Atriz de “Emilia Pérez” arrisca perder as 13 nomeações ao prémios de cinema. A brasileira Fernanda Torres também recebeu críticas — fez-se passar por negra num programa televisivo… há 20 anos.
“Emilia Pérez” é o filme com mais nomeações para a edição de 2025 dos Óscares, que terão lugar em março: soma 13.
Entre eles, a nomeação para melhor atriz destaca-se por ser a primeira atribuída a uma mulher transexual, a espanhola Karla Sofía Gascón.
No entanto, agora, a atriz está a ser alvo de duras críticas por antigas publicações nas redes sociais na sua conta no X/Twitter, em que a atriz parece expressar opiniões controversas sobre muçulmanos, George Floyd e diversidade nos Óscares. Há quem queira mesmo tirar-lhe a nomeação.
De acordo com a Variety, a maior parte das declarações polémicas de Gascón nas redes sociais datam de 2020 e 2021. A jornalista Sarah Hagi foi quem descobriu os tweets, a maioria deles eliminados pela atriz esta semana.
Num deles, por exemplo, é possível ler-se: “Desculpe, mas é só impressão minha ou há mais muçulmanos em Espanha? Sempre que vou buscar a minha filha à escola, há mais mulheres com o cabelo tapado e as saias até aos calcanhares. No próximo ano, em vez de inglês, vamos ter de ensinar árabe“. Chega mesmo, noutro tweet, a afirmar que a religião “deve ser proibida enquanto não cumprir os direitos humanos”.
Noutro post, chama a George Floyd, que se tornou o rosto do movimento #BlackLivesMatter após ter sido assassinado por um polícia em 2020, um “vigarista toxicodependente”. Agora, nas redes sociais, a atriz é chamada de racista.
Também se encontram críticas aos Óscares em posts da atriz: “Cada vez mais os Óscares parecem uma cerimónia para filmes independentes e de protesto, não sabia se estava a assistir a um festival afro-coreano, a uma manifestação do Black Lives Matter ou ao 8M”, escreveu no X. “Para além disso, uma gala feia, feia”.
Em 2020, também fez críticas às vacinas contra a covid-19. “A vacina chinesa, para além do chip obrigatório, vem com dois rolinhos primavera, um gato que mexe a mão, 2 flores de plástico, uma lanterna pop-up, 3 linhas telefónicas e um euro para a sua primeira compra controlada”, publicou.
O descontentamento do público em geral surge também com a própria realização da película.
Nas redes sociais, chovem críticas ao facto de o filme, que pretende retratar a cultura mexicana, ter sido gravado, na verdade em Paris. O facto foi comentado, inclusivamente, pelo realizador mexicano Rodrigo Prieto, que achou o facto “problemático”.
O desagrado com a atriz começou, explica a BBC, no início desta semana, quando Gascón se queixou numa entrevista que a equipa das redes sociais que trabalhava com Fernanda Torres, nomeada para melhor atriz por “Ainda Estou Aqui”, filme brasileiro de Walter Salles, estava a “deitá-la a si (Gascón) e a Emilia Pérez abaixo”.
Ficou a impressão de que Gascón tinha atacado uma concorrente de uma forma que ia contra o espírito dos Óscares. Desenterraram-se então todos os tweets polémicos, que, segundo especialistas, podem (mesmo que não retirem as nomeações ao filme) acabar com as suas chances de ganhar o prémio.
Empregada doméstica negra? Fernanda Torres “lamenta”
Por seu lado, a também nomeada para o papel de melhor atriz, Fernanda Torres, também viu contra si uma onda de agitação quando começou a circular, este mês, um vídeo seu com quase 20 anos, em que aparece a fazer “blackface” num programa de televisão brasileiro.
“Blackface” ocorre quando uma pessoa se faz passar por negra através de caracterização, quando não o é, na realidade. Num episódio de “Fantástico”, interpreta uma empregada doméstica negra, tendo pintado o seu corpo com tinta mais escura do que o tom da sua pele.
De acordo com a CNN Brasil, a atriz já veio a público pedir desculpa pelo sucedido. “Há quase 20 anos, eu apareci a usar blackface numa comédia de um programa de TV brasileiro. Lamento imensamente por isso. Estou a fazer esta declaração porque é importante para mim abordar isso rapidamente para evitar mais dor e mal entendido”, escreveu numa declaração.
“Naquela época, apesar dos esforços dos movimentos e organizações negras, a consciência sobre a história racista e o simbolismo do blackface ainda não havia alcançado o entendimento do público geral no Brasil”, escreveu ainda.
“Graças a uma melhor compreensão cultural e conquistas importantes, embora incompletas, neste século, está muito claro agora em nosso país e em todos os lugares que o blackface nunca é aceitável“.