ZAP/Colossal

Rato-lanoso ao lado de uma recriação 3D de um mamute lanoso.
Cientistas criaram ratos-lanosos ao tentar trazer de volta o mamute-lanoso: têm o pelo dourado e o metabolismo do gigante extinto. Mas será este o caminho certo para ajudar o planeta?
“Porquê deixar a natureza ao acaso?” é a pergunta que persegue Ben Lamm todos os dias. Na sua longa caminhada para reviver o mamute-lanoso, a sua empresa de biotecnologia conseguiu criar ratos-lanosos geneticamente modificados, com algumas características muito próximas do extinto animal da Idade do Gelo.
Com o pelo dourado, “roubado” ao gigante que o inspirou, os 38 ratos criados pelos cientistas da Colossal Laboratories and Biosciences, em Dallas, têm também um metabolismo acelerado e adaptado ao frio, que permitiu ao mamute sobreviver durante a era glaciar.
A equipa quer trazer o mamute, que desapareceu há cerca de 4 mil anos, de volta aos vivos até 2028. Tem estado a trabalhar no projeto desde que foi criada, em 2021, altura em que o material genético preservado nos restos de mamutes presos no permafrost (recuperado de ossos, pele e pelo) se tornou o seu foco do estudo.
Com amostras de ADN de cerca de 60 mamutes, os cientistas querem reintroduzir a espécie editando os genomas dos elefantes asiáticos modernos — com quem os mamutes partilham uma ligação evolutiva muito próxima — para incorporar traços dos mamutes.
Agora que conseguiram incluir o pelo e metabolismo característicos do gigante no seu rato-lanoso, os cientistas vão tentar editar os genes de células de elefante com CRISPR, a mais poderosa ferramenta de edição de genes, que serão depois introduzidas em embriões de elefante e, espera a equipa, darão origem a um mamute vivo.
“Ao criar múltiplas caraterísticas tolerantes ao frio a partir de percursos evolutivos gigantescos numa espécie modelo viva, provámos a nossa capacidade de recriar combinações genéticas complexas que a natureza levou milhões de anos a criar”, disse afirmou o diretor executivo da empresa, Ben Lamm, em comunicado.
Outros regressos nos planos
Além do mamute, a Colossal pretende recorrer a técnicas semelhantes para trazer de volta outros animais extintos como o dodó e o tigre-da-tasmânia.
O objetivo, segundo a Colossal, não passa só por recriar as espécies extintas, mas também por aumentar a resistência das espécies existentes, adaptando-as às condições ambientais em constante mudança. O ressurgimento de espécies como o mamute pode ajudar a restaurar os ecossistemas, particularmente no Ártico, argumenta a empresa. Os “novos” mamutes poderiam ajudar a evitar o degelo do permafrost, que liberta grandes quantidades do potente e perigoso metano.
Numa altura em que se prevê que até 50% das espécies da Terra se poderão perder até 2050, sabe-se que já 99% das espécies que viveram no planeta — mais de 5 mil milhões — já foram extintas.
Mas será contornar as regras da natureza o método mais eticamente correto de ajudar o ambiente? Muitos especialistas defendem que não.
Os riscos éticos (e biológicos)
Em resposta às preocupações de ética, a Colossal garante que o seu trabalho é rigorosamente supervisionado por conselhos de ética externos e que os ratos geneticamente modificados são mantidos em condições de tratamento rigorosas. Além disso os ratos são machos e não se destinam à reprodução, o que reduz riscos de fuga acidental ou de perturbação ecológica.
Mas o renascimento de espécies extintas, particularmente através da edição de genes, preocupa especialmente pelo fator imprevisibilidade da introdução de genes antigos em espécies modernas.
“Em certas espécies antigas de ADN, não se sabe qual é a função desse ADN, pelo que há mais do que problemas éticos; há riscos biológicos decorrentes da deslocação e edição do ADN”, diz Jiangbing Zhou, geneticista de Yale, ao Scientific American.
“Estamos perante um mundo em aquecimento e querem trazer de volta criaturas adaptadas ao frio?”, questiona a paleontóloga Elsa Panciroli. “Animais do passado devem ficar no passado”, acredita.
A Montanha pariu um Rato