deste ano, publicou um artigo de opinião nesse mesmo semanário, intitulado “Não é uma despedida”, onde faz uma espécie de sumário das suas memórias.
Nele, escreve: “Qual era a ideia para o Expresso? Marcelo Rebelo de Sousa tinha saído para o Governo a convite de Francisco Pinto Balsemão e eu devia substituí-lo na Página 2, que era a mais emblemática. Recusei a ideia de imediato. Eu era arquiteto, trabalhava no ateliê de Manuel Tainha, perto do Hotel Sheraton, gostava muito do que fazia e a ideia de me tornar jornalista não me aliciava de todo”.
Mas foi nos odis campos que acabou por se destacar. Numa nota deixada no site da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa deixa-lhe uma homenagem: “para além da atividade como arquiteto, José António Saraiva dedicou-se à História, sobretudo a História política contemporânea, e teve um papel muito importante durante certo período da vida do Expresso, como analista político, como cronista histórico e como diretor de publicações“.
“É impossível contar o período das décadas de 80 e 90 sem mencionar o seu contributo, herdeiro de uma linhagem familiar também muito rica, em que avultam seu Pai António José Saraiva e seu Tio José Hermano Saraiva“, escreve ainda, mencionando os dois historiadores seus familiares que também marcaram a história do país.
No artigo para o Sol, menciona ainda uma época mediática da sua vida: o polémico livro Eu e os Políticos, que publicou em 2016, quando se despediu do jornalismo. No texto, conta diversos episódios controversos que viveu com políticos portugueses, e a publicação chegou a valer-lhe uma condenação pelo crime de devassa privada.
“O livro Eu e os Políticos foi objeto de grande escândalo, foi tema de muitos programas de TV, mas hoje posso dizer que o único objetivo foi corresponder à verdade e contar o que sabia com alguns filtros que usei para não entrar na esfera pessoal, como por exemplo o abuso de drogas por certos responsáveis”, escreve no Sol.
“Os inimigos que verdadeiramente tive foram pessoas que mostraram menos caráter, como José Sócrates; a contrário, julgo que encontrei pessoas decentes, corretas e sensíveis”, comentou.