Um novo estudo identificou um tipo de astrócito no cérebro de ratinhos que tem a capacidade única de proliferar e que pode ajudar a reparar tecidos danificados. Os cientistas precisam agora de determinar se existem células semelhantes nos cérebros humanos.
Uma equipa de cientistas identificou um tipo de célula nunca antes visto que pode ajudar a curar lesões cerebrais — pelo menos em cobaias.
Os investigadores descobriram um tipo único de astrócito, uma célula em forma de estrela que apoia a comunicação entre as células cerebrais, ou neurónios, e que as mantém saudáveis, estabilizando a barreira protetora do cérebro e regulando o equilíbrio das partículas carregadas e das moléculas sinalizadoras dos neurónios.
No cérebro, os astrócitos vivem na substância cinzenta, que contém a parte principal dos neurónios que contém o ADN e permite que as células processem a informação, ou na substância branca — os fios isolados que se estendem de alguns neurónios.
Há muito que os investigadores estudam o papel dos astrócitos da substância cinzenta, mas até agora pouco se sabia sobre os seus homólogos da substância branca.
No novo estudo, publicado a semana passada na revista Nature Neuroscience, os cientistas determinaram a função dos astrócitos da substância branca em amostras de tecido do cérebro de ratinhos. Para tal, analisaram a atividade dos genes que estas células expressavam ou “ligavam”.
Os investigadores identificaram dois tipos distintos de astrócitos da substância branca. O primeiro desempenhava o papel de “governanta”, que apoiava fisicamente as fibras nervosas e ajudava os neurónios a comunicar entre si.
Já o segundo tipo desempenhava uma função até então desconhecida para um astrócito na substância branca — tinha uma capacidade única de proliferar, criando assim novos astrócitos.
“Esta é uma descoberta muito importante, porque não era conhecida antes”, disse à Live Science a coautora do estudo, Judith Fischer-Sternjak, diretora-adjunta do Instituto Helmholtz Munique de Investigação de Células Estaminais, na Alemanha.
Os investigadores também descobriram que alguns destes astrócitos especiais e proliferativos foram capazes de se deslocar da substância branca para as regiões de substância cinzenta do cérebro do rato. Esta descoberta sugere que estas células podem atuar como um reservatório para novos astrócitos.
Se forem descobertos astrócitos semelhantes no cérebro humano, a investigação poderá levar ao desenvolvimento de novas terapias para reparar o cérebro após lesões ou danos, como os causados por doenças neurodegenerativas como a esclerose múltipla, sugerem os autores.
Por exemplo, os cientistas poderiam teoricamente aprender a manipular os astrócitos de modo a que estes proliferassem e substituíssem as células defeituosas ou perdidas, explica Fischer-Sternjak.
No futuro, os investigadores esperam aprender mais sobre a forma como os astrócitos da substância branca contribuem para a saúde geral do cérebro nos seres humanos.
Só então os cientistas poderão compreender como é que os astrócitos reagem às lesões e como é que podem mudar com a doença e o envelhecimento, conclui Fischer-Sternjak.