O jovem que matou três crianças e feriu outras 10 pessoas em Southport, no noroeste de Inglaterra, em julho do ano passado, foi condenado a uma pena de 52 anos de prisão, mas “é provável que nunca seja libertado” – disse o juiz.
Axel Rudakubana tinha 17 anos quando, em julho, atacoun uma aula de dança na cidade costeira de Southport, matando raparigas de seis, sete e nove anos e ferindo outras oito crianças e dois adultos.
Uma das crianças, Alice da Silva Aguiar, de 9 anos, era portuguesa.
O assassino foi condenado, esta quinta-feira, a uma pena de 52 anos de prisão, mas, segundo o juiz, “é provável que nunca seja libertado”.
O juiz Julian Goose disse que não podia impor uma pena de prisão perpétua sem liberdade condicional, porque Rudakubana tinha menos de 18 anos quando cometeu o crime.
Foi, assim, aplicada uma pena de 52 anos, menos os seis meses em que esteve detido, antes de ser considerado para liberdade condicional, e “é provável que nunca seja libertado”, acrescentou.
Axel foi acusado de três homicídios, dez tentativas de homicídio e acusações adicionais de posse de uma faca, de veneno rícino e de um manual da Al-Qaeda.
Durante a leitura da sentença, no Tribunal Penal de Liverpool, o juiz afirmou que Axel atacou as crianças com “violência extrema e horrível” e cometeu “um homicídio em massa de crianças jovens e felizes”.
“Foi uma violência tão extrema de tal gravidade que é difícil compreender porque o fez. Tenho a certeza que Rudakubana estava queria cometer estes crimes e que, se pudesse, teria matado cada uma das 26 crianças e os adultos que se atravessassem no seu caminho”, vincou.
Os assassinatos desencadearam dias de violência anti-imigração em todo o país, depois de ativistas de extrema-direita terem aproveitado informações incorretas segundo as quais o atacante era um requerente de asilo que tinha chegado recentemente ao Reino Unido. Outros sugeriram que o crime era um ataque jihadista e alegaram que a polícia e o governo estavam a ocultar informações.
Mais de 1.200 pessoas foram detidas por causa dos distúrbios e centenas foram condenadas a penas de prisão até nove anos.
No dia do crime
Axel, armado com uma faca, entrou num evento numa escola de dança inspirado pela artista norte-americana Taylor Swift e começou a esfaquear as raparigas e a sua professora.
Foi mostrado ao tribunal um vídeo do suspeito a chegar ao Hart Space num táxi e a entrar no edifício. Em segundos, ouviram-se gritos e as crianças correram para o exterior em pânico, algumas delas feridas.
Uma rapariga conseguiu chegar à porta, mas foi puxada para dentro pelo agressor. Foi esfaqueada 32 vezes, mas sobreviveu.
A procuradora Deanna Heer descreveu como o ataque ocorreu no primeiro dia das férias de verão, quando 26 meninas estavam “reunidas à volta das mesas a fazer pulseiras e a cantar músicas da Taylor Swift”.
“O seu único objetivo era matar e tinha como alvo os mais jovens e os mais vulneráveis da sociedade”, acrescentou a procuradora, enquanto os familiares das vítimas assistiam na sala de audiências.
Heer disse que quando foi levado para uma esquadra da polícia, Rudakubana foi ouvido a dizer: “Ainda bem que aquelas crianças estão mortas, estou tão contente, estou tão contente”.
Axel nasceu em Cardiff, no País de Gales, filho de pais cristãos do Ruanda, e os investigadores ainda não conseguiram determinar o motivo por detrás do ataque.
A polícia encontrou nos seus dispositivos documentos sobre temas como a Alemanha nazi, o genocídio no Ruanda e carros armadilhados.
Uma das crianças mortas no ataque em Southport tinha nacionalidade portuguesa. Os pais são originários da Região Autónoma da Madeira.
A criança portuguesa, que nasceu em 15 de outubro de 2014, estava inscrita no Consulado de Portugal em Manchester.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, considerou que este caso é um exemplo de como o país enfrenta “uma nova ameaça de terrorismo” de ataques violentos protagonizados por jovens solitários, e prometeu novas medidas.
O Governo anunciou um inquérito sobre o caso para determinar por que razão Axel Rudakubana não foi inscrito num programa oficial de combate à radicalização, tendo em conta que foi avaliado três vezes pelas autoridades devido à sua obsessão pela violência.
ZAP // Lusa