O mistério de uma garrafa com 200 anos foi resolvido. Não era uma garrafa de bebidas, mas sim uma “garrafa de bruxa” cheia de urina e de uma série de plantas para afastar espíritos malévolos.
A garrafa, ainda intacta com a rolha original e cheia de líquido, foi desenterrada num estaleiro de construção na cidade costeira da Cleethorpes, em Lincolnshire, no Reino Unido.
Segundo o IFL Science, o proprietário da propriedade entregou-a ao departamento de Conservação do Património Cultural da Universidade de Lincoln com dois pedidos: preservar o objeto e identificar o líquido contido na garrafa sem retirar a rolha.
“Recebi o e-mail com o pedido de informação sobre a garrafa há cerca de um ano e fiz questão de o aceitar como projeto de estudante. Recebemos inúmeros pedidos de informação sobre objetos muito variados, mas nunca tínhamos aceite algo como este”, disse Josephine McKenzie, Técnica Superior do departamento de Conservação do Património Cultural”.
“É realmente um objeto fascinante e raro“, acrescentou McKenzie.
A tarefa foi assumida por Zara Yeates, uma estudante do terceiro ano de licenciatura, que se sentiu imediatamente atraída pelo estranho artefacto.
As garrafas de bruxa fazem parte de uma tradição popular dos séculos XVIII e XIX que consiste em colocar garrafas de vidro em casa como talismãs para afastar os maus espíritos.
São mais comuns no Reino Unido, embora a tradição tenha atravessado o Atlântico e chegado também aos Estados Unidos.
Nesta parte do Reino Unido, as garrafas contêm muitas vezes objetos como pequenos ossos de animais, pregos de ferro, aparas de unhas e outros materiais ligados à superstição e à crença na magia simpática.
Para determinar se a garrafa continha algum destes materiais simbólicos, o que sugeriria que se tratava de uma verdadeira garrafa de bruxa, Yeates efetuou uma radiografia da relíquia. Para sua surpresa, a garrafa não continha nenhum objeto sólido de grandes dimensões — principalmente apenas líquido com pequenas quantidades de sedimentos.
Isto levou Yeates e a sua equipa a especular se o objeto estaria de acordo com uma tradição semelhante em East Anglia, uma região vizinha de Lincolnshire, onde as garrafas de bruxa eram enchidas com urina e plantas, tais como folhas, ervas ou flores.
A utilização da análise XRF (flurescência de raios X) e de imagens multiespectrais permitiu confirmar estas suspeitas: a garrafa continha fluido corporal e pequenas quantidades de material vegetal degradado.
A explicação mais provável é que a garrafa era uma garrafa de bruxa inspirada nas tradições da vizinha East Anglia.
Em alternativa, pode refletir uma prática diferente comum entre os marinheiros, em que uma garrafa cheia de urina era enterrada em casa como medida supersticiosa para garantir um regresso seguro das suas viagens.
Yeates disse que os construtores que encontraram a garrafa pensaram que continha rum e estavam a planear bebê-la — por isso, independentemente da função original da garrafa, é bom que não o tenham feito.
Segundo a BBC, esta forma particular de garrafa foi introduzida em 1790 e a sua irregularidade indica que foi soprada à mão. Uma vez que os moldes para fabricar garrafas só foram introduzidos em 1840, isto implica que a garrafa foi fabricada durante este período de 50 anos, no início do século XIX.
O mistério da garrafa está resolvido, mas a sua aventura continua. Depois de ser conservado por Yeates, o artefacto será exposto na exposição de final de curso de Conservação do Património Cultural da Universidade de LincoIn, em junho de 2025, antes de ser devolvido ao seu proprietário.