E o rei da pista da discoteca cósmica na Via Láctea foi… um buraco negro

Northwestern University

Espetáculo de luz cósmica foi como um fogo de artifício: um buraco negro “entrou em erupção” e provocou fortes clarões celestes.

Foi o Telescópio Espacial James Webb que detetou algo estranho a acontecer no buraco negro supermassivo Sagittarius A* — eram “flashes” luminosos fortes.

Agora, os cientistas acreditam que o fenómeno se deve ao disco de acreção — uma estrutura de gás e poeira que orbita o buraco negro — emite constantes erupções sem períodos de inatividade.

Dentro desse disco, estarão a ocorrer pequenas flutuações turbulentas, que serão as responsáveis por esta radiação, uma vez que podem comprimir um gás quente e energético chamado plasma.

“Nos nossos dados, vimos uma luminosidade em constante mudança e borbulhante”, escreveu o autor principal do estudo publicado no The Astrophysical Journal Letters, Farhad Yusef-Zadeh, professor de astronomia na Northwestern University, num comunicado a que a CNN teve acesso.

“E depois bum! Uma grande explosão de brilho apareceu de repente. Depois, voltou a acalmar-se. Não conseguimos encontrar um padrão nesta atividade. Parece ser aleatória. O perfil de atividade deste buraco negro era novo e excitante de cada vez que olhávamos para ele”, relembra.

Sagittarius A*, também conhecido por Sgr A*, foi observado durante 48 horas, repartidas ao longo de um ano, em dois comprimentos de onde diferentes.

“Espera-se que ocorram erupções em quase todos os buracos negros supermassivos, mas o nosso buraco negro é único”, explica o investigador.

“Está sempre a fervilhar de atividade e parece nunca atingir um estado estacionário. Observámos o buraco negro várias vezes ao longo de 2023 e 2024, e notámos mudanças em cada observação. Vimos algo diferente de cada vez, o que é realmente notável”, disse.

Era como ver o mundo a cores e a preto e branco, e encontrámos arco-íris“, disse Yusef-Zadeh. “Isto diz-nos mais diretamente sobre a natureza da atividade das chamas e as caraterísticas físicas do mecanismo de radiação, o campo magnético e a densidade das chamas”.

“Penso que o próximo grande passo será tentar ligar estas diferentes fontes de dados para formar uma imagem mais completa da física do ambiente em torno do buraco negro supermassivo”, acrescentou o professor de física Tuan Do.

Ralf Crawford (STScI) / NASA, ESA, CSA

Este conceito artístico retrata o buraco negro supermassivo no centro da nossa Galáxia, a Via Láctea, conhecido como Sagitário A*. Está rodeado por um disco de acreção rodopiante de gás quente. A gravidade do buraco negro curva a luz do lado mais afastado do disco, fazendo com que esta pareça envolver-se acima e abaixo do buraco negro. No disco são observados vários pontos quentes que se assemelham a erupções solares, mas numa escala mais energética. O Telescópio Espacial James Webb da NASA detetou tanto erupções brilhantes como cintilações mais ténues provenientes de Sagitário A*. As cintilações são tão rápidas que devem ter origem muito perto do buraco negro.

Buraco negro pode ter engolido um planeta

“Os astrónomos de raios X vêem provas razoavelmente fortes de que, nas últimas centenas de anos, houve pelo menos um, talvez dois casos de enormes erupções”, disse outro investigador, não envolvido no estudo, Mark Morris.

Estas tiveram “intensidades (10.000 a 100.000) vezes maiores do que qualquer coisa que tenhamos visto no último quarto de século em que temos examinado de perto o Sgr A*”.

De acordo com o físico, é possível que o que esteja a provocar as erupções do Sgr A* seja o facto de este ter engolido um planeta — há centenas de anos.

“Para além do puro interesse nos fogos de artifício mais deslumbrantes que o Universo pode produzir, esses fogos de artifício podem ter um efeito profundo na evolução das galáxias em que se encontram”, acrescenta ainda.

“Podem provocar ou impedir a formação de estrelas em grandes escalas, podem remover gás e limpar galáxias, deixando-as incapazes de formar estrelas”.

Carolina Bastos Pereira, ZAP //

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