EUA e Rússia reunidos para discutir fim da guerra na Ucrânia — ou para reacender amizade?

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Russian Foreign Ministry

Delegações dos Estados Unidos e Rússia reunidos esta terça-feira no Palácio Diriyah em Riade, Arábia Saudita.

São as conversações mais importantes desde a invasão russa à Ucrânia, mas têm lugar sem a Ucrânia e sem a Europa. O que se espera da reunião diplomática entre EUA e Rússia desta terça-feira?

Estados Unidos (EUA) e Rússia discutem esta terça-feira em Riyadh, na Arábia Saudita, o fim da guerra na Ucrânia, mas a reunião não passa de um primeiro passo para avaliar a vontade de Moscovo em acabar com a guerra que desencadeou em fevereiro de 2022, quando, no dia 24, invadiu a nação vizinha.

Praticamente três anos depois, neste dia 20 de fevereiro, ainda não terá lugar uma negociação formal para a paz. O diálogo desta terça-feira tem como objetivo perceber se a Rússia quer efetivamente por um ponto final no conflito e, do ponto de vista da Casa Branca, normalizar as relações com Moscovo, abrindo caminho para um futuro encontro oficial entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin.

“Tem havido tão pouca comunicação entre Washington e Moscovo durante tanto tempo que as expectativas para a reunião devem ser modestas“, confessa o historiador Stephen Wertheim à agência Reuters., que explica que “para além das negociações de cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia mediadas pelos Estados Unidos, poderá haver diálogos entre os EUA e a Rússia ou entre os EUA e a Europa e a Rússia sobre questões de segurança europeia para além da Ucrânia“.

Terá sido o recente telefonema entre os dois que levou os dois países a sentarem-se à mesa esta terça-feira. Do lado dos EUA, a delegação é liderada por Marco Rubio, Secretário de Estado, que se senta ao lado de figuras como o conselheiro de segurança nacional Mike Waltz e o multimilionário Steve Witkoff, amigo pessoal de Trump que tem desempenhado um papel importante nas negociações com o Kremlin. A Rússia é representada por Sergei Lavrov, Ministro dos Negócios Estrangeiros, e Yuri Ushakov, conselheiro de Putin, entre outras figuras-chave como Kirill Dmitriev, que deverá discutir questões económicas.

Ucrânia e Europa de fora. Mas porquê?

A Ucrânia não está presente neste diálogo: não foi convidada.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, voltou esta segunda-feira a deixar claro que rejeita qualquer acordo sem Kiev. É “inútil porque, infelizmente, a guerra está a decorrer no nosso solo”, disse o líder ucraniano, que acredita que a Rússia e os Estados Unidos só podem chegar a acordo sobre as suas relações bilaterais: “não podem certamente negociar sobre o nosso povo e as nossas vidas. Sobre o fim da guerra sem nós.”

“Legalmente, não abdicaremos dos nossos territórios, é claro que vamos recuperar tudo”, disse Zelenskyy, que este mês já admitiu em entrevista ao The Guardian a possibilidade de trocar territórios com a Rússia — um dia depois de Trump ter levantado a possibilidade da Ucrânia se tornar “russa um dia”.

Zelenskyy está na Turquia e é esperado na Arábia Saudita na quarta-feira, um dia depois da reunião entre os norte-americanos e os russos.

Macron falou com Trump ao telefone

E se a Ucrânia fica de fora, o mesmo se aplica aos restantes países europeus, que reuniram esta segunda-feira para decidirem como vão responder a Trump, que quer saber quais são os países dispostos a enviar militares para Kiev para impedir uma nova invasão russa, de modo a garantir o cumprimento de um eventual acordo e assegurar a estabilidade na região após a guerra.

Trump falou com o líder francês Emmanuel Macron, numa conversa “amigável” de cerca de 30 minutos, ainda antes desta reunião que contou com oito líderes de países europeus (Alemanha, Reino Unido, Itália, Polónia, Espanha, Países Baixos e Dinamarca).

Os dois homólogos discutiram a guerra na Ucrânia, a reunião de líderes europeus em Paris e a reunião entre EUA e Rússia desta terça-feira.

O presidente do Conselho Europeu, António Costa, defende que a União Europeia deve participar nas negociações com a Rússia para colocar um fim à guerra na Ucrânia, de forma a conceber a futura arquitetura de segurança da Europa. Por cá, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, insiste no mesmo.

“No total, [a Europa] contribuiu mais do que o parceiro norte-americano”, e por isso tem de ser considerada nas negociações, diz o chefe de Estado: a guerra na Ucrânia “é uma guerra global, mas que decorre na Europa e tem a ver com a segurança da Europa”.

Tomás Guimarães, ZAP //

1 Comment

  1. Não seria a primeira vez que o destino de uma nação era decidida por terceiros, sem a sua participação. Lembremo-nos de Munique, 1938, e o que aconteceu à Checoslováquia.

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