O candidato Marques Mendes já não é militante do PSD e tem apoio de um autarca do PS

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José Coelho / LUSA

Marques Mendes apresenta candidatura à presidência da República

Na apresentação da sua candidatura à presidência da República, foram anunciados 6 compromissos para o país e recados a Gouveia e Melo: “Não é tempo de tiros no escuro”.

Luís Marques Mendes é oficialmente candidato à presidência da República.

A candidatura foi apresentada nesta quinta-feira em Fafe (distrito de Braga), a terra onde cresceu e iniciou a sua vida política, no auditório de um lar com o nome do seu pai, António Marques Mendes, com capacidade para cerca de 200 pessoas – mas muitas pessoas de pé.

O candidato defendeu que o cargo de chefe de Estado deve ser exercido por quem tem experiência política, avisando que os tempos não recomendam “aventuras, experimentalismos ou tiros no escuro”.

Marques Mendes – que já foi deputado, autarca, ministro de quatro governos e líder do PSD – fez questão de destacar a sua experiência política como uma mais-valia para o cargo de Presidente da República.

“O cargo de Presidente da República é um cargo eminentemente político. Assim sendo, deve ser exercido por quem tem experiência política. Não existe uma Presidência sem política”, afirmou, considerando que nas presidenciais de janeiro de 2026 “a questão é que tipo de política deve guiar a Presidência”.

O antigo líder parlamentar considerou que, em tempos de incerteza mundial e nacional, “com um parlamento mais polarizado, dividido e fragmentado do que nunca”, exigem-se duas condições ao chefe do Estado.

“O tempo que vivemos nem aceita política sem princípios, nem recomenda política sem experiência. Não é tempo de aventuras, experimentalismos ou tiros no escuro“, disse, numa altura em que as todas as sondagens colocam na frente o almirante Henrique Gouveia e Melo, antigo chefe de Estado Maior da Armada, que nunca exerceu qualquer cargo político.

Cartão do PSD e 6 compromissos

Marques Mendes anunciou que entregou o seu cartão de militante do PSD como sinal de compromisso com “uma magistratura de isenção” e pediu mais mecanismos éticos nos partidos e no parlamento.

Luís Marques Mendes apresentou-se com seis compromissos ao país, sendo o primeiro o de “unir Portugal” e o segundo com a ética.

“Quero ser Presidente de todos os portugueses. Os do interior e do litoral, do Continente, das Regiões Autónomas e da diáspora. Os que votarem em mim ou os que optarem por outras candidaturas. Todos são portugueses, todos me merecem o mesmo respeito e todos devem ser tratados de forma igual. Por isso também, hoje mesmo, entreguei o meu cartão de militante do PSD”, anunciou.

O antigo líder social-democrata entre 2005 e 2007 justificou o gesto “não por renegar origens e convicções”: “Isso nunca farei. Mas, para num ato simbólico, reafirmar o meu compromisso com uma magistratura de isenção, independência e imparcialidade”, disse.

O atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, suspendeu a militância no PSD logo no dia 9 de março de 2016, quando foi eleito para o primeiro mandato.

Em segundo lugar, o candidato referiu o compromisso com a ética política, lembrando a sua decisão, nas autárquicas de 2005, “afastar alguns autarcas” do PSD “em nome da ética e da credibilidade”, numa alusão aos casos de Isaltino Morais e Valentim Loureiro.

“Parece um gesto banal, mas a verdade é que ninguém o tinha feito antes e ninguém o fez depois. Hoje, 20 anos volvidos, é preciso ir muito mais longe”, defendeu,

Em concreto, o candidato disse ser necessário “reavaliar as leis eleitorais, alterando o método de escolha dos deputados”, “rever o funcionamento dos partidos, para que criem dentro de si órgãos de natureza ética, à semelhança do que já dispõem nos planos disciplinar e financeiro” e que o parlamento “disponha de instrumentos para poder suspender deputados que têm comportamentos desviantes, chocantes e eticamente censuráveis”.

“É preciso mais cuidado, muito mais cuidado e exigência na escolha de titulares de cargos públicos, sejam diretores executivos, gestores ou responsáveis políticos. A degradação política e falta de decência que há anos se vive em Portugal não é aceitável. Sejamos claros: as eleições legitimam um político, mas não o dispensam da ética. Pelo contrário, reforçam a sua exigência”, disse, recordando a frase do fundador do PSD Francisco Sá Carneiro de que “a política sem ética é uma vergonha”.

O candidato presidencial defendeu que “não chega falar de ética”.

“É preciso aplicá-la. O Presidente da República não faz leis, mas tem de intervir para fazer esta pedagogia democrática. É essencial inverter a degradação que atinge a nossa democracia, é mesmo obrigatório”, considerou.

Marques Mendes resumiu a sua candidatura como “assente em valores”, como os da liberdade, democracia, verdade, mas também “da cooperação com o Parlamento, com o Governo e com os partidos da oposição, na defesa dos grandes valores constitucionais”, e da “proximidade com a sociedade civil e as suas instituições”.

Por outro lado, apontou a sua como uma candidatura orientada por desafios, como o da esperança, deixando uma palavra aos jovens, ou o da ambição.

“Portugal não é na UE um país pequeno ou irrelevante. Somos um país médio. E há países mais pequenos do que nós que são grandes exemplos de sucesso. A ambição tem de ser um dos nossos grandes desafios”, reiterou.

Por último, o desafio da segurança, que disse dever ser construído “em torno do Estado Social”.

“Há transformações a fazer na sociedade. Mas nunca à custa do Estado Social, das prestações sociais, dos pensionistas e reformados, da educação ou da saúde pública. É preciso equilíbrio e sensibilidade social”, frisou.

Ex-ministros e PS

Os ex-ministros do PSD Miguel Macedo e Silva Peneda marcaram presença na sessão de apresentação da candidatura presidencial de Marques Mendes, que chegou a Fafe acompanhado da mulher.

Luís Marques Mendes foi recebido com aplausos e, aos jornalistas, justificou a escolha do local pela ligação afetiva.

Além de Miguel Macedo e Silva Peneda, também marcaram presença o antigo autarca e eurodeputado Álvaro Amaro, o líder da distrital do PSD de Vila Real e presidente da Câmara de Boticas, Fernando Queiroga, o presidente da concelhia do PSD de Fafe, Rui Novais, e o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio.

Também a irmã, Clara Marques Mendes, atual secretária de Estado da Ação Social e da Inclusão, marcou presença em Fafe, local onde Marques Mendes cresceu e iniciou a sua vida política.

Aos jornalistas, Miguel Macedo disse que esta candidatura de Marques Mendes é “evidentemente um ato de vontade própria”.

Considerando que Marques Mendes fez bem em candidatar-se à Presidência da República, o ex-ministro referiu que este tem todas as possibilidades para ser eleito.

Na sua opinião, para assumir o cargo é preciso muita experiência política, sobretudo num período em que há em Portugal, como em muitos países da Europa, uma enorme fragmentação do espetro parlamentar.

Marques Mendes já tinha dito à Lusa não ter feito convites a ninguém, à exceção do presidente da Câmara de Fafe, o socialista Antero Barbosa, ficando para futuras sessões a presença de figuras nacionais do PSD.

Antero Barbosa afirmou que Portugal precisa de uma pessoa com o perfil e valores de Luís Marques Mendes na Presidência da República.

“Considero que Portugal precisa na Presidência da República de uma pessoa com o seu perfil, com a sua elevada experiência, com os seus amplos conhecimentos da vida política e com provas dadas de dedicação plena às causas da liberdade e da democracia”, disse o socialista.

Antero Barbosa, apesar de ser do PS, disse que Marques Mendes pode contar com o seu apoio e o de Fafe. “E espero que possa contar com Portugal e com os portugueses para a sua eleição”, apelou.

ZAP // Lusa

5 Comments

  1. … “recados a Gouveia e Melo: “Não é tempo de tiros no escuro””. Arrogância q.b. de um sujeito que pensa que ao entregar o cartão de militante do PPD se afasta do seu partido. Com o mesmo percurso de comentador na TV que o actual pR, do mesmo partido, topa-se a “isenção” dele se por azar dos portugueses, for eleito pR…

  2. A entega do cartão do partido, não é senão um certificado de estupidez aos portugueses.
    Do mesmo padece a referência ao apoio de um autarca do P. S., como se se tivesse convertido à esquerda, ou se se o cartão tivesse perdido ou renunciado aos apoios do PSD.
    Sabem que mais? Deixem-se de filmes e tretas para distrair totós com as presidenciais, a um ano de distância, como se não houvesse assuntos atuais, prioritários e de superior importância
    De nada interessam aos portugueses as presidenciais se, por falta de garantias na saúde, correrem risco de vida antes de as eleições acontecerem.
    (sendo que os problemas graves atuais não se esgotam nos domínios da saúde).

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