Porque é que alguns golfinhos urinam para o ar? Pode ser um sinal de amizade

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Inia geoffrensis

“Ficámos chocados, pois nunca tínhamos visto isto antes”. A motivação dos botos cor-de-rosa permanece um mistério, mas urinar para o ar é sem dúvida uma forma única de comunicação sentida e não cheirada.

Uma equipa de biólogos canadianos descobriu recentemente um comportamento bastante invulgar nos botos da Amazónia, também conhecidos como botos cor-de-rosa: foram apanhados a urinar para o ar.

Já sabíamos que estes golfinhos sabem usar ferramentas e envolver-se em brincadeiras, mas agora alguns machos foram vistos na selva amazónica a nadar de barriga para cima até à superfície da água e a protagonizar algo inédito de seguida. Num movimento rápido e calculado, inclinavam o corpo e libertavam um fino jato de urina para o ar. Outro golfinho macho nadava, fascinado, em direção ao jato, e punha-se debaixo do ‘xixi’.

“A micção aérea começa com um boto a posicionar-se lentamente de cabeça para baixo, expondo o seu pénis acima da água e ejetando um jato de urina para o ar. Quando está presente um macho ‘recetor’, este aproxima-se do jato de urina com o seu rostro [focinho do golfinho], por vezes perseguindo-o, ou permanece no local onde o jato entra em contacto com a água”, relatam os investigadores citados pela New Scientist., que documentaram o comportamento 36 vezes.

Ficámos chocados, pois nunca tínhamos visto isto antes“, contou a autora do estudo, Claryana Araújo-Wan.

A finalidade do comportamento continua a ser um mistério, embora os cientistas tenham algumas teorias. Embora se saiba que os animais usam a urina para comunicar, marcar território e até para criar laços sociais, a razão exata para este ‘xixi voador’ ainda é especulativa.

Os investigadores acreditam que o comportamento dos golfinhos pode ir muito além de uma simples necessidade física de se aliviarem. Em estudo publicado este mês na Behavioural Processes, os biólogos sugerem que pode ser uma forma de comunicação entre os golfinhos machos, possivelmente como sinal de amizade, domínio ou mesmo falta de agressividade.

É de notar que os golfinhos não possuem órgãos olfativos funcionais, o que torna os comportamentos de marcação de odores menos prováveis. Em vez disso, os botos poderão estar a utilizar um método de comunicação diferente, potencialmente baseado na deteção de substâncias químicas “hápticas” ou baseadas no toque.

Os golfinhos têm cerdas sensíveis no focinho, o que os poderia ajudar a “ler” a composição química da urina à medida que esta lhes chega à pele. Isto permitir-lhes-ia captar sinais químicos, tornando o ato de urinar uma forma única de comunicação que é sentida e não cheirada. O ato de urinar no ar também parece ocorrer mais frequentemente quando outros machos estão presentes, o que aponta para a sua importância social.

Tomás Guimarães, ZAP //

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